quinta-feira, 28 de junho de 2018

Não ganhamos desta vez





Boa noite amiguinhos.
Como vocês estão? Espero que cada um que esteja lendo isso esteja bem de verdade.
Hoje foi um dia difícil, finalmente consegui juntar a coragem e o tempo para ir no cartório atrás da retificação dos documentos, ou seja, colocar meu nome social em todos os documentos.

Levante ansioso demais, nervoso, fumei dois cigarros de uma vez, minhas mãos estavam suando e o coração batendo forte, os pensamentos estavam começando a chegar um a um, lembrei de uma conversa gostosa que tive com a minha mãe, sobre por um tempinho, tomar algumas gotas de calmante para enfrentar as situações que não consigo sozinho, tomei 4 gotas, tomei banho, vi um pouco de TV, tomei café e fui pro carro.

Eu estava muito mais calmo, era como se eu tivesse indo fazer alguma coisa do dia a dia, simples.
Deixei o carro 4 quadras pra baixo, o único estacionamento que lembrei que tinha por ali que aceitava cartão, quando desci do carro, ascendi um cigarro e fui caminhando até o cartório.

Lembrei quando eu morava na tito e tínhamos uma dupla de gatinhas pretinhas, eu era novinho, sei lá, acho que uns 10 anos e como eu adorava brincar com elas, de futebolzinho, eu tirava a camisa (meus peitos não tinham crescido ainda) e meu Deus do céu, como eu era feliz, eu não tinha que lidar com nada disso ainda, eu me sentia livre, pode parecer bobeira para vocês, mas aquela sensação gostosa de estar sem camisa, de poder correr pela sala sem os peitos pulando pra lá e pra cá, era incrível demais, eu me sentia bem comigo mesmo.

Me lembrei também de uma vez que eu estava na calçada andando de skate com meu vizinho Zé Roberto, era de noite já, eu estava com um moletão folgado, não dava para ver direito meus peitos, eu estava de capuz e a luz da rua estava fraca, meu pai voltando do trabalho, logo em seguida entrei também, já estávamos cansados, ouvi meu pai dizendo para minha mãe que havia me confundido com um garoto, como minha mãe não lembra de quase nada de coisas que aconteceram anos atrás, ela não vai lembrar disso, mas eu tenho certeza absoluta que aconteceu, eu me lembro como eu fiquei feliz, o ruim é que eu não podia demonstrar isso para ninguém, pois ninguém iria conseguir entender e eu não saberia explicar, então, é um momento, um breve momento que gosto de guardar dentro de mim, como eu estava feliz naquela noite.

Mas como nem tudo é perfeito, veio os pensamentos ruins também, a maioria são aqueles que já citei nos post por aqui, mas continuei andando, eu tenho certeza absoluta que eu quero isso, mas ninguém entende que é preciso de muita coragem, afinal, vivemos em país que mais mata transexuais no mundo e isso já foi provado!

E lá estava eu, o primeiro da fila, quase me borrando nas calças, mas continuei firme, forte, espantando os pensamentos ruins, pensando em como eu serei feliz...
O problema é que não deu certo, eles me pediram outras documentações, por um lado, sinto que isso é enrolação já que é um procedimento completamente novo e não é todo mundo que aceita isso, mas por outro lado resolvi dar a cara a bater, assim que eu conseguir algumas horinhas fora do trabalho de novo, irei atrás disso, pegarei tudo o que pediram, voltarei naquele cartório e quero ver que desculpa vão dar.

Eu sai daquele cartório tão triste, tão chateado, me sentindo tão derrotado, como se esse país transfóbico tivesse vencido, me dado uma surra e jogado ladeira abaixo, voltei para o carro e parti para o trabalho.

Sei lá, os que sabiam que eu tinha ido tentar, nada falaram.
Esperava que alguém me desse palavras de força, incentivo ou um abraço.
Esperava que alguém me ajudasse a me levantar novamente.

Ninguém.

Então fiz o que sempre faço, meti a cara no trabalho e só saia da mesa pra fumar.
Fiquei quieto, na minha, até terminei de fazer algumas coisas que eu estava enrolando.
Eu esperava que qualquer coisa fosse dita, uma mão estendida.

Ninguém.

7 pessoas sabiam e ninguém disse nada.
Mas não vou ficar me remoendo por isso, bola pra frente.
E mesmo não tendo ninguém ali para me levantar, eu sempre continuarei por perto para levantar os que precisam, isso não muda, mas pelo menos eu já sei que quando algo acontecer novamente, já não esperar que algo seja dito.

Enfim, amiguinhos, fiquem tranquilos.
A guerra ainda não acabou.

Abraços,

Pedro.

sábado, 23 de junho de 2018

Cartas para ele...


E aqui vamos nós mais uma vez...
Fico feliz por ter pensando neste blog para desabafar, pq por mais que eu tenha amigos e alguns deles ainda estejam me escutando, não acho que estão compreendendo o que quero dizer.
Então...

Querido Pedro,
Como você está? Como esta ai no portãozinho da nossa alma, onde você se enfiou já fazem quase 2 meses?
É tudo muito muito estranho, porque quando eu acho que chegou a hora de você sair dai, vir tomar seu lugar, vestir sua camisa e viver o restante da sua vida e eu deixar de existir oficialmente e para sempre, acontece alguma coisa e muda tudo, eu paro no meio das escadas que me levam a você e começo subir tudo de novo.

Eu sei que esta ruim ai, que você tem se sentido muito sozinho.
Que você tem implorado para existir.
Eu sei que você esta com medo, que você quer que acaba isso logo.
Eu sei que esta escuro e silencioso ai.
Que você esta muito triste, bem deprimido.
Eu sei disso tudo e eu juro a você que eu queria terminar essas escadas, abrir a porta e com um único sorriso você saberia que chegou a sua vez e tenho certeza que você me abraçaria, mais forte desta vez porque seria a última, vc me agradeceria e eu diria q foi um prazer, então com os olhos cheios de lágrimas de felicidades, vc subiria a escada correndo rumo a sua vida para sempre.

Mas como eu posso fazer isso se nós vivemos uma vida de culpa?
Mesmo quando a culpa não é nossa, a gente sofre como se fosse?
A gente acredita tanto que é que chega a ser real dentro da nossa cabeça?
Eu até pensei em perguntar para a nossa prima Andreia sobre isso, ela que é Terapeuta Ocupacional, deve saber algo sobre isso, deve ser algum distúrbio, porque viver acreditando de verdade que todas as coisas ruins que acontece é nossa culpa, é horrível demais da conta, suga a nossa alma e sinceramente, isso deve ter alguma cura, não é possível não, sabe?
Toda época a gente sofre por uma consequência, um fato, que leva a culpa que não é nossa e por isso a gente vai sempre adiando a vida, a nossa vida, a sua vida e não é justo.

Como podemos nos culpar do câncer da vó, Pedro?
Ter câncer é algo que nós nunca poderemos entender porque isso acontece, nunca.
Nós só podemos rezar para que encontrem a cura logo, para que a quimio não seja mais a única opção, não tem nada que possa ser feito.
Eu sei que é mais fácil pensar assim ou que a culpa é dela porque sabia disso há muito tempo e não foi atrás de ir aos médicos e tal, que se ela tivesse feito as coisas do jeito certo, lá trás, quando ficou sabendo, quando estava no inicio, poderia ser muito diferente agora,mas...

Pedro, quando ela tem dias ruins, esquece as coisas ou fala coisas sem sentidos a gente se culpa também, a gente se culpa quando ela não come, nos culpamos quando vimos que ela emagreceu de novo, nos culpamos quando qualquer coisa acontece desde a pequena até a maior de todas elas.
E sabe o que é pior que tudo isso?
Saber que nunca vai parar.
Saber que a gente se culpa assim dia e noite e não tem nada que alguém possa falar pra nos aliviar.
E a gente vai sempre adiando a sua vinda.
Até quando vamos adiar?
Quando vc será permitido viver?
Quando será libertado dessa escuridão?
Nunca?
Estamos desistindo novamente?
Sempre será só nós dois, não é?

Lembra no colégio, que a gente dava aqueles dois reais que a mãe dava pra gente lanchar, para uma menina pra ela nos fazer companhia pq não queríamos ficar sozinhos e não tínhamos amigos?
Pagando para ter companhia... A que ponto tínhamos chegado...
Sempre fomos sozinho sé? Incompreensíveis digamos, com medo do ser humano, do mundo.

Estávamos decididos que íamos no cartório esta semana, íamos dar o penúltimo passo.
Mas como poderíamos se nem conseguimos dormir direito de tanto que a gente pensa na culpa que não é nossa? De quanto que a gente deixa que os pensamentos massacrem a gente?
De todos os dias olhar para a vó e ver que ela tem cada vez menos tempo?
Como lidar com tudo isso?

Acho que esse é um dos grandes motivos que a gente sente falta daquela pessoa, vamos chama-la de Chloe, a personagem do jogo que gostamos, porque bastava uma mensagem para Chloe dizendo que a gente estava muito mal, como se estivemos na beira de um abismo, ela respondia dizendo para encontra-la na paulista dentro de uma hora, que íamos tomar café e conversar sobre isso e a gente fazia isso a tarde inteirinha, indo embora quase no fim da noite, mesmo sabendo que a gente tinha que trabalhar no dia seguinte, ela era o nosso porto seguro... Ou as vezes a gente só andava pelas ruas da cidade até cansar, sem rumo exato, era como uma terapia, pq a gente sabia que ela sempre estaria ali, como nós estávamos para ela tbm quando precisava, era essa troca, ela nos ajudava e a gente tentava ajudar ela também, era tão bom, tão gostoso, era mais fácil, a gente não discutia tanto, ela tentava nos explicar o seu ponto de vista e a gente tentava entender e quando não entravamos em um acordo, ela desistia, o clima ficava chato, mas alguns minutos depois estávamos bem.

É engraçado, porque mesmo sabendo todo o bem que ela nos fez, todas as vezes ela nos salvou, nos tirou da beira do abismo, nos fez ver a vida de outra maneira, não queremos encontrar ela novamente, ela foi uma pessoa tão importante e tão especial, que mesmo 2 anos terem se passado, a gente não consegue lidar com o fato dela ter ido embora, sem mais e sem menos, sem se despedir, sem avisar, sem deixar uma carta, sem nada. Ela apenas foi embora, infelizmente, por causa de uma paixão cega por um cara que ainda trabalha na mesma empresa que eu e todos os dias quero poder dar uma surra nele, mas acho que no fim das contas, ele não tem culpa.
Talvez nem ela, apaixonados fazem isso mesmo desde a época da pedra, o problema somos nós que temos essa mania de achar que não iremos conseguir sem ela, vem capaz, a gente já conseguiu chegar até aqui sozinho mesmo, pq não conseguir o restante?

Deveríamos aceitar o fato de que perdemos?
De que essa loucura dentro da nossa mente que nos faz sentir culpados por tudo venceu?
A guerra acabou?

Nem precisamos contar aos nossos leitores o quanto ficamos chateado com a mãe ontem quando ela falou que a gente se esconde "no rabo de saia da mãe", não é?
Aquilo foi ridículo demais, porque parte desses intermináveis dias que estamos adiando nossa felicidade, foi por causa dela também, daquele ano que a gente nem se falava mais, daquele ano que eu desejava ter morrido a ter que encarar tudo isso.
Nada na vida é tão fácil quanto aparenta ser e isso é fato!
Por exemplo, imagina se a gente da mais um passo rumo a felicidade e a minha avó piora ou tem q ficar internada de novo? Imagina como a nossa consciência vai nos castigar com esse lance de culpa, se ela morre, eu não sei o que sobra da gente, é tudo muito louco, é complicado, é embaçado, não é simples não, porque não envolve só nós, é algo que envolve todos os que estão próximos.
Minha mãe que acha que é tudo fácil nem conseguiu te chamar pelo nome ou me tratar no masculino quando a vó não estava aqui e ainda duvido que ela vá olhar para nós da mesma maneira que olha agora quando tudo tiver mudado completamente.

Estou cansado, Pedro.
Sei que você também está.
Será que isso um dia termina?
Será que seremos livres?
Será que existirá o dia em que poderemos gritar ao mundo que vencemos?
Ou vamos só sobreviver aos dias?

Eu sei que a gente não pode reclamar, temos trabalho, comida na mesa, uma família maravilhosa e alguns bons amigos, que nem tudo é perfeito, mas... Paz de espirito tem que ser tão caro assim?
Se não estamos matando, roubando, estuprando, vendendo drogas, porque não podemos ser nós mesmos?
Porque a família não se junta e não me ajuda a contar pra avó logo antes que ela descubra por si só e passe mal pra gente se culpar mais ainda?

Por que somos tão covarde?
No lugar do nosso cérebro tem outro coração?
Pq não é possível uma coisa dessa.
Não pode ser.
32 anos nas costas e a mesma covardia de sempre.
O mesmo garitinho medroso.

Ah Pedro...
Ah!


sábado, 16 de junho de 2018

Post de hoje.


Bom dia amiguinhos.
Como vocês estão?
Eu sempre vou torcer para que estejam bem.

Primeiro, devido algumas pessoas acharem que o post anterior em que falei sobre que tem uma pessoa que me decepcionou tanto quando virou as costas quando mais precisei são sobre elas, quero deixar claro que não é ninguém da família, nem amigos ou colegas. Não é ninguém que esteja atualmente na minha vida, sério, ninguém da família, ok?

É uma pessoa que foi uma amiga minha, que eu ajudei muito no decorrer dos anos e quando precisei, não tive ajuda, mesmo dizendo que eu pagaria por esse favor.
Então, se vc esta pensando que é vc, esqueça, só posso dizer que o nome dela, sim, é uma mulher, o nome dela começa com M, então relaxem e se seu nome começa com M e vc acha que foi vc, basta perguntar, não fique chateado por uma coisa que nem pode ser vc.
A família ajudou muito, amigos ajudaram, cada um como podia. Então esta tudo bem.

Agora que estamos acertados, quero falar sobre três coisas que me deixaram chateado de ontem para hoje e eu sou adulto agora, tenho que lidar com isso, mas ser adulto não me faz menos humano e muito menos deixo de ser sensível. E para não choramingar no ouvido dos meus amigos, vim contar para vocês, não tenho respostas, mas ao menos eu desabafo escrevendo aqui, afinal, a existência desse blog é exatamente esse.

Primeiro foi um colega de trabalho ontem que enquanto um falava comigo e pedi para repetir pq eu não havia entendido, pelas minhas costas o outro estava fazendo deboche e eu peguei no flagra, como ele não esperava que eu fosse tão rápido, ele tentou disfarçar, mas não deu. Eu sou completamente aberto a brincadeiras, claro que tem algumas que eu não consigo engolir muito bem, mas debochar sobre minha deficiência auditiva é extremamente grosseiro, afinal, todos os deficientes não tem qualquer culpa por terem nascido assim, ter que viver e morrer assim.
Ninguém sabe o quanto sofri no colégio com deboche sobre isso, afinal, adolescente são muito ruins, não estou dizendo que eu não fui ruim, sim, eu fui muito ruim, mas eu nunca debochei da deficiência de alguém e espero que Deus nunca permita que eu faça isso com alguém algum dia, porque se a vida já é difícil para aqueles que não tem deficiência, imagina para os que tem, que tem que ficar lutando em dobro e muitas vezes, dependendo da deficiência, passar a vida dependendo de outro ser humano.
É muito ruim.
Só acho que as pessoas deveriam tomar consciência disso, pensar um pouco melhor sobre os danos que uma simples brincadeira, sobre um assunto tão sério, pode causar.
Eu espero que se um dia essa pessoa tiver filhos, nenhum deles tenham deficiência, a criança não merece que o pai ou a mãe aprendam sobre isso ou amadureçam para então entenderem a gravidade e delicadeza do assunto.
Mas tudo bem, estou bem, é que achei que estava livre desse tipo de brincadeira.
Mas parece que é algo que vai perseguir a minha vida inteira, então bora voltar a trabalhar a aceitação.

Outra coisa que me deixou super chateado, foi quando fui no banheiro ontem, na padaria que eu estava com a minha amiga, porque assim, em público, eu não uso banheiro masculino, porque tenho peitos tão grandes que não da pra esconder, ai se eu encontro um ignorante lá dentro, fode com tudo, tipo, eu não tenho medo de apanhar por ser diferente, mas me preocupo com a pessoa que esta comigo, de fazer ela passar vergonha ou ficar preocupada comigo, além da minha família né, que ai seria uma novela mexicana toda vez que eu fosse sair de casa, só não entendo esse auê todo, apanhar por ser trans ou homossexual é a coisa mais natural que acontece no Brasil, não estou dizendo que é correto, que eles estão certo ou que a gente merece, estou dizendo que acontece todos os dias, em qualquer lugar, não é a toa que o Brasil é o país que mais mata LGBT no mundo e isso já foi comprovado, é real, eu não estou supondo, é a mais pura e triste verdade.
Então fui pro banheiro feminino, eu estava com uma amiga que gosto muito, então resolvi evitar cena, o lance é que estava muito frio, então eu estava com um blusão que diminui a visão dos meus peitos, eu estava lavando a mão já pra sair, eu tento ficar lá dentro o menos tempo possível, enquanto eu lavava a mão, uma mulher entrou, ela disse tão alto, que eu nem precisei perguntar duas vezes "Eu entrei no banheiro errado?" Eu respondi que não, que podia entrar, eu não sei quem ficou mais sem graça, ela ou eu, na verdade, acho que eu, pq ainda me lembro disso e ela provavelmente não ou vai guardar a história pra contar para os amigos depois, quando sai do banheiro, aquelas pessoas que estavam ali pertinho do banheiro, logicamente que ouviram, estavam todos me olhando, eu quis ir embora e me isolar no meu mundinho, mas minha amiga estava mal, precisando desabafar, com o coração doendo, eu não podia deixar que um momento como esse estragasse tudo, ela precisava de mim. Comentei com ela rapidamente essa cena, na esperança que ela me falasse o que eu deveria fazer, mas logo menos já estavamos falando sobre ela e eu quis deixar assim, pq ela esta tão triste e sem forças, que ela não tem noção de como eu faria qualquer coisa para poder ajuda-la, queria muito que ela percebesse a força que tem, que essa força é suficiente para combater o mundo inteiro, a beleza que ela tem, quando ela sorri o local inteiro ilumina, os olhos brilham, ela é completamente linda demais, internamente tbm, ela tem um coração enorme e de ouro, uma pena que ela não vê isso e me mata não poder fazer nada por ela.
Na segunda vez que fui ao banheiro, desta vez fui no masculino, para evitar outro constrangimento, fui torcendo para não encontrar um ignorante e acabar com a noite, mas o banheiro estava vazio e assim ficou até eu sair.
Me senti super bem usando o banheiro masculino, mas isso só é possível no frio, quando estou de blusão, no valor, meus peitos fazem questão de se esfregarem na cara dos outros, então já fica mais difícil usar, acho que esse é o único lado bom do frio, sinceramente.
Então é muito complicado pra mim, é difícil viver desse jeito, porque acaba sendo chato independente do banheiro e quem que consegue beber todas e não mijar? Ninguém né.
Por isso que quando a galera que sair, eu faço questão que seja no Sony, os caras do bar já me conhecem, eles já sabem que sou trans, lá me sinto extremamente confortável para usar o masculino, porque eu sei que se eu tiver alguma situação que venha a ter uso de violência, eles irão intervir, outros bares eu faço esforço, como vivos por exemplo, o banheiro fica na cara do público, é um saco, o Siri tbm é foda pra caralho, mas qdo não tem jeito, acabo indo com eles, como o aniversário da minha amiga por exemplo, que vai ser no vivos, vou tentar beber quase nada pra evitar banheiro, melhor assim.

E por fim, a terceira coisa que me deixou chateado, aconteceu hoje, algumas horas atrás, eu estava cortando o cabelo, pq adoro ser careca, minha avó passou, olhou pra mim e fez cara de nojo.
Eu mereço isso?
Porque sabe, nem quando eu estava no hospital trocando a fralda dela, limpando a bunda dela, eu fiz cara de nojo, qualquer coisa que eu tenha feito por ela naquele hospital, foi de coração e alma, mesmo nas vezes que ela me maltratou, me mandou calar a boca e disse que não me queria mais lá, continuei ajudando e fazendo o possível para deixa-la bem.
Orei por ela todos os dias e noite.
Usei todas as minhas férias do ano.
Usei todo meu dinheiro que estava guardado para a nova tatuagem e novo vídeo game.
Eu desejei poder trocar de lugar com ela naquela cama.
Arrumei uma mulher incrível para nos ajudar quando eu tive q voltar a trabalhar.
Eu arrisquei meu emprego pegando minhas últimas férias, na pior hora possível para a empresa, mas mesmo assim eu fui e faria isso tudo de novo.
Mesmo ela tratando todo mundo muito mal agora que esta em casa.
Mesmo ela tendo me batido quando insisti que ela tinha que trocar de calça porque ela tinha sujado a que estava vestida.
Mesmo eu tendo que viver uma personagem aqui dentro só por causa dela.
Apesar de tudo isso, eu faria tudo de novo, nada do que fiz, eu fiz querendo algo em troca, eu não quero poder ter as minhas férias de volta, muito menos todo o dinheiro que investi nela, eu não quero nada de volta, nada em troca, mas ela podia, no minimo, não tratar a gente mal, que continuamos aqui com ela, querendo ajudar sempre que possível. Ela podia pelo menos não me olhar com cara de nojo, se não gostou, guardasse sua opinião pra si mesma.
Pq sinceramente, ninguém tem a noção de como é difícil poder ser eu mesmo somente da porta da casa onde moro pra fora.
De ter que pensar toda vez que falo pq tenho que me falar tudo no feminino, ter que trocar os nomes nas histórias do trabalho quando estou conversando com a minha mãe, é foda.

Eu sei que tem muitas pessoas no mundo com problemas muito maiores que o meu.
Eu sei que tem gente e animais morrendo, literalmente, de fome.
Eu sei que tem pessoas passando por realidades extremamente infernal.
Eu queria muito poder resolver o problema do mundo, mas não posso nem resolver os meus.
Eu sei que quem mais sofre é a minha mãe que fica com ela 24hrs por dia e queria muito, de coração, poder resolver isso tbm, pq minha avó chegou num grau que ngm merece ser tratado assim e não venham me falar que é da idade, pq ela sempre foi assim, a vida inteirinha ela foi assim, eu conheço ela há 32 anos, e acreditem, posso dizer com toda a certeza do mundo que ela sempre foi assim.
E a cada dia que passa fica ainda mais difícil de continuar vivendo assim, mas eu sigo vivendo, por ela e pelos outros, talvez alguns achem que eu sou trouxa demais, outros já acham que eu os amo demais, mas independente de qualquer coisa, a história continua, não é mesmo?
Me pergunto se algum dia terei total liberdade para viver minha vida sendo quem sou.
Me pergunto se algum dia eu conseguirei realizar os meus sonhos.
Me pergunto se algum dia eu poderei usar o banheiro masculino sem problemas.
Se vou conseguir viver a base da culpa, de tudo o que acontece, eu automaticamente já me culpo, mesmo quando na situação, eu nem estou envolvido.

Eu me pergunto se algum dia eu terei paz.
Se eu terei liberdade.
Se poderei respirar.

Algum dia, essa guerra dentro da minha cabeça vai parar?
Meu coração vai parar de sangrar? As feridas vão fechar?
Algum dia?

Um abraço,

Pedro.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

E lá vem mais um post...mini.


Boa noite amiguinhos.
Todos bem?
Espero...
Aqui vai um rápido comentário sobre a consulta de hoje.

Hoje eu fui ao psiquiatra, para pegar receita de antidepressivos, sim, para quem não sabe eu tomo, todos os dias, dois comprimidos. Ai cai na besteira de perguntar a ele qual a opinião dele sobre a transexualidade, ele começou a frase dizendo “Eu poderia te dar uma resposta que te deixe feliz...” Logo pensei “Ai vem merda...”, ele disse que é um assunto muito delicado e amplo, que cada um tem a sua opinião própria, eu disse que sim, justamente por isso que eu estava perguntando qual era a dele, ele me enrolou até e não respondeu, ai eu soltei: Você é desses que acha que é uma doença? Ele respondeu: Doença também é um assunto complicado, para mim, doença é aquilo que te faz mal, ser transexual te deixa mal?

Tipo... Ele esta de brincadeira com a minha cara?

Fato 1: TODO MUNDO sabe que eu ainda tenho alguns probleminhas de aceitação, que fico pra baixo, que fico mal, que fico deprimido, etc.

Fato 2: Eu tinha acabado de contar a ele que ontem eu tive uma recaída bem forte e estava preste a voltar para o lance de mutilação, a dor física que supostamente tiraria a dor do coração, ou uma maneira inexplicável da mente de achar que tem como sair desse corpo que não pertence a ela. Tipo... Ele presta atenção nas coisas que eu falo ou é audição seletiva mesmo? Porque não é possível um trem desses.

Ai ele vem me falar de terapia para ver se é isso mesmo que eu quero.
Gente, eu tenho certeza absoluta de quem eu sou, nunca tive tanta certeza na vida como agora, eu não vou fazer terapia por causa disso, pretendo um dia voltar a fazer, mas para aprender a lidar melhor com essa situação, saber adquirir mais paciência para esperar até chegar a minha hora, isso sim. A sensação que me da é que ele não me leva a sério ou não leva a transexualidade a sério, não é possível uma coisa dessas. Eu só não fui ao cartório ainda porque usei todas as minhas férias desse ano para cuidar da minha avó que estava no hospital e agora voltei a trabalhar, não sobra tempo, o cartório só funciona em horário que estou trabalhando e na hora do almoço não da tempo, se não, eu já teria feito isso.

Ai ele falou sobre que eu tenho que encontrar um “equilíbrio” já que minha família não aceita de fato e que minha avó nem pode saber. Quase que falei pra ele: Ah não me diga! É mesmo? E por acaso você acha que eu entro na personagem Priscila quando estou em casa porque é divertido? Seu imbecil. Sim, eu sei que ele não é psicólogo, nem terapeuta, mas se ele estava conversando, se ele que começou o dialogo, pelo menos presta atenção, caralho!

Sei lá, só acho que profissionais da saúde mental deveriam se atualizar mais, afinal já estamos em 2018, 2020 esta logo ali e a humanidade, no fim, nem evoluiu como a gente pensava quando ainda estávamos em 2008. Claro que tivemos nossos avanços, mas ainda tem muito a desejar e como se não bastasse ainda tem eleição esse ano, imaginem se o Bolsonaro ganha, podem explodir o mundo porque ai não tem mais jeito mesmo.
Enfim, esse post é curtinho mesmo, era só para comentar com vocês, que meu psiquiatra é um idiota, só vale as receitas que ele me da mesmo e ainda no final a gente estava falando sobre a vida dele, olha que ironia!

Mas fiquem tranquilos amiguinhos, ontem, na recaída, eu não fiz nada e já estou recuperado novamente. Vida que segue certo?

Abraços.

Pedro.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Vamos falar sobre a transexualidade! (+18)


Boa noite amiguinhos.
Como vocês estão?
Eu disse que estava de volta, não disse? Pois ai vai mais uma postagem.
Mas antes, quero alerta-los: Se você é o tipo de leitor que tem aqueles mimimi que nem a minha mãe que tem post meu que é vulgar demais, pare aqui mesmo, pois hoje vou falar de coisas de adultos.
É sério, dessa vez, sem imagens, mas vou meter o pé na jaca ao falar de sexo.
Se decidiu? Mimimi: Fora. Caso contrário, desce sa porra ai e continue lendo!

Bom, primeiro vou contar o que aconteceu para depois explicar como foi que eu acabei o dia extremamente chateado.

Ontem eu fiquei com uma garota no role, prefiro não identifica-la ainda, eu a conheço faz alguns anos, é gente boa, bonita e simpática. O que era para ser só uma cerveja, acabou em um amasso bem pesado pra caramba, foi legal? Foi, muito. Foi divertido e gostoso, pelo menos pra mim foi.
E ela me convidou para ir na casa dela, por mais lerdo e imbecil que eu seja, nós sabemos o que significa e todos nós sabemos também que eu tenho um problema enorme com o meu corpo, uma guerra sem fim dentro de mim, da minha mente, que eu luto diariamente.
E passei o dia pensando muito nisso, em como falar sobre isso com ela, porque eu não queria que ela pensasse que estou inventando uma desculpa ou que sou o tipo de cara que peguei e pronto, se manda, pq não é assim que funciona, mesmo que não role mais, eu sempre fui a favor da sinceridade total, mesmo que isso cague no lance.

Ai eu conversei sobre isso com algumas amigas minha, que me conhece há uns 12/10 anos.
Conversei com a minha amiga do trabalho também e uns colegas.
E eu estava falando com essa amiga que desse grupo é a que me conhece há mais tempo, na verdade, de todas as pessoas com quem falei hoje, ela é a que me conhece há muito mais tempo, literalmente, se eu for fazer as contas, diria que me conhece há uns 14 anos, eramos muito novinhos quando nos conhecemos, ela ainda estava na escola e eu entrando pra faculdade, então achei que ela, de todas as pessoas, entenderia o que eu estava tentando dizer e foi nessa conversa que percebi que ainda falta MUITA INFORMAÇÃO, sobre a transexualidade no mundo e que são poucas as pessoas que estão abertas para entender.

Afinal, o que rolou nessa conversa que te levou a este pensamento e te deixou chateado? Você deve estar pensando, não é mesmo?
Eu expliquei para ela que eu ainda não consigo fazer sexo com esse corpo que tenho. 
Eu sei que eu tenho minha prótese peniana o que facilita por um lado, mas eu odeio os meus peitos, eu não vejo a hora de tira-los, claro que não vai ser esse ano porque eu não juntei 15 mil e eu não tenho mais férias esse ano e nem posso me afastar novamente, mas eu estou com os meus 2 pés no chão, eu sei esperar a minha hora chegar, não importa que isso demore 1, 5, 10 ou 20 anos, não importa que eu só consiga fazer isso quando tiver 70 anos, mas só o fato de ter a liberdade de tirar a camisa em um dia de calor, só o fato de não precisar mais usar sutiã e tops, será minha cartada final, meu último desejo, então, não me importo de esperar, mas o fato de q estou esperando, não significa que eu goste deles ou que alguém pegue neles, se alguém toca-los, acho que sou capaz de levantar e ir embora deixando a garota lá sozinha, sim, eu chego a este ponto sim.
Achei muito legal essa garota que eu estava ontem ter perguntado antes de poderia pegar, obviamente eu disse que não e ela respeitou, mas me pergunto e se estivéssemos em outra situação? Em uma situação mais intensa, em um lugar mais reservado? Ela teria se controlado? Outras garotas se controlariam? Porque quando vc esta em um momento assim, vc não pensa direito, vc só vai agindo, dançando conforme a música.

E ai falei para essa minga amiga que eu consegui lembrar porque eu estou há tantos anos sem namorar, pq eu sabia qual era o meu limite, mas não sei dizer como foi que aconteceu e eu me esqueci, acho que o fato de eu estar tanto tempo fora do jogo, fez com que eu me esquecesse quanto tempo eu consigo me manter no jogo e o que aconteceu ontem me trouxe a tona o motivo de eu não estar jogando, de eu estar no banco de reserva tempo suficiente para ter minha bunda marcada no banco. Crente de que ela entenderia, o que ela disse foi como um soco na cara.
Ela disse para eu ir em frente, deixar ela pegar neles que vai que eu sinta tesão e foi ai que percebi que ela não me conhece mais, não sei se quer conhecer, na verdade, não sei nem se a população brasileira quer aprender sobre o que é de fato ser um transexual.
O meu corpo é de mulher sim, óbvio, mas a minha alma, a mente, tudo dentro de mim não é.
Sem falar que sexo não é só a penetração e pronto, é todo um jogo de preliminares tbm, qualquer um sabe disso, bom, pelo menos qualquer um acima de 18 e atualmente, a garotada acima dos 12 já estão sabendo também, se bobear, com 10 já sabem mais do que eu rs.
Mas é uma coisa dentro de você que te trava, não te deixa ir em frente por mais que você queira, simplesmente não da, não funciona assim e eu não posso culpar ninguém que queira tentar um relacionamento comigo, porque o problema nunca é e nunca será a outra pessoa, sou eu, porque eu não fui atrás ainda daquilo que eu quero pra mim, pq eu não terminei ainda essa guerra contra mim mesmo, pq as coisas ainda não estão como deveriam estar, eu continuo perdendo as batalhas todos os dias, por mais que, por exemplo, a gene conversasse e ela fala que entende e que não vai toca-los, mas vai ficar na minha mente barulhenta aquela pertubação infernal tirando a minha concentração, não que eu não confiaria na promessa dela, mas é algo meu que eu não sei explicar mais do que isso.
Mas sei que falta muita informação, no Brasil, no mundo, na família, na roda de amigos.
Eu sou o tipo de trans que gosto de ensinar aquilo que eu já sei, pq não posso dizer que sei tudo, ninguém nunca sabe tudo e de vez em quando sempre tem um aprendizado novo, mas eu não sei se as pessoas querem aprender, todo mundo com que falo sobre isso, as frases deles sempre acabam com "Ah mano, para isso com isso, larga de frescura e vai lá", eu até cheguei a achar que ninguém entenderia, mas a Bruna entendeu, glória né, pq achei que ninguém ia entender.
A Letícia, outra grande amiga de época já, também acho que vai entender, ela não viu as minhas mensagens ainda, deve ter tido um dia bem corrido, mas parte de mim acredita q ela entenderá.

É uma pena que pessoas próximas a mim não entendem e não demonstram interesse em aprender.
Mas quem tem ou teve uma vida sexual ativa sabe muito bem que o sexo não resume na penetração, para nós, homens trans, não é só pq a gente pode colocar a vértebra dentro do packer que ele fica duro que é mais fácil transar, não, não é, não funciona assim, sua mente tem que estar no lugar, você tem que estar no lugar, tem que saber o que esta fazendo, tem que estar a vontade, se não, você sai como o cara que faz sexo ruim ou não sabe transar, pq sejamos sinceros, a culpa no sexo é sempre do homem, inclusive, quando ele broxa e para quem acha que homens trans não broxam só pq o packer é de borracha, esta muito enganado, sim, isso acontece e é normal.

Só acho que as pessoas deveriam abrir mais a mente.
Estar aberto para aprender, o mundo esta sempre evoluindo, coitado daquele que fica para trás sem se atualizar sobre a evolução do mundo.

A transexualidade não é uma escolha e nunca foi.
Assim como não é uma escolha as mulheres serem lésbicas, homens gays ou ambos bi.
Assim como não é uma escolha ser alto ou baixo, branco ou negro.
É o que é e ponto final, você pode esconder sua sexualidade, por exemplo, por causa dos seus pais, mas isso não significa que você deixou de ser homossexual.
Assim como você não escolhe ser heterossexual, eu por exemplo, tentei por anos e anos ser uma mulher hetero, vivi e agi como uma, fiquei com alguns garotos, mas desde o começo eu sabia que era uma batalha já perdida e levou, sinceramente, 18 anos para eu desistir e aceitar que gosto de mulheres e levou quase 26 anos para eu desistir e me assumir como trans, hoje tenho 31 anos e ainda tenho problemas de aceitação e não me diga para fazer terapia, eu fiz, não que eu tenha desistido pq não funciona, pelo contrário, a terapia me fez enxergar o mundo de uma maneira que eu não conseguia, mas essas porras de convênio sempre só liberam 6 consultas, até o terapeuta começar a te entender, as consultas acabaram, não vale apena, mas aprendi muito e sim recomendo para os que estão se descobrindo agora, ajuda, sério.

Eu já não tenho mais o que falar, a internet é um mundo enorme de informações, as pessoas podem me perguntar as coisas que eu respondo de boa, mas não posso forçar ngm a querer aprender, aprendizado é algo que a pessoa queira adquirir e um dos motivos que criei esse blog é esse, ensinar as coisas sobre a transexualidade, desabafar nessa página pq no fim, exatamente no fim, ngm me entende e tbm dividir com os que ainda leem esse blog, as coisas que vão acontecendo no meu dia a dia.

Qualquer ser humano tem um limite. Mesmo não querendo admitir, todos tem um limite.
E o meu limite, nesse assunto em questão, é onde cheguei ontem.
Por mais que eu queira, no momento, não posso seguir adiante, não assim, não desse jeito.
E acho que quando a gente descobre nosso próprio limite, aceita ele e aprende a esperar a hora certa, é a hora que podemos bater no peito e falar que realmente nos tornamos adultos, pelo menos, nesse assunto, a gente se torna adulto sim.
E mesmo que o fato de eu esperar ganhar essa guerra que parece infinita signifique eu morra solteiro, isso não me importa, isso não me faz mudar de ideia, pq a verdade é que eu preciso primeiro estar bem comigo mesmo, estar em paz, para depois eu estar pronto para não só transar com alguém, mas para ter um relacionamento, poder cuidar da pessoa, dar carinho, amor, como disse um amigo meu uma vez, um relacionamento é uma troca, um só não pode amar por dois, não tem como e eu acho completamente injusto quando isso acontece, pq as duas pessoas merecem amor, merecem carinho, atenção, companheirismo, cumplicidade, nunca um só.

Não sei se algum leitor vai entender o que eu quis dizer.
Não sei se algum leitor vai concordar com tudo o que eu disse.
E sei menos ainda, se algum leitor estará aberto a debate.
Mas preferi desabafar, até pq lê quem quer, não é mesmo?

E garota de ontem, não ache que escrevi isso como indireta ou desculpa.
Eu precisava desabafar sobre isso, estava me tirando o ar já.

Enfim, espero não ter espantado ninguém, se bem que se eu espantei, foda-se, vou continuar escrevendo aqui por um bom tempo.
Afinal, temos o tempo do mundo, embora a vida seja mais breve do que imaginamos.
E vamos seguindo dia após dia, eu tenho esperança de que um dia virei aqui contar para vocês que eu finalmente encontrei a porra da paz que eu tanto almejo.

Mas antes de julgar, lembrem-se, ser transexual no Brasil, no país que mais mata transexuais no mundo, não é nada fácil, assumir em uma família completamente religiosa, é mais difícil ainda.
Me lembro de ter pensando que o povo de casa aproveitaria que a vó tava internada e me chamar de Pedro e me tratar no masculino, para irem se adaptando para a nova realidade que esta por vir, isso não aconteceu, mas pelo menos aprendi, que pelo menos o povo aqui de casa não importa, eles podem me tratar como quiserem, afinal, são 32 anos de convivência, não posso culpa-los se nunca conseguirem, muito pelo contrário, eu aceito isso, podem ficar tranquilos, não ficarei bravo nem nada, é um sentimento que não sei explicar o que é, mas ele se resume em um "Ei tudo bem que vc não consegue, vamos em frente." Pq assim como eu tenho o meu limite, o povo de casa tbm tem.

É...Acho que estou amadurecendo rs.
Só que se amadurecimento não for isso, então desistam, porque não vai acontecer rs.

Enfim falei demais já né.
Se você chegou até aqui lendo tudo, obrigado viu.
É um prazer te-lo como leitor.

Tenham uma boa noite.
Que Deus nos abençoe, protege e cuide.

Um abraço apertado.

Pedro.
  

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Ela voltou!!


Boa noite amiguinhos.
Sentiram a minha falta?
Eu voltei e espero que dessa vez pra ficar, postar mais vezes.
A verdade pura, nua e crua é que quando se tem um parente muito querido internado em uma cama de hospital, pelo menos eu, não consigo pensar em mais nada, absolutamente em mais nada.
Eu não conseguia jogar vídeo game, escutar músicas, sair para os bares com os amigos, tudo perde a graça, tudo deixa de fazer sentido, tudo fica chato demais, eu perco totalmente meu foco, meu rumo, o que me da prazer não estava me dando mais, é uma sensação horrível, ainda mais que foi tudo muito rápido sem tempo de preparação, levamos ela no hospital porque ela estava passando mal, passamos um dia e uma noite inteirinha lá e no fim das contas ela foi internada, ela não queria ficar de jeito nenhum e eu não queria que ela ficasse, mas foi preciso, no fim nós 2 entendemos isso.

E ela não estava comendo nada no hospital.
Sem café da manhã, almoço, café da tarde, janta, café da noite, água, nada de nada, ela não conseguia comer e o fato de que ela não comia só fazia com que a cirurgia fosse adiada para a próxima semana e depois a outra e a outra e enquanto isso ela seguia sangrando.
Me lembro de quando levaram ela para a cirurgia eu estava sozinho no hospital, família em casa, quando colocaram ela na maca para leva-la ao centro cirúrgico, eu me esforcei tanto para não chorar na frente dela e falhei miseravelmente, chorei, nossa e como eu chorei naquele momento, com direito a lágrimas, nervoso e soluço. Eu nunca tinha desejado alguém ali do meu lado para me abraçar e falar que vai ficar tudo bem como eu desejei naquele minuto, mas não tinha ninguém, eu não podia ligar para o povo aqui de casa, eles iam me encontrar lá, algumas horinhas depois, não era justo ligar só porque eu sou um molenga e choro desesperadamente, mas lembro de eu desejei do fundo da minha alma alguém ali, naquele momento, minha avó vendo meu desespero, falou para eu não chorar e ligar para a minha mãe vir logo me encontrar, tadinha rs.

Foi o mês mais tenso, desesperador, problemático, louco e uma porrada de coisas que tive esse ano e espero que tenha sido o último, porque nossa senhora, achei que não iríamos superar isso.
Ainda mais porque uns dois dias depois da cirurgia ela voltou a sangrar e sangrava mais do que antes da cirurgia, lembro de que troquei com a minha mãe e fui ficar lá uma noite, acho que de sábado para domingo, não lembro, não consegui nem cochilar, minha avó ia ao banheiro a cada 10 minutos e toda vez que eu ia trocar a fralda dela, lá estava a poça de sangue, eu fiquei muito mal, mas muito mesmo, eu quis sair correndo, eu quis ligar aqui em casa e pedir ajuda, mas isso só começou após as 02hrs da manhã, se eu ligasse, eles iriam querer sair correndo, de madrugada, o que não ia adiantar nada porque não pode trocar de acompanhante e não pode subir visitas de madrugada, foi a noite mais longa que consigo me lembrar que já tive, horrível, até porque na minha cabeça, a cirurgia não tinha dado certo e tinha complicado mais a situação dela, eu tive tanto medo, um medo desses de criança que você quer muito um adulto por perto para ajudar, sabe?

E ainda tem gente que fala que eu sou forte. Não, eu não sou.
E esse mês no hospital foi a maior prova de que eu não sou forte.
Diversas vezes tive que tomar clonazepam para conseguir enfrentar a situação.
Lembro das vezes que falei para diversas pessoas que eu tinha certeza que ela não iria sair dessa.
Mas Deus é tão poderoso que me mostrou que eu estava completamente errado e graças a ele, nesse momento ela esta sentada na sala assistindo TV.
Ainda esta bem magrinha e fortinha, mas eu creio que ela vai dar a volta por cima.

Conheci muitas pessoas naquele hospital.
O primeiro quarto que ela ficou foi legal, as pacientes conversavam bastante, brincavam e riam, nem pareciam que estavam esperando por cirurgia para salvar a vida delas.
Assim foi com acompanhantes de pacientes também.
Eu lembro que na última noite antes da minha avó ir para a cirurgia, enquanto ela dormia na cama dela, eu e as outras ficamos conversando até altas horas da noite, nem parecia que a gente estava no hospital, foi muito bom, o que é estranho dizer isso na mesma frase onde a palavra hospital é citada.
No hospital você conhece muitas pessoas, você conhece as histórias das vidas delas e não tem como não se sentir tocado, muita gente ali é guerreira mesmo, são histórias lindas de superação, algumas partes bem tristes, claro, mas faz você perceber que nem tudo é o fim do mundo.
Você também aprende que a vida é muito mais frágil do que você pode imaginar, muito mais do que um momento passageiro e que a simplicidade é essencial.

Eu começo agradecendo primeiro a Deus, que toda vez que nós caímos, ele nos levantou.
Toda vez que choramos, ele limpou nossas lágrimas e nos apontou o caminho.
Que toda vez que estávamos cansados demais para continuar, ele carregou nossas energias.
Nos deu forças, nos protegeu, acompanhou e nunca deixou de estar no nosso lado.
E sinceramente, digo com toda a sinceridade do mundo, não teríamos chegado aqui se ele não tivesse nos ajudado. Serei eternamente grato pelo restante da minha vida.

Agradeço a todos que incluíram a minha avó em suas orações, rezas, enviaram energias positivas.
São as maneiras mais poderosas que existem para ajudar alguém, porque ninguém no mundo inteiro podia ajudar como Deus ajudou, então, muito obrigado mesmo.

E o principal de tudo é que a gente descobre quem é de verdade e quem é de mentira.
Muitas pessoas se ausentaram quando eu mais precisei.
Tem uma pessoa, que prefiro não citar o nome, mas que me decepcionou de uma maneira em que pelo menos nas próximas semanas eu não quero ver ela nem pintada de ouro na minha frente, negar ajuda quando um amigo mais precisa é o fim da picada, não a considero mais uma amiga, caiu para apenas uma conhecida, nada mais, uma conhecida que pode desistir de agora em diante de me pedir algum favor, talvez algum dia, quando a chateação passar, eu perdoe, mas agora eu não consigo fazer isso e não vou ficar surpreso se vocês me julgarem por isso, mas é que ver que eu não podia contar com ela depois de anos de amizade, me machucou e é preciso esperar a ferida parar de sangrar antes de pensar em perdão, isso se ela pedir desculpas né, mas ok.

Deu para contar nos dedos das mãos as pessoas que ficaram para me ajudar nessa fase tão difícil, porque quem me conhece sabe, que a minha avó é como uma segunda mãe, ela é uma das responsáveis pela pessoa que eu sou hoje e se nessa fase foda, eles viraram as costas, não os quero quando as coisas voltarem ao normal e eu puder respirar tranquilamente, na hora de comemorar.

Mas faço questão de deixar meu sincero MUITO OBRIGADO para algumas pessoas sim.
Ao Luciano que foi nosso motorista na primeira semana, sempre levando e buscando a gente e conciliando essa ajuda com as horas de trabalho que ele tinha.
Agradeço a Letícia, Bruna, Graziella e Mah que suportaram meus desabafos desesperados e ficaram ao meu lado quando precisei.
Agradeço a minha mãe e minha tia que ajudaram muito mesmo e que seguiram firmes e fortes, dez vezes mais do que eu mesmo.
Agradeço a Rose, Gabriel, Dirce, Serginho, Gustavo, pessoas que foram visita-las no hospital, não esperaram ela estar em casa para visitar.
Agradeço a minha prima Andreia que foi para o hospital no dia da cirurgia e ficou conosco lá o dia inteiro nos dando apoio, seu companheirismo foi muito especial.

Agradeço a Luciana que ficou com a minha avó por uma semana, na semana que voltei a trabalhar.

Agradeço MUITO, MAS MUITO MESMO, ao Pablo, um grande amigo, que ficou aqui em casa um mês, nos levando e buscando do hospital, nos dando força, companheirismo, ajudou muito com as coisas de casa, até sair para caçar gasolina na semana da greve e ficar 4hrs na fila ele ficou.
Suportou todos os estresses que rolou do povo aqui de casa, deixou de lado sua oficina e veio nos ajudar e em nenhum momento ele reclamou, ele fez tudo com muito amor e carinho e nunca jamais irei esquecer tudo o que ele fez por nós.

Agradeço ao Raphael H. Martins, que me indicou a sua amiga Priscila para cuidar da minha avó no momento de desespero que eu achei que nunca encontraria ninguém para ficar com ela durante o dia para que eu pudesse trabalhar, como ela já tem um trabalho a noite, ficaria corrido demais para ela, então ela indicou sua amiga Ana Cristina que foi um anjo que caiu do céu.
Que pessoa maravilhosa!!!!!
Rapha, muito obrigado, quando eu achei que ninguém ajudaria, quando eu achei que ia ter que largar meu emprego, sim, pensei nisso de tão desesperado que eu estava, você veio de mansinho, me colocou em pé de novo e me enviou esse anjo de Deus que a Ana Cristina é e ela veio com todo o carinho, amor e dedicação, com o coração grande que ela tem e uma semana depois, minha avó teve alta e já esta em casa, graças a Deus.
Serei eternamente grato, por sua ajuda, pela Pri que indicou a Ana e pela Ana que fez maravilhas, num passe de mágica e a etapa 1 acabou.
Eu nunca esquecerei nenhuma das pessoas que citei acima, todos tem um espaço no meu coração, a minha consideração e a minha amizade e companheirismo, sempre.

Porque gente, juro para vocês, eu cheguei num ponto em que achava que não teria mais jeito.
Que era o fim e que não tinha nada que eu pudesse fazer para mudar aquilo.
Pessoas que eu tinha certeza absoluta que estariam ao meu lado, viraram as costas.
E pessoas que eu nunca imaginaria que estariam por perto para ajudar, foram as me fizeram aprender, que nem todo mundo é quem pensamos que é, aprendi a priorizar na minha vida as pessoas que realmente merecem e ainda ganhei uma amiga, porque a Aninha não vai se livrar tão fácil de mim como ela pensa que vai.

Muito obrigado a todos os envolvidos, independente de como me ajudaram.
Agradeço também aos meus colegas que me suportaram de péssimo humor nesse mês ferrado.
Foi a fase mais louca que tivesse esse ano e não é louca de uma forma boa.
Tomara que tenha sido o último mês desse ano, sinceramente, todos nós merecemos um descanso.

Finalizo dizendo, meus amiguinhos, que a vida é um simples momento, tão frágil quando uma joaninha ou um copo de cristal.
Então aproveitem, curtam cada momento bom como se fosse o último.
Seja feliz, vá atrás daquilo que te faça feliz.
Aproveitem até os pequenos momentos, você nunca sabe quando sua vida vai virar do avesso e ficar de ponta cabeça de uma maneira que você vai implorar para que volte ao normal.
Não se deixem abater por coisas simples demais.
Façam o que tem que ser feito, o único arrependimento que vale, é daquilo que você fez, nunca daquilo que você deixou de fazer, não viva no "E se..." não temos mais o tempo do mundo, não temos mais tempo para isso.
Vivam a vida!!!!
Vão ser feliz, curtam!!!
A vida é para ser vivida, de preferência, da melhor maneira possível.
E amem, nunca economizem amor.
Valorizem quem esta realmente do seu lado.
Seja honesto, sincero, compreensível e leal.
Seja bom sem esperar nada em troca.
E acima de tudo, nunca se esqueça que temos um Deus que sempre estará ao nosso lado, nos ajudando e nos protegendo e também não se esqueça de agradecer, cada detalhe bom da sua vida existe porque ele nos proporciona isso.
Essa é a grande verdade.
Espero que vocês não precisem passar por uma fase do caralho para aprenderem tudo isso, como eu tive que passar.

Eu consegui contar nos dedos de uma única mão, as pessoas que entenderam porque eu fui embora logo após ter voltado das férias, obrigado por isso pessoal, porque sinceramente, eu teria feito tudo de novo, do mesmo jeito.

Vamos dormir? É a nossa primeira noite com a vó de volta aqui em casa.

E lembrem-se: A vida é apenas um breve momento. Aproveitem!!!
Mês que vem iniciaremos a etapa 2: Quimioterapia.
Mas eu não estou preocupado, eu sei que Deus estará conosco e nos ajudará novamente.
E sei também que as pessoas que me ajudaram agora, se precisar, estarão lá novamente.
Tenho certeza disso.

Se cuidem.
Não se preocupem.
Logo mais postarei mais novidades.

Um abraço,

Pedro.