E aqui vamos nós mais uma vez...
Fico feliz por ter pensando neste blog para desabafar, pq por mais que eu tenha amigos e alguns deles ainda estejam me escutando, não acho que estão compreendendo o que quero dizer.
Então...
Querido Pedro,
Como você está? Como esta ai no portãozinho da nossa alma, onde você se enfiou já fazem quase 2 meses?
É tudo muito muito estranho, porque quando eu acho que chegou a hora de você sair dai, vir tomar seu lugar, vestir sua camisa e viver o restante da sua vida e eu deixar de existir oficialmente e para sempre, acontece alguma coisa e muda tudo, eu paro no meio das escadas que me levam a você e começo subir tudo de novo.
Eu sei que esta ruim ai, que você tem se sentido muito sozinho.
Que você tem implorado para existir.
Eu sei que você esta com medo, que você quer que acaba isso logo.
Eu sei que esta escuro e silencioso ai.
Que você esta muito triste, bem deprimido.
Eu sei disso tudo e eu juro a você que eu queria terminar essas escadas, abrir a porta e com um único sorriso você saberia que chegou a sua vez e tenho certeza que você me abraçaria, mais forte desta vez porque seria a última, vc me agradeceria e eu diria q foi um prazer, então com os olhos cheios de lágrimas de felicidades, vc subiria a escada correndo rumo a sua vida para sempre.
Mas como eu posso fazer isso se nós vivemos uma vida de culpa?
Mesmo quando a culpa não é nossa, a gente sofre como se fosse?
A gente acredita tanto que é que chega a ser real dentro da nossa cabeça?
Eu até pensei em perguntar para a nossa prima Andreia sobre isso, ela que é Terapeuta Ocupacional, deve saber algo sobre isso, deve ser algum distúrbio, porque viver acreditando de verdade que todas as coisas ruins que acontece é nossa culpa, é horrível demais da conta, suga a nossa alma e sinceramente, isso deve ter alguma cura, não é possível não, sabe?
Toda época a gente sofre por uma consequência, um fato, que leva a culpa que não é nossa e por isso a gente vai sempre adiando a vida, a nossa vida, a sua vida e não é justo.
Como podemos nos culpar do câncer da vó, Pedro?
Ter câncer é algo que nós nunca poderemos entender porque isso acontece, nunca.
Nós só podemos rezar para que encontrem a cura logo, para que a quimio não seja mais a única opção, não tem nada que possa ser feito.
Eu sei que é mais fácil pensar assim ou que a culpa é dela porque sabia disso há muito tempo e não foi atrás de ir aos médicos e tal, que se ela tivesse feito as coisas do jeito certo, lá trás, quando ficou sabendo, quando estava no inicio, poderia ser muito diferente agora,mas...
Pedro, quando ela tem dias ruins, esquece as coisas ou fala coisas sem sentidos a gente se culpa também, a gente se culpa quando ela não come, nos culpamos quando vimos que ela emagreceu de novo, nos culpamos quando qualquer coisa acontece desde a pequena até a maior de todas elas.
E sabe o que é pior que tudo isso?
Saber que nunca vai parar.
Saber que a gente se culpa assim dia e noite e não tem nada que alguém possa falar pra nos aliviar.
E a gente vai sempre adiando a sua vinda.
Até quando vamos adiar?
Quando vc será permitido viver?
Quando será libertado dessa escuridão?
Nunca?
Estamos desistindo novamente?
Sempre será só nós dois, não é?
Lembra no colégio, que a gente dava aqueles dois reais que a mãe dava pra gente lanchar, para uma menina pra ela nos fazer companhia pq não queríamos ficar sozinhos e não tínhamos amigos?
Pagando para ter companhia... A que ponto tínhamos chegado...
Sempre fomos sozinho sé? Incompreensíveis digamos, com medo do ser humano, do mundo.
Estávamos decididos que íamos no cartório esta semana, íamos dar o penúltimo passo.
Mas como poderíamos se nem conseguimos dormir direito de tanto que a gente pensa na culpa que não é nossa? De quanto que a gente deixa que os pensamentos massacrem a gente?
De todos os dias olhar para a vó e ver que ela tem cada vez menos tempo?
Como lidar com tudo isso?
Acho que esse é um dos grandes motivos que a gente sente falta daquela pessoa, vamos chama-la de Chloe, a personagem do jogo que gostamos, porque bastava uma mensagem para Chloe dizendo que a gente estava muito mal, como se estivemos na beira de um abismo, ela respondia dizendo para encontra-la na paulista dentro de uma hora, que íamos tomar café e conversar sobre isso e a gente fazia isso a tarde inteirinha, indo embora quase no fim da noite, mesmo sabendo que a gente tinha que trabalhar no dia seguinte, ela era o nosso porto seguro... Ou as vezes a gente só andava pelas ruas da cidade até cansar, sem rumo exato, era como uma terapia, pq a gente sabia que ela sempre estaria ali, como nós estávamos para ela tbm quando precisava, era essa troca, ela nos ajudava e a gente tentava ajudar ela também, era tão bom, tão gostoso, era mais fácil, a gente não discutia tanto, ela tentava nos explicar o seu ponto de vista e a gente tentava entender e quando não entravamos em um acordo, ela desistia, o clima ficava chato, mas alguns minutos depois estávamos bem.
É engraçado, porque mesmo sabendo todo o bem que ela nos fez, todas as vezes ela nos salvou, nos tirou da beira do abismo, nos fez ver a vida de outra maneira, não queremos encontrar ela novamente, ela foi uma pessoa tão importante e tão especial, que mesmo 2 anos terem se passado, a gente não consegue lidar com o fato dela ter ido embora, sem mais e sem menos, sem se despedir, sem avisar, sem deixar uma carta, sem nada. Ela apenas foi embora, infelizmente, por causa de uma paixão cega por um cara que ainda trabalha na mesma empresa que eu e todos os dias quero poder dar uma surra nele, mas acho que no fim das contas, ele não tem culpa.
Talvez nem ela, apaixonados fazem isso mesmo desde a época da pedra, o problema somos nós que temos essa mania de achar que não iremos conseguir sem ela, vem capaz, a gente já conseguiu chegar até aqui sozinho mesmo, pq não conseguir o restante?
Deveríamos aceitar o fato de que perdemos?
De que essa loucura dentro da nossa mente que nos faz sentir culpados por tudo venceu?
A guerra acabou?
Nem precisamos contar aos nossos leitores o quanto ficamos chateado com a mãe ontem quando ela falou que a gente se esconde "no rabo de saia da mãe", não é?
Aquilo foi ridículo demais, porque parte desses intermináveis dias que estamos adiando nossa felicidade, foi por causa dela também, daquele ano que a gente nem se falava mais, daquele ano que eu desejava ter morrido a ter que encarar tudo isso.
Nada na vida é tão fácil quanto aparenta ser e isso é fato!
Por exemplo, imagina se a gente da mais um passo rumo a felicidade e a minha avó piora ou tem q ficar internada de novo? Imagina como a nossa consciência vai nos castigar com esse lance de culpa, se ela morre, eu não sei o que sobra da gente, é tudo muito louco, é complicado, é embaçado, não é simples não, porque não envolve só nós, é algo que envolve todos os que estão próximos.
Minha mãe que acha que é tudo fácil nem conseguiu te chamar pelo nome ou me tratar no masculino quando a vó não estava aqui e ainda duvido que ela vá olhar para nós da mesma maneira que olha agora quando tudo tiver mudado completamente.
Estou cansado, Pedro.
Sei que você também está.
Será que isso um dia termina?
Será que seremos livres?
Será que existirá o dia em que poderemos gritar ao mundo que vencemos?
Ou vamos só sobreviver aos dias?
Eu sei que a gente não pode reclamar, temos trabalho, comida na mesa, uma família maravilhosa e alguns bons amigos, que nem tudo é perfeito, mas... Paz de espirito tem que ser tão caro assim?
Se não estamos matando, roubando, estuprando, vendendo drogas, porque não podemos ser nós mesmos?
Porque a família não se junta e não me ajuda a contar pra avó logo antes que ela descubra por si só e passe mal pra gente se culpar mais ainda?
Por que somos tão covarde?
No lugar do nosso cérebro tem outro coração?
Pq não é possível uma coisa dessa.
Não pode ser.
32 anos nas costas e a mesma covardia de sempre.
O mesmo garitinho medroso.
Ah Pedro...
Ah!
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