quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

1º post de 2019


Boa noite amiguinhos.
Como vocês estão?
Tiveram um bom final de ano?
Aqui o final de ano foi tão estranho, parecendo um dia normal.
O natal até que deu pra entender que era natal pela troca de presentes rs.
O ano novo, parecia cena de filme fraco de comédia, deu meia noite, gritei feliz ano novo e ninguém respondeu pq acharam que eu estava zoando já que não teve quase fogos rs.
E eu lá tenho culpa que o bairro todo viajou? Eu hein.

Mas contradizendo um pouco do que disse no último post, é preciso sim ter esperança de dias melhores, vidas melhores, ou não sobra nada.
Precisamos saber reconhecer um momento bom para nós e saber curti-lo ao máximo.
Precisamos compreender aquilo que faz bem para a nossa alma.
Dar atenção aquilo que nos faz sorrir, essa é a verdade e quero focar nisso também.
Não vou fazer promessas para 2019, cansei de fazer sabendo que não vou cumprir rs.
Vou deixar a vida me levar e saber apreciar cada momento.
E espero do fundo do coração que seja um bom ano não só para mim, mas para a minha família, amigos, parceiros de profissão, conhecidos, ex-amigos, etc.

Enfim...
Hoje fui no psiquiatra pegar receita do meu antidepressivo, sim, eu ainda tomo e sim, ainda vou continuar tomando por um bom tempo rs.
Ele me perguntou como eu estava, quase respondi que se eu tivesse super bem, eu não estaria ali pedindo receita rs.

Falei para ele das minhas paranoias.
Tudo se resume na frase que postei no whatssap "Quando estou sozinho, são os meus pensamentos que me destroem." acho que pouca gente viu, pq eu tirei logo do ar, já estavam achando que eu estava planejando fazer alguma besteira.
Não se preocupem amiguinhos, eu amo viver e espero chegar pelo menos nos 60 anos rs.
Enfim...

Falei para ele que eu tenho que dormir de porta aberta pq algo pode acontecer com a minha mãe no meio da noite e a porta precisa estar aberta para eu conseguir escutar.
Que achar que vou morrer quando frequento um lugar novo voltou.
Ou toda vez que fico ruim da pressão ou com gripe já acho que estou com alguma doença terminal e é o meu fim.

Falei que tenho medo de quando eu começar a transição minha mãe e Deus não me amarem mais, mesmo sabendo que o amor de Deus é infinito e amor de mãe não morre assim.
Que tenho medo de morrer antes de realizar esse sonho da transição e ao mesmo tempo medo da transição, pq eu não sei como é o "lado de lá", seria uma nova caminhada, de uma jornada que ninguém da família caminhou antes, sou o primeiro, provavelmente o único e só eu posso seguir por esse caminho e ultrapassar os obstáculos que encontro.

Falei do medo do que pode acontecer não só comigo, mas com toda a comunidade LGBT com o governo do Bolsonaro.
Falei que tenho medo de morrer primeiro que a minha mãe, pq acho que ngm vai cuidar dela como eu.
Falei das crises de pânico que me dá que me faz sentir como se eu não tivesse respirando.
Do medo de ficar louco a ponto de ser internado.
São tantos medos e paranoias, que eu poderia passar o dia inteirinho conversando com ele que ainda assim seria insuficiente.
Acho que ngm entenderia mesmo se eu soubesse colocar bem as palavras.

Falei para ele em como eu me sinto completamente bem no trabalho, em como lá eu me sinto livre, leve e solto.
Em como eu me sinto feliz, em como eu me sinto seguro, me sinto bem de verdade.
Pq lá eu posso ser eu, as pessoas respeitam a minha identidade, me tratam como homem de verdade, eu uso o banheiro masculino, bato na porta do vestiário feminino quando preciso entrar pra verificar a limpeza do local.
Eu brinco com todo mundo, atormento todo mundo.
É como se a vida não tivesse limites.
Como se ela não fosse tão ruim.
Mesmo eu ainda tendo seios, grandes seios por sinal, todos me tratam no masculino.
Me respeitam.
Todos os que trabalham comigo falaram que quando eu estava "dentro do armário" eu era uma pessoa triste, fechada, estressada e tal.
E hoje eles conseguem ver que estou bem mais leve, mais em paz, sabe?
Eu me sinto completo lá.
Mas parte de mim tem estado preocupada, pois quando chegar a minha hora de fazer as malas, quando os grandes decidirem que meus serviços não lhe servem mais, não sei se eu terei forças para recomeçar em outro lugar, tudo de novo, desde o começo.
Eu sei que não vou ficar pra sempre lá, mas quero curtir cada minuto e fazer o meu trabalho sempre da melhor maneira que posso, pq o que estou vivendo lá, achei que nunca viveria, achei que seria impossível, achei que nunca chegaria onde cheguei e muito menos, nunca imaginei, que eu deixaria um legado, ok, legado é meio forte, que eu deixaria uma porta aberta para uma entrada mais "fácil" para os próximos trans que irão trabalhar lá em algum futuro próximo.

Graças a Deus há 7 anos passei na entrevista.
5 anos depois sai do armário.
7 anos e 4 meses ainda estou no time, graças a Deus.
Graças a Deus minha chefe ficava pegando no pé do pessoal da sala, quando me tratavam no feminino, ela corrigia eles na hora até eles se acostumarem, eu não conseguia corrigi-los, me travava, me dava medo, mas ela foi firme e é até hoje e talvez eu não tenha demonstrado isso, mas agradeço muito ela por ter me ajudado nisso, aos colegas, que por mais difícil que seja, apesar das piadinhas que melhoraram bastante rs, conseguiram se adaptar.

Agora quanto a família, muitos já conseguiram se adaptar.
Principalmente meus primos do andar de cima e o amigo que mora com eles.
Da minha prima que vem passar uns dias na casa da mãe dela que já está ensinando sua filha de dois anos desde cedo.
Mas...tirando eles, os outros ainda não conseguiram e como eu disse ao psiquiatra, estou deixando eles terem o tempo deles para se adaptarem, pois cada um é diferente, uns tem facilidade, outros tem mais dificuldade, então, tempo ao tempo.
Eu não sei se é pelo fato de que aqui em casa ainda me tratam no feminino, me chamam pelo nome de registro, que eu me sinto tão sufocado,tão preso e inquieto.
Mas sei dizer que, depois que a minha avó morreu, Deus a tenha, melhorou um pouco pq os primos já mudaram o vocabulário deles em relação a mim e isso me fez respirar um pouco melhor, não sei se quanto todos, incluindo meus pais, estiverem me tratando como homem se vou melhor, eu espero que sim, pq eu já não tenho mais no que apostar pela minha paz.
Mas é o que eu disse, cada um no seu tempo, eu não vou forçar ninguém não.
Temos uma vida inteira pela frente.
Sem falar que, quando outras pessoas da família vem aqui visitar, me tratam no masculino no whats, mas no feminino pessoalmente, a sensação que eu tenho é que eles não querem ferirem a minha mãe, não que isso vá ferir ela, mas a sensação que tenho é que acham que ela não está pronta para a realidade ainda, entendem? Acho que ficam apreensivos de como meu pai vai reagir.
Eu não os culpo. pq meus pais tiveram uma criação completamente diferente do que o mundo é hoje, mas minha mãe se adaptou muito bem com a minha situação e espero de verdade que essa aceitação dela seja verdadeira, não quero que secretamente isso esteja ferindo ela.

Ele me perguntou se quando todo mundo tiver me tratando com um homem de verdade se eu acho que aqui vai ficar mais leve como no trabalho ficou.
Sinceramente? Eu não sei.
Mas acho que sim, espero que sim.

Pq a verdade é que quando estou sozinho, no silêncio da noite ou da manhã enquanto todos não acordaram, meus pensamentos realmente me destroem, falei para ele que tem vezes que saio correndo para trabalhar, parece que o trabalho é meu oxigênio, sabe?
Mas que fique claro que eu amo minha casa, minha família, principalmente minha mãe.

Acho que ele viu que estou bem paranoico, pq pediu para as nossas consultas serem mensais.
Claro que eu não obedeci pq é ridículo, vou passar só em Março agora e fim de papo.
Não gosto dele, ele acha que estou em dúvida sobre minha identidade, mas não estou, é apenas medo do desconhecido, dessa luta, que vou ter que lutar sozinho, pq ela é só minha.
É só medo do que possa acontecer, mas acho que todo mundo tem um pouco de medo quando a aposta em algo novo é grande.

Enfim do enfim hahahahaha
Cuidem-se, ok?
Estarei me cuidado do lado de cá.

E para todos que já me enxergam como homem, meus sinceros agradecimentos.

Obrigado. 

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