Boa noite amiguinhos.
Como vocês estão?
Espero que bem.
Estava aqui pensando, porque quando a noite chega eu fico com tanto medo e nervoso?
Talvez porque com a noite vem o silêncio e com o silêncio vem os pensamentos que nos destroem, aqueles que a gente consegue nos livrar durante o dia.
Medo do futuro incerto.
Medo do que pode acontecer.
Medo do que não pode acontecer.
Medo de tentar e errar.
Medo de tentar, acertar e não saber lidar com isso, porque nunca esteve do lado de lá.
Ou então medo de nunca tentar, nunca saber, enquanto o tempo vai passando.
A vida vai passando e a gente quase que não percebe.
Medo das perguntas que não encontramos respostas ainda.
Medo de admitir que demos vários passos para trás, logo quando tínhamos dado tantos passos pra frente.
Medo de admitir que precisamos, as vezes, de uma pausa.
Medo de não saber quanto tempo precisamos de uma pausa.
Medo de pedir ajuda, achando que é fracasso.
Medo que ninguém entenda por que você novamente caiu e não está conseguindo levantar.
Medo dos julgamentos e olhares.
Pessoas a nossa volta, mas o silêncio reina.
Medo de que não passe nunca, essa sensação ruim, que nos despedaça.
Medo de estarmos ficando loucos.
Porque quando o sol chega, deixando a lua ir descansar, quando a noite deixa um lado do planeta e vai para o outro deixando o dia acontecer, todo o medo que veio com a noite parece tão bobo, tão idiota, que você chega a pensar "Estaria eu ficando louco? Seria esse o fim?"
Medo da falta de compreensão.
Medo da falta da mão estendida.
Medo do olhar com recheio de pena, dó.
Medo de dizer as pessoas que mesmo com medo, achamos fraqueza.
Eu acho fraqueza e sinto medo.
Medo do futuro?
Medo de nunca alcançar os meus objetivos?
Medo de nunca melhorar?
Medo de nunca conseguir me levantar sozinho?
Medo da morte? De enlouquecer?
Medo de lidar com momentos em que você não esta preparado?
Medo de olhar para trás e admitir que a vida era maravilhosa e não saber em que momento em que as coisas começaram ficar do avesso?
Medo de que a vida esta passando depressa demais?
De não conseguir acompanhar o mundo?
Medo da fraqueza?
Medo de admitir que aqueles medos que você tinha superado voltaram?
Medo de ao admitir isso, tornar mais real do que já é?
Acreditar quando dizem que o medo supera a coragem?
Acreditar quando me falam que eu não sou corajoso? Que sou medroso?
Medo de ouvir que a vida esta passando e estou parado exatamente no mesmo lugar?
Medo da falta de compreensão, da falta de entenderem que precisa-se de tempo?
Aquele tempo que já não temos mais.
Medo de admitir que nenhum dia tem o botão de reiniciar?
Medo de admitir que existem erros que não podem ser consertados?
Medo de ver que as coisas estão mudando depressa demais da conta, mais do que você pode acompanhar?
Ou medo de abrir os olhos e ver que nada esta mudando como você queria porque esta parado no mesmo lugar?
Medo de abrir os olhos e se ver em situações de anos atrás?
Medo de machucar as pessoas que você ama?
Medo de acabar a vida sozinho?
Medo de afastar-se do mundo ou o mundo afastar-se de você?
Medo de abrir os olhos e não ver ninguém ao redor?
Medo de admitir o desespero da dor da morte de alguém que não passa?
Medo de que o medo defina você?
Medo de que a força nunca apreça novamente?
Medo de não conseguir superar seus medos nunca?
Medo de que não tenha mais jeito?
De admitir que tudo se perdeu?
Que o mundo não é justo?
Que estamos acabando com o mundo que ganhando para viver?
Medo do fim do mundo?
De se olhar no espelho e ver no que se tornou?
Medo que você não consiga seguir em frente?
Medo de lidar com seus medos?
Medos...
Engraçado ou irônico?
Quando outros estão com medos eu compreendo, quero estar junto, quero ajudar.
Quando eu estou com medo, acho fraqueza, acho humilhante.
Não, não me pergunte porque ou se isso tem lógica, eu não sei.
Eu sei que sou humano e que tenho direito de ter medo também.
Mas não sei porque não posso admitir a mim mesmo.
Não sei porque o nervoso toma a minha mente como um abraço matador de saudades.
Não sei porque me deixo vencer.
Porque ainda quero estar no chão por mais um tempo antes de tentar levantar.
Mesmo sabendo que não podemos controlar o tempo e as coisas, ter medo.
Medo da vida.
Fracote.
Sim, eu sei.
Alguém me disse isso essa semana, que sou medroso, que eu não tenho coragem.
No sentido de lidar com meus pais sobre a minha nova identidade.
Eu não acho que seja falta de coragem.
Assim como eu preciso lidar com todos os meus medos e preciso de tempo para isso, acho que meus pais também precisam de um tempo, para se adaptarem a esta nova identidade, porque não é só trocar os gêneros nas frases, não é só me chamar de Pedro, é aceitar que tudo esta mudando, esta mudando para um rumo totalmente diferente.
É aceitar que eu tenho uma luta diferente e eles não podem me ajudar, tenho que lutar sozinho.
Porque meu amigo, essa luta é minha, só minha e de mais ninguém.
É estranho, por mais que eu queria que esse dia de adaptação deles chegue logo, eu tenho medo, porque quando esse dia chegar, terei de admitir a mim mesmo, que cheguei no outro lado da história e que tudo esta mudado.
Tenho estudado, tentando melhorar profissionalmente, tenho procurado avançar.
Mas o medo de ser descartado do time que jogo atualmente, em quase 8 anos de carreira, não é o medo de apresentar um bom jogo em outro time, mas o medo de ter que começar tudo de novo, de ter que lutar para conquistar tudo de novo.
Ainda bem que amo meu trabalho e tudo o que faço.
Lá me sinto tão bem, tenho quase certeza por poder ser quem sou.
Em casa já não tem mais briga, mas ainda uso máscara, é difícil respirar sem mascara.
Mas eu sei respeitar o tempo das pessoas.
Eu ainda sei esperar elas terem seu tempo de adaptação.
Não sei bem quanto tempo ainda saberei esperar, mas sempre respiro fundo, porque sei que é necessário.
Tudo leva tempo.
O tempo corre, mas é necessário, muito necessário na vida de todo mundo, mesmo que muito de nós não admitimos isso.
E mudando um pouco de assunto.
Continua sendo difícil estar no quarto que era da minha avó.
Nas férias que passou eu ia pintar, mudar algumas coisas de lugar, tentar reinventar.
Não porque não quero me lembrar dela, mas porque a saudade ainda machuca.
Ainda sonho com ela todas as noites.
Ainda me culpo por não ter percebido os sinais de que ela estava na reta final.
A ferida ainda esta aberta e toda vez que estou lá é como se alguém a cutucasse com o dedo para faze-la sangrar mais.
Mas... Não sabemos ainda se vamos ficar neste apartamento ou nos mudar para algum lugar mais barato, dentro do nosso novo orçamento, da nossa nova realidade.
Então não investi no quarto, se ficarmos aqui, talvez eu faça nas férias de agosto, mas até lá, vou sangrando, mas não tenho vergonha de admitir que estou sangrando, porque essa dor, esse sangue, me mostra o quanto amei ela e vou amar para sempre.
O quanto ela me ensinou e me amou.
O quanto foi importante para a minha vida.
E se eu pudesse, pediria desculpas a ela.
Por te-la culpado dizendo que era por causa dela que eu não podia viver sendo eu mesmo.
Porque olhem para a minha vida agora.
O que mudou?
Eu continuo sendo mulher dentro de casa.
Ela se foi e nada mudou.
Teria eu só a usado para justificar os meus pés que não estavam dando passos para frente?
Teria eu usado ela como desculpa?
Teria eu usado essa situação para maquiar o meu medo de avançar na história?
Avançar uma fase do jogo da vida?
É muito fácil quando temos alguém para colocar a culpa.
Eu lamento muito por isso, de verdade mesmo.
Porque no fim, exatamente no fim, percebi que a culpa era minha, só minha.
E não posso falar no passado, porque a culpa continua sendo minha e sempre será.
Me arrependo profundamente de não te-la vistado na última vez que ela foi internada, acho que eu queria acreditar que não era a última vez, não podia ser.
Para mim, se eu fosse, estaria admitindo isso e eu não queria.
Errei demais e não estou sendo homem o suficiente para lidar com meus erros.
Que ironia.
Quero muitas mudanças na minha vida, mas não luto por elas.
Continuo aqui sentado no banco, olhando a vida passar e ficar só imaginando como poderia ter sido se eu tivesse agido diferente.
Lamentando o tempo que não volta.
O leite derramado.
Que ironia, lembro-me de uma vez que minha avó disse que quando ela se fosse iriamos chorar lágrimas de sangue e agora ela se foi e meu coração não para de sangrar.
Acho que dos outros aqui de casa também não, só que ninguém quer admitir em voz alta.
Amanhã tenho um almoço em família lá do outro lado da cidade.
Na casa dos meus primos, que eu costumava ir todos os meses, beber e conversar.
Porque estou nervoso com isso?
Porque minha mãe esta finalmente saindo de casa para ir junto?
Porque não sei se serei tratado como homem ou mulher com a minha mãe lá?
Ou porque estou saindo de casa para ir para um lugar além do trabalho?
Admitir que estou com dificuldade de socializar?
De sair para lugares "novos"?
Ou melhor dizendo, sair da minha zona de conforto?
A vida é complicada demais.
Mais ainda quando não admitimos os nossos medos.
Os nossos erros.
Os nossos lamentos, as nossas lágrimas, o choro escondido no silêncio da noite abraçado no travesseiro, orando a Deus e pedindo que a dor passe.
Não sejam como eu, meus amigos.
Se precisam de ajuda, procurem.
Se precisam de forças, de uma pausa, façam.
Deem o primeiro passo.
Não deixe que o medo domine, porque sinceramente, meus amigos, no fundo do poço não tem água.
Vamos em frente.
Sempre em frente.
Dizem "não olhe para trás"
Mas olhem sim, mas apenas para ver o quanto vocês avançaram, lutaram e conquistaram.
Para verem como vocês merecem tudo aquilo que conquistaram.
Continuem andando e só parem quando conquistarem o topo do mundo.
Sempre, sempre, sempre ao lado de Deus.
E quando precisarem, nem preciso falar, né?
Eu estou bem aqui.
Para o que precisarem.
Bom, me deu fome, vou lá comer.
Cuidem-se.
E tenham forças, esperanças e fé.
Porque no fundo do poço, não tem água.
Porque o tempo não volta.
Porque a vida não tem replay.
Pedro.
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