Boa noite amiguinhos!!
Vim contar mais uma novidade para vocês!!
Quem sabe da minha história, quem sabe da minha luta, sabe o quanto isso é importante para mim.
Meu título de eleitor com meu nome social!!
Ontem marquei de ir lá no poupa tempo, passei o dia ansioso demais da conta, nervoso tbm.
Não com medo de que não desse certo, o máximo que poderia acontecer é eu ter que ir em um cartório porque no Poupatempo não estaria rolando, mas deu certo lá sim.
Tinha 32 pessoas na minha frente, imagina a ansiedade que eu fiquei para chegar meu número logo, parecia que não chegava nunca minha vez, até que consegui respirar fundo, sentei e fiquei mexendo no Facebook, 1hra depois, chegou minha vez, sentei na cadeirinha e com cara de cachorro abandonado, falei para a moça: Oi, eu vim incluir meu nome social no meu Título de Eleitor.
Ela foi super simpática, pediu os documentos, me explicou o processo e em 5 minutos lá estava eu com o novo título na mão. Ah! Tiramos uma nova foto também, disso eu tentei fugir, já que odeio fotos, mas ela me venceu e tiramos a foto.
Eu nem sabia que já saia de lá com o novo título, achei que tinha que ir buscar no dia seguinte, mas lá estava ele na minha mão, ai ela explicou que como é algo novo, quando eu for votar, devo levar o RG também, ah! Isso não é problema, pelo menos dei o primeiro passo e foi ótimo!!
Já fazia alguns dias que eu estava pensando muito nisso, que eu estava com um nervoso misturado com ansiedade, preocupação e medo, já fazia uns dias que eu estava me sentindo meio balançado.
Sim, eu tenho certeza de quem eu sou.
Tenho certeza disso há muito tempo, fui entender isso, entender exatamente, faz uns 10 anos, então, eu não estava balançado porque estava na dúvida de quem eu era, eu estava balançado e com medo do que estava por vir.
É como eu disse para uma amiga hoje, eu nunca estive do lado de lá, eu sempre sonhei com o lado de lá, sempre fechei os olhos e fiquei imaginando como seria, pq eu nunca achei que seria real.
Se alguém me falasse há 10 anos que eu conquistaria tudo isso, estejam certos de que eu não iria acreditar nem por um segundo. Precisei ver pra crer.
Precisei vencer algumas batalhas, precisei chegar até aqui para conseguir acreditar. É real.
Acho que se eu pudesse encontrar a criança que eu fui, eu sentaria com ela e diria para não ter mais medo, pq as coisas estão começando a fazer sentido agora, o mundo esta entendendo, nós estamos vencendo e só vamos parar quando vencermos, finalmente.
Então, aqui vai mais uma carta para ela.
Querida Pri.
Durante nossos 31 anos você votou, mesmo sendo uma personagem, você fez sua obrigação todas as vezes, porque sabia que se não fizesse, poderia me prejudicar.
Hoje, Pri, estou te tirando essa responsabilidade e estou pegando para mim.
Este ano, sou eu que voto.
Finalmente, estarei lá, em pessoa, votando, sendo eu mesmo.
Eu sei que a cada batalha que eu ganho, você deixa de existir.
Mas não se preocupe, eu nunca me esquecerei de onde vim.
Eu nunca me esquecerei de toda a sua luta, de todas as vezes que você não aguentava mais, mas continuava levantando e lutando.
De todas as noites em claro, que passamos chorando.
Eu nunca me esquecerei que estivemos no fundo do posso, praticando mutilação em nós mesmo, com pensamentos suicida e tratamento muito mal as pessoas a nossa volta.
Eu nunca esquecerei das brigas que tivemos com pessoas que amamos muito, por isso.
Eu nunca esquecerei das vezes que você respirou fundo, das vezes que tivemos que levar nossas preces a Deus para ELE nos dar forças para continuarmos dia após dia.
Eu nunca me esquecerei de todos os esforços que você fez, quando pequena, usando aquelas roupas de meninas, tentando ser uma menina, tentando ser real, porque era isso que as pessoas esperavam de você, era isso que a nossa família esperava de você, acima de tudo nossa mãe.
Eu nunca me esquecerei daqueles momentos que você teve que ser mais forte do que nunca, exatamente aqueles que eu nunca falo sobre eles, talvez, porque seja uma coisa só nossa.
Eu nunca me esquecerei do quanto você tentou, dos meninos que você namorou, dos rapazes que você fez sexo, sempre pensando que daquela vez, poderia dar certo.
Das garotas que você não pôde ficar, porque não fazia parte do seu plano de te tornar real.
Das vezes que você ganhava da tia aquelas toalhas com seu nome, desejando dentro de você que fosse o meu nome e não poder falar nada.
E não me esquecerei da cirurgia que fizemos dos seios, quando o Zé perguntou que tamanho você queria e você disse que que bem pequeno, quando na verdade, queria poder falar que queria tirar tudo, mas naquela época, quem que iria entender esse pedido?
Dos vestidos que vestiu para agradar a prima e a mãe e ainda pousar para as fotos.
Lembra quando trabalhamos em um salão?
A chefe sempre metendo maquiagem em nosso rosto mesmo sabendo que a gente não gostava?
As horas sentada na cadeira enquanto a mãe alisava nosso cabelo.
Indo na formatura de cabelo solto.
Lembra quando pedimos pra mãe comprar uma bota?
Lembra quando morávamos na rua tito, teve uma festa, não consigo lembrar de que, mas que a mãe insistia pra gente se vestir igual menina e não queríamos de maneira alguma? Foi uma briga...
Lembra quando brincávamos de boneca?
Ou quando falamos de casar, com o Fábio?
Quando fingimos que estávamos apaixonado por um amigo nosso, o Thiago?
As vezes na praia usando biquíni?
As nossas tentativas de usar maquiagem e só conseguimos um lápis no olho?
Lembra dos brincos combinando com as correntinhas?
Lembra quando fingíamos para a mãe que a nossa namorada era apenas uma amiga?
Quando tudo o que sentíamos tinha que ser mantido em segredo?
Quando alguém especial te pediu em namoro e você foi obrigada a dizer não porque a mãe pegou as cartas trocadas?
Foram tantas coisas Pri, mas tantas coisas.
E eu quero que você saiba, de coração, que todos nós sabemos que você tentou.
E como você tentou.
Você tentou demais.
E você foi tão corajosa, principalmente, porque estava lutando sozinha, você não podia pedir ajuda de ninguém, porque ninguém entenderia nada e mesmo que vc tentasse explicar, te achariam louca.
Na sala da casa da rua tito, brincando com os gatos, vc tirava a camisa e foi foda pra caralho quando os seios começaram a crescer e vc não podia mais tirar.
As vezes que vc brincava com as primas da parte do pai e sempre falava que tinha que ter um pai nessa brincadeira de casinha, mas não era pq vc fazia questão de que tivesse exatamente um pai, mas pq vc queria representar um personagem masculino e não sabia como explicar isso para elas.
Elas não eram como o Duca, elas não entendiam nada e não sei se hoje elas entenderiam, perdi contato, ontem no médico encontrei a mãe delas, mas nem tive coragem de perguntar se ela entendeu alguma coisa agora.
Esta acabando Pri, você tem que aguentar só mais um pouquinho. Só até a vó ficar sabendo.
Aguente um pouco mais, eu sei que vc esta ferida e cansada, mas esta acabando.
Estou me esforçando aqui para que possamos mudar de lugar e essa guerra seja só minha.
Eu certamente não tenho a força que vc tem, muito menos a coragem, mas eu prometo a vc que seguirei os meus anos tentando chegar onde nós queremos.
Eu prometo a você só parar quando chegar lá.
E quando me der medo como me deu hoje, não vai importar, eu seguirei em frente e nós venceremos.
Pri, tudo o que você foi lindo, maravilhoso, emocionante e inesquecível.
Eu nunca me esquecerei de você, jamais.
Eu não tenho vergonha de você, como muitos trans tem, eu tenho orgulho.
E se eu for a metade da guerreira que vc foi, um dia chegaremos lá, eu tenho certeza disso.
Estou, aos poucos, marcando minha presença no palco da vida e com isso você esta marcando, aos poucos sua ausência, mas o show Pri, o show sempre será seu, os aplausos que a gente ouve dentro da nossa cabeça, sempre será para vc, eterna guerreira.
Vc foi grandiosa, vc foi... Pois é.
Não tenho mais o que dizer a vc hoje.
Apenas, aguente mais um pouco, esta acabando e a luta será só minha.
Um dia, você estará livre para ir, é estranho, da medo, eu sei, mas é preciso, é necessário.
Nós conseguiremos, nós venceremos.
E esteja certa, de que quando quiser voltar, eu sempre estarei aqui Pri.
Sempre terá um lugar para você dentro de mim.
Um abraço,
Pedro.
Aproveito para deixar um abraço bem forte para algumas pessoas...
Letícia Pereira que mesmo longe esta sempre me dando apoio e querendo me enforcar quando eu começo com os meus dramas mexicanos.
Aos irmãos Gouveias, que conheço há anos e estão sempre ao meu lado.
A Paula Dias, coisinha fofa da minha vida.
A minha grande amiga Bruna Lima que meu Deus do céu, o quanto ela me aguenta, já ganhou lugar no céu e a mãe dela, Tia D, que me entende mesmo nunca ter me visto.
Ao meu colega de trabalho e amigo William Fernandes, que escuta meus choros entre uma entrega e outra e continua ouvindo meus choros mesmo eu estando de férias e vai continuar ouvindo quando ele tiver de férias.
A minha antiga chefe Patrícia e minha atual chefe Ana Vidal, que conseguiram entender e me ajudaram na adaptação da minha nova identidade.
Todo pessoal da ESPN que respeita minha identidade, nunca achei que seria possível.
Ao Dario, da velha guarda, turma antiga da emissora, que vive corrigindo a si mesmo quando me trata no feminino, ele estar tentando já é significante.
A minha mãe, a mulher mais importante na minha vida inteira, que por mais difícil que tenha sido e continue sendo, conseguiu entender, compreender e aceitar.
Virou parceira, inclusive.
A primoca Analu, que eu amei desde o primeiro momento e que tenho um carinho enorme, sempre me apoiando, lendo meus blog, quase chorando kkkkkkk
Tantas pessoas...
Que se eu for citar todas, vou ficar aqui a noite toda.
Obrigado a todos.
E aguardem.
Logo teremos mais novidades.
Se o STF ajudar né kkkkkk
Um abraço apertado.
Pedro.
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