sábado, 18 de setembro de 2021

Sobre hoje!

 


Boa noite amiguinhos, como vocês estão?

Eu realmente espero que estejam bem.

Vim compartilhar com vocês o que me aconteceu hoje no aeroporto de Congonhas.

Eu fui com uma amiga até esse aeroporto encontrar com os pais dela que estavam chegando de Recife, de lá eles seguiriam para o interior e eu voltaria para SP e como sempre eu exagerei no refrigerante antes de sair, quando tenho que sair, eu evito exagerar, para evitar ter que usar banheiro público, por que? Porque quando é um local novo, eu evito usar o banheiro masculino, por receio, medo, sei lá, das reações das pessoas, eu já estava enfrentando esse problema faz um bom tempo, tanto que abri um debate em um grupo trans do facebook sobre isso e tinha lido sobre um cara que disse que ele usava o feminino, que é melhor as mulheres acharem que somos lésbicas masculinas, do que arriscar e encontrar algum ignorante no banheiro masculino, pois bem, adotei essa ideia, fazia sentido, pelo menos enquanto ainda tivermos aparencia de mulher, me parecia o melhor.

Enfim, me deu uma vontade danada de ir no banheiro, ai virei para a minha amiga e falei que eu ia no banheiro, feminino, que ia logo, pois eu sei que ela iria querer ir e eu não queria encontrar ela lá dentro, não sei explicar, mas não queria que ela me visse lá, jogando a toalha e deixando a sociedade mais uma vez vencer, ela foi legal, esperou eu sair para depois ir, foi de boa.

O problema é que como eu estava decidido de ir no feminino, tomei meu rumo diretamente nele e andei depressa, para essa situação chata passar logo, o que eu não esperava era que tinha um guarda lá, entre os dois banheiros e quando ele me viu em direção ao feminino ele me chamou a atenção, eu voltei, nem entrei no banheiro, voltei e fui ver o que ele queria, foi quando ele me apontou o banheiro masculino e falou que era para ir naquele, quando eu me virei para ele e ele viu meus seios, ele ficou obviamente confuso e perguntou o que eu era.

O que eu era, não quem eu era, mas ok né.

Eu expliquei que sou homem trans, mas que estava indo usar o banheiro feminino por receio de encontrar algum ignorante no banheiro masculino, achei que essa resposta iria facilitar as coisas, mas deu para ver na cara dele que ele ficou mais confuso ainda, então perguntei se eu podia usar o feminino ou se ele preferia que eu usasse o masculino, por respeito as mulheres lá dentro, ele fez um gesto com a mão, tipo "faça oq ue você quiser.", do lado dele, saindo do banheiro, o outro homem me olhando estranho.

Para pessoas que não convivem com pessoas trans ou para pessoas que não tem empatia, isso é bobagem, mas como falei no post anterior, é extremamente cansativo viver em um corpo cujo sexo a alma não reconhece, ter que lidar com as limitações do corpo, ai vem essas situações chatas que te deixam sem graça no meio do público.

Eu sei que tem muitos lugares que estão adotando banheiro sem gênero, eu não vi nenhum AINDA em SP, certeza que tem por aí, mas ainda não é algo padrão que pode encontrar em qualquer lugar que você vai, eu sei que avançamos muito na guerra contra o preconceito, mas ainda tem muitas batalhas pela frente e eu realmente não consigo entender a necessidade das pessoas arrumarem tempo para desperdiçar cuidando da vida dos outros.

Aeroporto de Congonhas, um lugar tão conhecido, para empregarem pessoas que não tem empatia, que não param um minutinho na vida para entender os LGBTQIA+ e poder dar um tratamento só um pouquinho melhor, afinal, não somos todos cidadões? Humanos?

Teve gente que disse que eu deveria ter ficado feliz que ele me viu como homem, sim, isso foi bom, mas não deixa de ser uma situação chata, na frente do rapaz que saia do banheiro me olhando estranho, na frente da minha amiga que não soube como me ajudar, um tempo mais tarde, mostrei a minha amiga que o mesmo guardinha que tinha me colocado nessa situação, estava do outro lado me encarando, não sei se ela conseguiu ver porque tinha um pilar na frente dela e eu falei olha disfarçadamente, mas como se não bastasse, ele ficou ali, uns 5 minutos só encarando e eu, para não esticarmos mais ainda essa situação chata, ignorei, achei que era o melhor a fazer, porqu enão gosto de cena, não gosto de causar, prefiro ficar quietinho no meu cantinho e claro, para melhorar um pouquinho, eu tinha esquecido meu isqueiro em casa, não tinha como sair para fumar para me acalmar um pouco, sim, fumar me acalma e não, eu não pretendo largar.

Eu quis ir embora, na mesma hora, queria sair de lá bem rapido, mas...

Eu estava aguardando o pai dela chegar, uma pessoa muito querida para mim, muito especial, como não esperar a chegada dele para pelo menos lhe dar um abraço?

Fiquei. Fiquei sim, até ele chegar, até ele desembarcar, até ele aparecer, até ele me abraçar, até ele entrar no carro e partir para o interior, fiquei e não me arrependo não.

Eu sempre falei para todo mundo que tenho problemas com banheiros públicos, mas ngm foi muito de acreditar, me falaram "vc não deveria ter ido ao aeroporto" então quer dizer que agora não posso mais frequentar lugares públicos porque eu posso encontrar pessoas ignorantes como o guardinha? 

Eu estou bem cansado, muito cansado mesmo, psicologicamente, como falei no post anterior, estou tão cansado que tenho pensado com muita frequência em desistir, não estou falando em suicidio, fiquem tranquilo, estou falando no sentido de deixar de exigir que as pessoas me tratem como homem, desistir de lutar pelos meus direitos, desistir de ter esperanças de que um dia minha familia (execto minha mãe) um dia me trate como homem, que determinados amigos parem de me dimuir como homem.

Desistir de achar que algum dia vou conseguir juntar 30 mil para a retirada dos seios, desistir de tentar encontrar as respostas das perguntas que me assombram dia e noite há 35 anos.

Apenas, viver meus dias, sabem? Afundar no trabalho como fiz uma vez e deu certo. Parar de choramingar nos ouvidos dos grandes amigos e voltar a postar aqui no blog, que aqui lê quem quer, quem não quer, passa adiante.

Como eu disse para uma amiga ontem, desistir também é um ato de coragem. Tem gente que vê como covardia, bom, veja como quiser, mas prometo pelo menos refletir nos próximos dias sobre isso.

"Poxa Pedro, nadou tanto contra a maré e agora vai morrer na praia?" - Se me der paz...

"Pedro, mais de 600 mil pessoas perderam a vida com uma doença que não tem fim e você aí, vivo, com saúde e reclamando?" - Eu lamento muito por todas as pessoas que morreram lutando conta o covid e pelas mais tantas pessoas que infelizmente ainda vão morrer, mas eu não posso mudar o que está acontecendo e eu nunca disse que os meus problemas são maiores do que a situação mundial, eu apenas estou desabafando, porque pelo menos isso eu acho que eu ainda tenho direito...

Mas é só isso mesmo, um desabafo sobre o que ocorreu hoje.

Amiguinhos, se vocês conhecem um trans, respeitem-o, vocÊs não precisam aceitar, mas o respeito é um direito de qualquer ser humano e pessoas trans tbm tem esse direito.

Pessoas trans tbm tem sonhos, metas de vida.

Pessoas trans tbm tem sentimentos, esperança de uma vida digna, no minimo, respeito e empatia, porque meus amigos, é um tormento muito grande viver dentro de um corpo que sua alma não reconhece, ainda mais sabendo que talvez você nunca atinja seus objetivos para ter a aparência que quer...

É, tem gente ai que acha minha história bonita, que eu sou forte, corajoso, blá blá blá, mas atrás das cortinas, nos bastidores, ninguém nunca sabe o que realmente acontece, porque estão tão focados no espetaculo, no show, que ninguém pensa no que se passa lá trás enquanto o show acontece.

Então ai vai meu pedido, se você conhece um cara trans, uma mulher trans, qualquer um LGBTQIA+, tenha empatia e se não conseguir, tenha no minino o respeito pelo próximo, afinal, respeito a gente aprende desde o berço, não é mesmo?

Um abraço,

Pedro.

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