domingo, 6 de agosto de 2017

Nonato e Ivana #aforçadoquerer


Boa noite pessoal.

Serei muito breve hoje, não sei porque, mas as palavras tem me faltado.
Tenho me sentido travado nos últimos dias, por isso não escrevi desde a novidade da palestra.
Bom, quem assistiu a novela viu a cena acima, sobre a noite que Ivana se vestiu como homem e saiu para dar uma volta e foi barrada por dois homens, bom, eu achei a cena bem fraca e talvez tenha um motivo de ter sido justamente o Nonato, para aparecer ali na hora, como se já soubesse o que ia acontecer e estar por perto exatamente na hora necessária, mas na vida real não é assim não, ok?

Porque não é sempre que temos um amigo por perto para nos ajudar.
Não é sempre que os agressores resolvem deixar pra lá ou agredir apenas verbalmente.
Não é sempre que eles batem e param quando já estão quase matando.

Me lembro de um dia na escola, acho que eu estava na 7º série, há muitos anos atrás, havia umas meninas que ficavam me zuando o tempo todo dizendo que eu era "estranho" demais, um dia elas me encontraram no corredor da escola, me deram vários socos na barriga, o corredor lotado de alunos e ninguém fez nada, ninguém parou pra ajudar, eu cai no chão e lá fique.
Não teve uma sequer pessoa que ao menos me ajudasse a levantar, fiquei lá um tempão, e ninguém parou para me ajudar a levantar, quando o sinal tocou e todos estavam dentro da sala já que levantei, eu estava me sentindo humilhado demais para olhar na cara daquelas pessoas.
Adolescente são muitos maldosos, eu sei e todo mundo sabe.
Mas eu não sabia na época que eram tão maldosos assim.
E ironicamente sempre tive muita dificuldade em fazer amizade, então na época do colégio sempre fui muito sozinho, então tive que aprender a me defender sem contar com ngm, o lance é que eu não soube separar a necessidade de me defender da raiva que eu sentia das pessoas por ter que passar por isso, anos após anos e no fim eu virei um garoto muito agressivo, eu queria bater em todo mundo, eu queria arrumar confusão com todo mundo, acho que eu queria era descontar a minha raiva nas pessoas, mesmo naquelas que nunca fizeram nada para mim.
Da 8º série ao 3º colegial eu era muito briguento, de poucos amigos e pavio curto.
Graças a Deus essa merda de escola acabou, porque foi uma fase verdadeiramente difícil.
Mas na rua, pelo menos eu não consigo lembrar agora, mas acho que não passei por uma fase semelhante a da Ivana, o que acontece quase sempre é aqueles caras dizendo "Sapatão, precisa de uma rola pra virar mulher." ou "vc nunca vai ser um homem de verdade."
Não tenho certeza, mas acho que já falei sobre agressão verbal aqui no blog, uma agressão verbal dói muito mais do que uma agressão física.

Como eu pretendo tomar hormônios antes de fazer a cirurgia (essa decisão é pq juntar grana pra cirurgia em um mundo que tudo custa o olho da cara é foda) talvez eu sofra mais transfobia, principalmente na rua, mas eu já tenho noção das coisas, eu já sei que as chances disso acontecer é de 90%, eu já estou acostumado, mas na novela a Ivana disse que lá fora será mais difícil do que dentro de casa, eu já acho o contrário, acho que em casa é mais difícil do que lá fora, porque lá fora são apenas pessoas, apenas conhecidos, aqui dentro é a minha família. Essa é a diferença, ser agredido verbalmente ou fisicamente pela própria familia é mais doloroso, vc não acha? Afinal qualquer tapa de quem a gente ama dói muito mais,



Acho que foi esse o caso do Nonato, ele teve que aprender a se defender sozinho para sobreviver nas ruas. Acho que toda pessoa da comunidade LGBT deveria no mínimo saber luta de defesa pessoal, eu digo isso, mas nem fui atrás ainda rs.

Agora mudando um pouco de assunto...



Passei a semana inteirinha ouvindo das pessoas que eu deveria aproveitar as férias.
Pessoas falando que eu não sou normal só por não gostar de férias.
Gente, vamos lá, hora de aprender um pouco mais sobre o tio P.
Quando eu estou no trabalho, é uma vida completamente diferente.
Lá eu sou o Pedro, lá eu sou quem eu quero ser, lá eu posso referir a mim mesmo no masculino, lá as pessoas falam comigo no masculino, lá eu sou um homem de verdade, lá eu esqueço completamente que eu sou trans, que tenho um monte de coisas para fazer para que eu seja reconhecido como o Pedro. Lá eu nem lembro que preciso trocar meu nome nos documentos, pq pra mim, já esta tudo mudado, pq as correspondências lá chegam no meu nome, as pessoas ligam no meu ramal falando meu nome, lá eu distraio a mente, esqueço que ainda preciso arrumar grana e coragem pra fazer a cirurgia dos peitos, que preciso fazer terapia de hormônios, lá eu sou feliz, eu vivo por completo, ninguém me faz mal lá, eu vivo sem filtros, sem limites, claro que sempre mantendo a postura profissional, mas lá eu sou eu.
Aqui em casa não, aqui em casa eu ainda tenho que interpretar a personagem, tenho que ficar ouvindo as pessoas me tratando como mulher, tenho que ficar ouvindo as pessoas me chamarem pelo nome de registro, todos me tratando como mulher.
Tenho que ficar vendo minha avó sendo teimosa e egoísta e não poder falar nada.
Tenho que gravar áudios para os meus amigos falando no feminino.
Mas ok, desde o inicio de 2016 eu tenho dado alguns passos e sei que mais importante é a direção do que a velocidade, mas da uma ansiedade de viver sendo eu mesmo que as vezes não da pra manter essa ansiedade dentro de mim mesmo.
Lá no trabalho é a vida que eu quero, aqui em casa eu represento uma personagem q não existe mais.
E eu também não viajo, tenho medo de estrada, de avião, tanto que não me lembro qual foi a última vez que sai de SP.
Então eu sempre acabo passando as férias dentro de casa, representando dia após dia e verdade seja dita isso não é nada bom para a minha estima que ironicamente já esta bem baixa.
Mas temos que ser fortes, eu sei.



E agora vamos encerrar com outro assunto.
Religião é algo que eu não discuto, não debato, não gosto.
Minha avó é fanática em questão de religião.
Ela deita a noite pra dormir ouvindo rádio pregando as palavras, ela acorda e vai pro sofá assistir mais programas de igreja, ela enche o saco de todo mundo que deveriam ir para a igreja, ela julga todo mundo por tudo, ela mente e manipula as pessoas.
E ao ver dela e dos outros religiosos, eu já tenho a minha passagem garantida para o inferno só por ser transexual, por gostar de mulher.
A igreja prega isso o tempo todo.
Mas eu sou diferente, eu não sou religioso, eu apenas acredito em Deus.
Mas o meu Deus é um Deus diferente, o meu Deus entende e sabe que ser transexual não é algo que eu escolhi pra minha vida, pelo contrário, eu sempre fui trans desde criança e o meu Deus enxerga o meu coração e sabe como ele tenta ser o mais puro possível.
O meu Deus sabe que eu tento ser um bom homem, um bom cidadão, um bom filho de Deus.
E sempre tentando fazer o bem sem olhar a quem.
Amando minha família acima de qualquer coisa, mas que Deus sempre estará em primeiro lugar na minha vida.
Me lembro de outra noite, eu estava fazendo oração e falei para Deus sobre isso, sobre ser trans, sobre não ser escolha, sobre confiar e ama-lo, sobre gostar de mulher, sobre tentar ser o melhor cara que eu possa ser, pq ser trans é algo que já nasceu comigo e que eu vou trocar o meu corpo, mas não é porque acho que eu possa fazer melhor, porque estou no corpo errado ou pq sou mal agradecido, vou mudar para me sentir bem comigo mesmo, para me sentir realizado, me sentir feliz, me sentir eu mesmo, poder enfim viver como o cara que eu sou e depois disso peguei no sono rs.

Procurei rapidamente aqui na internet, mas não achei, depois procuro melhor.
Lá fala que comer carne de porco e usar roupas de outros tecidos também é pecado, então, teoricamente ngm pode me julgar pelos meus pecados, pq aqui em casa o pessoal já comeu muita, mas muita mesmo, carne de porco e roupas de outros tecidos então...
Esse é o problema dos religiosos, eles apontam o dedo e julgam, pregam a palavra de Deus, mas não prestam atenção nas coisas que eles mesmo fazem e isso é ridículo.
Ao invés das pessoas ficarem me julgando, deveriam olhar para o próprio rabo, pq é fácil demais falar do outro, mas não olhar para si mesmo.
E todo mundo no mundo é pecador.
Mas mesmo sendo muito julgado e apontado, prefiro ficar na minha, continuar praticando o bem sem olhar a quem e o resto deixo na mão de Deus. Se todo mundo fizesse o mesmo, o mundo seria um lugar mais tranquilo.
Essa é a grande verdade que todo mundo procura.
Eu tinha visto a foto no fb, quando eu achar de novo eu posto aqui.
O lance é que cada um deveria cuidar da sua própria vida e fé.
Até pq tem muitos padres e pastores nas igrejas ao redor do mundo, pregando a palavra de Deus e quando ngm esta olhando comentem coisas absurdas como abusar sexualmente de uma criança indefesa.

Nas últimas semanas tenho dormido muito ruim mesmo.
Todas as noites sonho que contei tudo para a minha avó e que fui atrás de conseguir conquistar aquilo que quero pra mim, afinal, não estou fazendo mal a ngm.
Eu tenho sonhado muito que contei as coisas pra ela e tem dias que acordo rezando para que eu tenha mesmo contado e que o tempo tenha passado e ela tenha aprendido a superar isso como a minha mãe superou, mas nunca é realidade o suficiente.
Anseio muito para a chegada dos próximos passos, acho que talvez seja por isso q ando tão bravo, por ela ser, justamente ela, ser a única coisa que me impede de seguir em frente, por ser ela um muro bem no meio da minha estrada.

É uma situação tanto quanto complicada que exige muita paciência e força.
A minha sorte é que toda vez que eu estou quase perdendo a linha, eu lembro o quanto ela infernizaria a vida da minha mãe se soubesse, ai fica mais fácil de aguentar firme.
Na verdade eu fui meio burro, deveria ter planejado para ela agora que começou as férias, pq eu estarei em casa o tempo todo e conseguiria fazer com que ela descontasse só em mim, mas fico pensando quando eu voltar ao trabalho, tipo, quinze dias seria o suficiente para ela encontrar outro problema para mover a vida dela? Falo assim pq ela não tem problema nenhum e ta sempre falando que ta passando mal por coisas muito besta, mas muito besta mesmo, por exemplo, que se preocupa com a filha que foi ao mercado, durante o dia, com mais de 40 anos de idade ou da sobrinha de 15 anos andando de salto alto, mas ok.
É que com as férias eu poderia ir atras das documentações, atrás de tudo o que eu precisaria para seguir com a minha vida, mas querer não é poder né rs.
Mas não tem problema não, porque eu sei, que um dia chegará a minha vez.
A vez da cirurgia, dos hormônios, dos documentos.
Já esperei 31 anos, não vai me matar esperar mais alguns meses.

Preciso aprender a largar a mão de ser tão ansioso.
De saber esperar.
Tudo tem o seu tempo certo, não é mesmo?

Um abraço.
PD.














Nenhum comentário:

Postar um comentário