terça-feira, 29 de agosto de 2017

VAMOS FALAR NOSSO AMBIENTE DE TRABALHO?!


Boa tarde pessoas.

Hoje resolvi falar sobre onde eu trabalho, eu ia colocar a marca da empresa, mas eu não sei se posso.
Então vai essa mesma ai que representa bem a gente, todo mundo trabalhando juntos.
Desde que me assumi trans, eu tenho ouvido histórias, casos reais de todos os tipos e com isso percebi que tive sorte em estar trabalhando aqui na ESPN, graças a Deus estou aqui há 6 anos.

Eu lembro quando cheguei aqui, vestida de mulher, até bolsa eu usava.
Eu acreditava que só assim eu iria conseguir algum emprego.
Eu me lembro da minha primeira entrevista até hoje.
Mas o lance é que por mais que eu tentasse ser mulher (por causa do corpo) eu tinha uns jeitos de falar com a mão, umas palavras que o pessoal passou a desconfiar de que eu seria lésbica.

Um tempão depois, divulguei ao público (nossa falando assim até parece q sou famoso né kkk)
que eu gosto e gosto muito rs de mulher.
Não posso dizer que não fui bem aceito, eu estaria mentindo.
As pessoas souberam me respeitar.

E ai ano passado eu "divulguei ao público" que sou homem transexual.
Com a ajuda do grupo de diversidade da ESPN (ESPN EQUAL) eu consegui que me deixassem usar o nome social aqui na empresa, meu nome esta no visor do telefone que fica em cima da minha mesa, no listão de funcionários, no e-mail e até mesmo no crachá!!
E recentemente ganhei a liberdade de usar o banheiro masculino na empresa!
Quantas conquistas em um ano, não é mesmo?
E depois de ouvir histórias de pessoas dizendo que ainda precisam viver uma personagem no seu ambiente de trabalho para poder continuar no time, percebi que eu precisava agradecer muito pelas minhas conquistas, agradecer por ser permitido ser quem eu realmente sou.
Eu não posso ser eu mesmo na minha casa.
Na minha própria casa eu tenho que manter a personagem, falar no feminino, ouvir as pessoas me chamando pelo nome de registro, etc.

Mas a ESPN, meus amigos, me deu um segundo lar, uma segunda família.
Aqui na ESPN, eu posso ser quem eu sou e eu me sinto em casa!
Eu me sinto bem, em paz, tranquilo e feliz.
Eu me sinto com espirito leve, alma lavada!
Como não ter um post sobre isso?
Tem que ter sim e acho até que demorou, demorou, mas chegou!

O legal, é que além de eu ser o primeiro homem transexual assumido na ESPN Brasil, as pessoas que nunca tiveram contato com um trans estão cada vez mais me sentindo a vontade para fazer perguntas, para aprender, a respeitar e eu adoro ensinar sobre isso.
Eu espero que eu ainda tenha mais alguns anos vestindo a camisa e suando em campo, porque eu me sinto super bem aqui, as vezes, acordo na depre total, venho pra cá e meu humor já muda no momento em que piso na recepção.
Eu sou muito grato as conquistas, as pessoas que me ajudaram, as pessoas que estão vibrando na torcida por mim, daquelas que acreditam que eu vou vencer mesmo quando eu falo que desisti.

Deixo um forte abraço para o grupo do Equal, a Cacau, Roger, Nanda e todos os outros.
Aquele agradecimento sincero para a minha equipe, que soube se adaptar a minha nova identidade, souberam compreender as coisas, me ajudam quando estou mal e me deixaram ensina-los aquilo que eu sei.

A diretoria, a equipe de Bristol onde tudo começou.
A ESPN.

Eu mais cedo estava muito desanimado, porque liguei na defensoria pública para conseguir um defensor publico, olha só, liguei hoje, dia 29/08 e sabe quando terei a primeira etapa? Dia 23/11/17.
E além de ter todo esse tempo pra esperar ainda nem é garantido que vou conseguir um.
Eles não falam abertamente sobre isso.
E ai que se eu falar que moro com a minha família, eu teria que levar o comprovante de salário de todos eles e isso passaria de 3 salários mínimos, ai já sou reprovado.
Se eu falar que moro sozinho, junto ao meu holerite, levo o comprovante de aluguel, o que eles saberiam que eu não conseguiria pagar sozinho, ou seja, sou reprovado.
É literalmente uma bosta a politica que temos no Brasil, ela serve pra favorecer apenas ricos e bandidos, porque não é possível uma coisa dessa.

E porque eu não pago um advogado particular?
Porque não tenho dinheiro para tal e longe de mim pedir ajuda financeira para o meu pai ou avó, isso é uma luta minha, só minha e eu nem contei pra minha avó ainda rs.

Se desisti? Pela defensoria pública, sim!
O plano b é juntar uma grana mesmo que demore meses ou anos e pagar um advogado que me ajude a chegar até o topo!
Mas beleza, sem pressa, sem problemas.
Esperei 31 anos, o que são mais 2 ou 3.

Só aproveitando, falando rapidamente sobre a novela, esta ai uma das diferenças entre Ivana e eu.
Eu não tive essa coragem que ela teve de chegar na família e contar tudo de uma vez.
Na época em que a minha prima de 14 anos anunciou que estava grávida e ninguém a repreendeu, eu fiquei puto pra caralho e explodi, contei a todos, menos a minha avó, o que não mudou nada, porque ainda tenho que viver duas identidades o que é a porra de um saco do caralho, mas ok.

Achei lindo o Nonato chorando quando a Ivana foi pra casa contar pra família.
A cara da Simone, aquele medo pela prima, estampado na cara dela...
Foi muito tenso.
Me senti mal, pq me faz lembrar de muitas coisas que passei que não foram citadas no blog ou nos meus livros, mas ta sendo bom para irmos aprendendo todos juntos.

Enfim...

É isso ai.

Obrigado ESPN.

PD

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