terça-feira, 22 de agosto de 2017

Trans... Vamos falar sobre transexualidade!


Boa noite amiguinhos, espero que estejam todos bem.
Alguns minutos atrás estava vendo um vídeo do Dan entrevistando um rapaz trans chamado Gabriel.
Não consegui postar o vídeo aqui, mas compartilhei no meu Facebook na esperança que todos vejam.
Para quem ainda não me tem no fb segue link abaixo:

O vídeo foi emocionante, o Gabriel explicou de uma maneira que eu mesmo não conseguiria fazer igual e isso é muito legal, pq eu vejo que cada vez mais, as pessoas estão tentando explicar as outras pessoas o que é a transexualidade, o que é ser transexual.

Uma coisa que ele disse e eu concordo completamente sem tirar nem por:
"A ignorância é a mãe do preconceito."
E a verdade é que ele esta certo, pq se não fosse pela tamanha ignorância do ser humano, não existiria preconceito e acredito que nem racismo existiria, pq tudo se resume na ignorância do ser humano, ainda mais hoje, que você pode achar QUALQUER COISA pesquisando na internet, você joga lá por exemplo transexualidade e vê uma porrada de documentários, de depoimentos, pessoas explicando, casos muito bem detalhados, psicólogos explicando, hoje em dia tem resposta para tudo, só não sabe quem não quer, simples assim e é uma pena que ainda existem pessoas que preferem continuar com essa ignorância dentro deles, infelizmente, temos muito o que avançar ainda e uma das principais coisas é que o Brasil deixe de ser o país que mais mata transexuais em todo mundo, não para dar lugar para outro país, eu jamais desejaria isso, mas para que isso acabe, para que não exista mais na história da humanidade os assassinatos de pessoas trans, por apenas tentarem ser quem realmente são.

O Gabriel citou, eu vou citar e tenho a certeza de que mais uma galera enorme vai se identificar com o que vou dizer. Desde criança, eu sabia que algo estava errado, mas eu não conseguia entender, não conseguia compreender o que exatamente estava errado e o que eu podia para parar de sentir isso.
Quando eu era criança, não tínhamos todas essas informações que temos hoje. Não tínhamos internet e transexualidade não era um assunto que você encontrava em algum livro que poderia pegar emprestado na biblioteca, não tínhamos referências, não tínhamos alguém para dizer o que é que estava acontecendo, não tínhamos nada e vale lembrar que até pouco tempo atrás consideravam a transexualidade uma doença e por isso que nomeavam como transexualismo e infelizmente, nos dias de hoje ainda tem gente que acredita que seja doença, mas não é e essa falta de informação é um dos caminhos que leva as pessoas ao preconceito.
Tem muitas pessoas que ainda não sabem sobre o assunto e eu achei realmente incrível estarem falando e ensinando sobre o assunto na novela das 21h. Alguém me disse uma vez que eu posso passar uma informação para alguém que por algum motivo essa pessoa não me leva a sério ou não acredita no que estou dizendo, mas se uma outra pessoa, que tenha uma imagem mais séria falar exatamente a mesma coisa, a pessoa vai acreditar nessa outra pessoa apesar da informação ser a mesma, o que estou querendo dizer é que as vezes não basta ter um trans na família para ensinar ou um amigo de família, as vezes, tudo o que aquele trans pode ensinar aos demais tem que vir de um outro jeito para que as pessoas possam entender e aqui no Brasil, falar sobre isso em uma novela, eu achei uma bola direta no gol, pq o brasileiro adora uma novela, tem gente que sai do serviço correndo pra chegar em casa a tempo, nem toma banho antes e já vai ligando a TV e sintonizando na novela.
As pessoas no dia seguinte comentam sobre isso, por ser novela, as pessoas estão falando sobre isso e precisamos aproveitar este barulho que a novela esta fazendo e falar com as pessoas que são próximas a nós, ajuda-las a entender tudo isso, pq eu sei, juro que sei, que não é nada fácil para eles como também não é para nós.
No meu trabalho, por exemplo, me perguntaram se Ivana será um personagem trans gay e deu para perceber no rosto deles as expressões de quem estavam confusos e eu sempre tentei demonstrar a todos que eu sou um livro aberto, antes eu não conseguia nem pensar sobre isso, hoje, já consigo falar, responder perguntas, explicar, na verdade, me da até prazer ver que eu mesmo posso ensinar as pessoas a minha volta, eu não forço ninguém a saber não, pq eu acredito que todo mundo tem a sua hora certa e fico mais feliz ainda em ver que os meus colegas estão a vontade para me perguntarem as coisas e tomara que continuem perguntando para que eu possa ensina-los e se um dia eu não souber responder alguma pergunta, terei o maior prazer de pesquisar e passar a informação para eles.
Eu prefiro mil vezes que as pessoas perguntem e aprendam, por mais óbvio que a pergunta seja, do que viverem em uma ignorância que cega eles a ponto de ter um preconceito, pq preconceito meu amigo, não tem tamanho não, preconceito é preconceito e ponto final.

Algumas pessoas ainda falam comigo no feminino.
Pessoas como uma amiga minha do tempo da faculdade, Esther, que meio com aquela frase clássica que todo trans ouve "Eu nunca vou conseguir falar com você no masculino." Acho que é questão de tentar, treinar, se esforçar, sabe?
Ou como alguns parentes meus... Bom, na verdade nenhum parente meu fala comigo no masculino, prefiro pensar que talvez por respeito a minha avó, espera ai, minto, a esposa do meu primo, Analu, que considero ela como uma prima de sangue também, ela fala no masculino comigo sim, ela sempre lembra, ela é uma querida!
Os meus amigos, simplesmente esta ficando cada vez menor o numero de pessoas que falam no feminino comigo, da para contar nos dedos já e isso me deixa feliz, pq eu nunca, juro pra vc leitor, eu nunca achei que um dia eu conquistaria tudo isso.
O Gabriel disse no vídeo que cada um tempo o seu tempo, como ele teve o dele.
Isso é algo que concordo com ele também, pq sinceramente eu levei muito tempo para me aceitar, mas muito tempo mesmo, nossa senhora, anos! Pq eu tinha medo da rejeição, medo da rejeição da família, dos amigos, de Deus, eu tinha medo de ficar sozinho, de acabar a vida sozinho sem ninguém.
Você deve estar se perguntando como que eu perdi o medo.
A verdade é que eu não perdi, eu ainda tenho, mas agora teno muito menos do que antes.
Em algum momento as coisas mudaram, pq eu simplesmente não estava mais conseguindo guardar as coisas dentro de mim, é como se tudo dentro de mim tivesse queimando e eu precisava desesperadamente me livrar disso, era horrível, me comia por dentro, me deixava sem ar, me matava aos poucos! Ainda me come, ainda me machuca, ainda me queima, ainda me deixa sem ar, pq eu ainda não sou livre. Todas as vezes que rola uma discussão em casa, uma briga ou uma gritaria eu quero aproveitar o momento e gritar também, expor tudo pra fora, mas só quando minha avó esta envolvida, eu fico esperando que alguém erre ou que ela mesmo cometa algo que deixaria a família toda puta, para eu explodir também e ser tudo uma explosão só, um estrago só, um escândalo só, para depois disso, com o tempo, cada um lidar com as coisas de sua maneira e podermos superar isso, podermos seguir em frente, pq é como a esposa do Garcia na novela A força do querer disse, a vida passa rápido, a vida passa muito rápido mesmo e a gente nem percebe isso, só lembramos disso quando estamos fazendo aniversário ou quando já estamos no último estágio da vida, é como aquela frase de que a gente acorda no fim da vida.
E poxa, eu só tenho uma vida caramba, eu só tenho essa, pq eu tenho que ficar vivendo pela metade sendo que eu não escolhi ser trans?
E vale lembrar que os números mostram que a média de uma vida trans é até os 33 anos.
Imagina se isso se aplicasse a todos os casos do mundo, eu só teria mais dois anos.
Pq as pessoas não podem ser mais compreensivas? 
Ou então apenas cuidar de suas próprias vidas sem se intrometer em como o outro esta vivendo?
Pq?
Pois é.

Uma última coisa que quero citar que ouvi do Gabriel e concordo com ele, foi o caso de uma ex-namorada dele, não entendi muito bem, mas me parece que a namorada o conheceu como lésbica e com o passar do tempo que ele foi se descobrindo transexual e compartilhando essas coisas da vida dele com ela, a garota passou a olhar para ele com nojo e o relacionamento obviamente não deu certo.
Isso já aconteceu comigo também.
Amy. Era o nome dela.
Nós ficamos juntos diversas vezes, tempo pra caramba, muito antes de eu me entender como trans.
Foram 7 anos de idas e vindas e quando contei a ela que eu era trans, nós não estávamos mais juntos, mas a reação dela foi "Se você soubesse como eu odeio homens não se tornaria um." E foi ai que percebi que a amizade dela não ia ser boa para mim, pq primeiro, que ninguém, gente presta atenção no que o tio P vai dizer: NINGUÉM ESCOLHE SER TRANSEXUAL, OK?
SER TRANSEXUAL NÃO É UMA ESCOLHA!
NÃO É ALGO QUE VOCÊ ACORDA NUMA BELA MANHÃ DE DOMINGO E SE DECIDE: DAQUI PRA FRENTE VOU SER TRANSEXUAL, NÃO FUNCIONA ASSIM, SIMPLESMENTE É, SIMPLESMENTE ACONTECE E ACONTECE MUITO ANTES DE O PRÓPRIO TRANS SABER. NÃO É POSSÍVEL QUE A IGNORÂNCIA DO SER HUMANO SEJA TÃO VENENOSA ASSIM.

Enfim, hoje não temos mais contato.
Se sinto a falta dela?
Sinto, sinto sim, pq meus amigos que já eram meus amigos na época sabem tudo o que passamos.
Sabe da história turbulenta que enfrentamos.
Passamos por muita coisa, passei mais coisa com ela do que com qualquer outra namorada.
Mas se esta é a decisão dela, a opinião dela, quem sou eu para querer mudar alguém?
Eu só posso ensinar as pessoas e só ensino quando elas estão disposta a aprender pq simplesmente não tem como ficar dando murro em ponto de faca, não é mesmo?

Concluindo esse pedaço onde falo sobre o vídeo do Gabriel, reforço para que vejam o vídeo no meu Facebook. Vale apena.

Agora, apesar de meu texto estar bem longo e eu preciso dormir pq amanhã levanto cedo para trabalhar, graças a Deus, vamos falar só um pouquinho da novela.

A psicóloga da Ivana mostrou para ela que ela estava se referindo a si mesma no masculino e a Ivana não tinha percebido isso. Bom, comigo não foi bem assim, foi mais sofrido, eu não conseguia me referir no masculino, parecia que tinha algo dentro de mim que impedia pronunciar palavras no masculino quando se tratava de mim mesmo, algo me segurava, isso eu fui conseguindo conquistar aos poucos, antes eu só falava com melhores amigos, depois fui falando com amigos, conhecidos, colegas e aos poucos fui aceitando e liberando, mas confesso para você que foi um trabalho de meses, não foi coisa de um dia para o outro ou de uma semana para outra, foram meses.
E isso é muito difícil, pq eu tenho que me policiar, pq querendo ou não eu ainda vivo duas identidades, em casa infelizmente ainda sou a Priscila, mas fora de casa, por exemplo no trabalho, eu sou o Pedro, o meu eu real.
Só que tenho que policiar para não falar no masculino em casa e no feminino no trabalho, pq foi tão difícil conquistar isso no trabalho, demorou um pouco até que todo mundo se acostumasse com a minha nova identidade que eu não quero por nada a perder colocando palavras femininas no meu eu.
Em casa não posso falar no masculino, não me autorizo, não quero fazer mais barulho do que já fiz.
E hoje por exemplo, eu estava fumando no quintal com a minha mãe, a gente sempre fuma juntos, conversamos sobre o dia a dia, ela estava quase entrando quando eu soltei alto e claro "Pedro Batman recebeu um e-mail" ao ver que a notificação no celular e quando percebi que falei algo com ela ali fiquei me sentindo mal, pq eles não estão prontos ainda para lidar com isso e é como eu disse ali em cima, cada um tem o seu tempo e longe de mim querer pressionar qualquer pessoa.
O ruim é que parece que cada vez mais que o tempo vai passando, vou tendo mais dificuldade em me policiar, em segurar essa bola de fogo dentro de mim por minha avó não saber, por viver pela metade.
E sendo sincero com você que esta lendo essas linhas, eu tenho um medo enorme do que possa acontecer quando eu explodir, as vezes, me pego até pensando se não seria melhor eu morar num hotelzinho de 5º categoria sozinho mesmo para dar paz para o povo de casa.

Arg, minhas costas estão queimando, são esses intrusos (peitos) pesados que um dia eu ei de tirar.
Mas voltando a novela, teve a cena da Ivana e Joyce também.
Quem assistiu viu que cena forte que foi, cheio de emoções.
Eu entendo de verdade a explosão da Ivana, inclusive, como já falei diversas vezes, tenho medo de explodir também, só que pelo que me conheço, naquela hora que ela estava gritando com a mãe dela, se fosse eu, já teria falado ali mesmo que sou trans.

Mas eu não posso dizer que não entendo a Joyce.
Se fosse alguns anos atrás eu não teria entendido e ainda teria dito que a Joyce não passa de uma egoísta querendo que a filha faça só o que ela quer.
Mas é duro para uma mãe. É muito díficil para ela também.
Não posso dizer com todas as palavras pq eu nunca estive grávido rs, mas pelo que eu ouvi por ai, a mãe desde a gestação já sonha uma vida inteira e perfeita para a filha ou o filho, faz planos para a vida toda, principalmente mães de garotas que já planejam o casamento da filha quando ela ainda é apenas uma criança.
É como vc sonhar que vai se formar em direito por exemplo, ser um advogado bem sucedido, irá casar aos 30 anos e ter uma filha e um cachorro, mas por algum motivo que nós não conseguimos entender, esses planos não dão certo e tudo vai por água abaixo e sejamos sinceros, nós ficamos chateados, magoados, alguns até entram em depressão. Então é preciso entender todos os lados, mas é como eu disse ali em cima, se fosse alguns anos atrás eu não estaria dizendo isso, mas fui entendo as coisas ao longo do tempo e acredito que talvez possa ser assim também para os pais.
Talvez eles precisem de tempo e não podemos tirar esse tempo deles.
Não no caso do meu pai, como a gente não se fala, a opinião dele não pesa no balanço da minha vida, simples assim. Gostou, gostou, não gostou ema, ema ema, ema.
Não estou dizendo que não o amo ou não me importo com ele, estou dizendo que se ele não me aceitar quando souber com as palavras saindo da minha boca, o que ele acha ou deixa de achar não vai me fazer parar.
Meu pai é meio que um cara que só pensa nele, tem bom coração, mas pensa muito só nele.

E preciso dizer que no momento em que a Joyce e a Ivana estavam brigando, o que me veio a cabeça é será que vou conseguir olhar nos olhos da minha mãe quando as mudanças começarem aparecer? Quando eu estiver com barba e falando grosso?
Será que vou conseguir conviver com as pessoas aqui de casa?
Será que vou querer manter contato com a família?
Será que vou continuar aparecendo nas festas de família?
Ou vou querer me isolar do mundo?
Na verdade, o que me preocupa mais em tudo isso, realmente é a minha mãe.
Pq a minha mãe, meus amigos, não é só a minha mãe, ela é a minha companheira, minha melhor amiga, minha confidente, ela é a pessoa mais importante em toda a minha vida.
Eu faria qualquer coisa por ela, qualquer coisa mesmo, eu a amo tanto que se ela virasse pra mim e pedisse que eu faça só a cirurgia dos peitos, que não tome hormônios, isso pesaria tanto na balança da minha vida, mas tanto, que eu pelo que me conheço, atenderia o pedido.
Pq sabe gente, quando vc ama alguém, vc simplesmente faz qualquer coisa por ela.
Qualquer coisa no mundo.
Mas todo amor tem um limite e meu limite começa no momento em que eu preciso ser eu e viver como eu realmente sou, mas se for só fazendo a cirurgia e mudando o nome nos documentos, para mim seria suficiente, apenas se ela me pedisse para não fazer, qualquer outra pessoa que me pedisse o mesmo á teria a resposta na hora: Não. Eu não vou deixar de fazer por vc.
Engraçado né?
Eu lembro de um ex-terapeuta meu dizendo que o que tenho pela minha mãe é obsessão.
Bom, eu não concordo com isso, pq se isso não é amor, meus amigos, então não existe mesmo amor.

Bom já falei demais hoje né, chega!
Ah! E respondendo uma pergunta que me fizeram:
Sim, eu tenho medo de morrer sem ter realizado este meu único sonho de vida.

Obrigado a todos.

Abraços.

PD.

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