domingo, 31 de julho de 2016

DREAM...


Falando sobre sonhos agora... Qual é o seu sonho? Sei que temos vários sonhos na vida inteira. Mas qual é o seu sonho do momento? Ou qual é aquele sonho que você sempre teve, quase nunca falou sobre ele e tem só um pouquinho de esperança que vai realizar um dia?

Bom, eu tenho vários sonhos também. Mas o meu sonho atual, o que esta na minha mente agora eu acho que todo mundo já esta sabendo dele rs.

Meu sonho é conseguir trocar toda a minha documentação legalmente.
É conseguir um dia fazer a cirurgia dos peitos e tomar hormônios, ganhar forma masculina.
É ser um cara bom, honesto, desses que é difícil de encontrar por ai, sabe?
Trabalhador, gente fina, de família, de Deus. Um cara amigo, um cara feliz.

É quebrar as barreiras, é vencer a luta contra mim mesmo que venho lutando há 30 anos.
É encontrar uma mulher que me aceite como sou e pedir a ela que seja a minha parceira pelo resto da minha vida. Termos nossa casa e quem sabe um filho ou dois.

É que a minha familia me reconheça, me aceite e me respeite como sou.
É que os tranfóbicos parem de nos matar pq só quem pode nos julgar é o nosso Deus.
É poder andar por ai se medo de ser espancado só pq sou diferente do restante do mundo.

É visitar a casa dos meus pais em um domingo com a minha mulher para almoçarmos todos juntos.
É receber meus pais em casa para uma pizza em um sábado a noite.
E se não der os filhos, uns cachorros, gatos, uma turma de animais rs.

É passear no parque com a minha namorada sem que todos fiquem me olhando com cara de nojo.
É jogar no lixo todos meus sutiãs porque eu conquistei e concluí a minha transição.
É poder andar sem camisa depois de um jogo de futebol com os amigos.
É poder parar de ficar ouvindo "Mano se vc quer ser macho se comporta como um"

São sonhos tão simples, mas são julgados de uma maneira tão triste..
E pior ainda é sempre lembrar que só temos uma vida e sem direito a replay ou reset rs...
O tempo que nos foi tirado, que tivemos que viver dentro do armário, nunca mais voltará a nós.
Mas quem sabe, algum dia talvez, possa alcançar os meus sonhos e toda a luta ter valido apena :)

Gordofobia... Basta!


Hoje quero falar sobre a Gordofobia. É incrível como apesar de estarmos em 2016 e as pessoas ainda tem preconceito com pessoas que estão acima do peso ideal. Fico pensando, será que vocês, preconceituosos contra gordos já pararam pra pensar que talvez aquela pessoa esta com algum problema de saúde que não consegue emagrecer? Algum problema psicológico?

Já parou pra pensar que aquela pessoa pode estar se sentindo bem assim mesmo?
Porque sabe, pessoas gordas são bonitas também. São sexy também. E o seu preconceito é ridiculo.
Não estou falando de mim. Mas existem belos exemplos como a Melissa Mccarthy, a atriz que fez Gilmore Girls:


Eu ficaria com ela fácil fácil. Galera, as vezes vocês julgam uma mulher por ela ser gorda mas acabam perdendo a chance de conhecer a pessoa incrível que ela é! Outro exemplo de mulher fantástica: Adele:



Parem de Gordofobia! Parem agora! Além de feio vc acaba saindo como um idiota!

A minha predileta!

Preta Gil...

E alguns homens:





STOP NOW, OK?

NÓS GORDINHOS TAMBÉM SOMOS HUMANOS, TAMBÉM TEMOS SENTIMENTOS E NÃO PRECISAMOS DA SUA OPINIÃO. GUARDE PARA VOCÊ.


sábado, 30 de julho de 2016

Como respeitar uma pessoa transexual



Bom, vamos lá! Desde que eu me assumi publicamente onde eu trabalho, obviamente, algumas pessoas ficaram com um pé atrás de como falar comigo, de como conversar comigo sem faltar com o respeito ou evitar que fique um momento estranho. Então depois de uma leve pesquisa achei alguns tópicos que ajudam muito então quem quiser, fique a vontade para conferir abaixo:

1 - Respeite sua identidade de gênero. De agora em diante, pense nesta pessoa de acordo com o gênero pelo qual ela se refere a si mesma, com o nome e o gênero gramatical ("o", "a", "ele", "ela" etc.) escolhidos, independente de sua aparência física (a menos que a pessoa ainda não tenha se assumido - pergunte, para saber com certeza, se há momentos inadequados). Por exemplo, eu, sou assumido em todos os lugares, publicamente. Porém peço que evitem de me chamar no masculino onde moro porque meus pais ainda não estão conseguindo lidar com isso, mas de todo o resto, é livre.

2- Cuidado com o pretérito imperfeito. Quando estiver discutindo o passado, tente não usar frases como “quando você estava no gênero anterior” ou “nascido homem/mulher”- ou, ao menos, tome cuidado quando fizer isso - pois muitos transexuais sentem que sempre foram do gênero com o qual se afirmam, mas tiveram que esconder isso por razões diversas. Pergunte à pessoa transexual como ela gostaria que falassem dela no passado. Uma solução é evitar referir-se ao gênero quando falar do passado, usando outros pontos de referência, como “no ano passado”, “quando você era criança”, “quando você estava no ensino médio”, etc. Se você precisa referir-se à transição de gênero quando estiver conversando a respeito do passado, diga “antes de você assumir o seu verdadeiro gênero” ou “antes do início de sua transição” (quando aplicável).


3- Use uma linguagem apropriada ao gênero da pessoa. Pergunte qual gênero a pessoa transexual prefere que seja usado em referência a ela e respeite a escolha. Por exemplo, alguém que se identifica como mulher pode preferir palavras e pronomes femininos, como ela, delaatriz, garçonete, etc. Por outro lado, alguém que se identifique como homem pode preferir termos masculinos como ele, dele, etc. Use o nome que for da preferência da pessoa.

  • O seu amigo João acaba de se revelar como uma pessoa transexual e agora deseja ser chamado de Maria. A partir desse ponto, não diga “este é o meu amigo João, eu conheço ele desde a quinta série”. Ao invés disso, diga “esta é minha amiga Maria, eu conheço ela desde a quinta série”. Discuta qualquer coisa que deixe você desconfortável ou confuso em outro momento, em que você e Maria possam conversar a sós. Definitivamente, se você quer manter a amizade da pessoa, é preciso respeitar o desejo de Maria e se referir a ela como quem ela é hoje, e não como aquela pessoa que você conhecia; apesar do fato de que a pessoa transexual é aquela que você conhecia: você só passou a conhecê-la ainda melhor agora.
4- Não tenha medo de fazer perguntas. Algumas das pessoas transexuais, mas certamente não todas, responderão a perguntas relacionadas à sua identidade e/ou gênero. Não espere, no entanto, que ela seja a sua única fonte de aprendizagem. É responsabilidade sua informar-se por conta própria. Além disso, se uma pessoa transexual não se sentir confortável respondendo às suas perguntas, não tente “forçá-la a se abrir”. Por último, perguntas sobre órgãos genitais, cirurgias e nomes anteriores devem apenas ser feitas caso você precise sabê-las para oferecer algum cuidado médico, ter relações sexuais com a pessoa transexual, ou caso necessite do nome original por razões legais.

5- Respeite a busca por privacidade da pessoa transexual. Não exponha-a sem o seu consentimento explícito. Contar às pessoas que você é uma pessoa transexual é uma decisão muito difícil e não deve ser tomada levianamente. “Tirá-la do armário” sem o devido consentimento é uma grande traição de sua confiança e pode possivelmente custar o seu relacionamento com a pessoa. Dependendo da situação, pode também colocá-la em risco de sofrer uma grande perda — ou até mesmo violência física. Ela contará a quem desejar, se ou quando estiver pronta. Este conselho é apropriado tanto àqueles que vivem como transexuais integralmente como aos que ainda não realizaram sua transição. Muitos dos que vivem integralmente em seu papel de gênero adequado desejarão que as pessoas que não os conheciam em seu gênero anterior não os conheçam em qualquer outro gênero que não seja o atual.


6- Não pense que você já conhece a experiência da pessoa. Há muitas formas diferentes em que as diferenças de identidade de gênero podem se expressar. A ideia de se estar “aprisionado no corpo de um homem/de uma mulher”, a crença de que mulheres ou homens trans são excessivamente femininas ou masculinos, a crença de que todas as pessoas transexuais querem realizar o tratamento com hormônios e/ou cirurgia, todos são estereótipos, que se aplicam a algumas pessoas mas não a outras. Guie-se pelo que a pessoa lhe disser a respeito de sua própria situação e escute-a sem noções preconcebidas. Não imponha teorias que você aprendeu, nem presuma que a experiência de outras pessoas transexuais que você conheceu ou a respeito de quem você ouviu falar se aplica à pessoa que está à sua frente. Não presuma que ela realizará a sua transição por traumas passados em sua vida ou que está modificando seu gênero como uma forma de escapar de seu próprio corpo.


7- Comece a reconhecer a diferença entre identidade de gênero e sexualidade.Não presuma que o gênero de uma pessoa se correlacione à sua sexualidade —não é assim. Há pessoas transexuais heterossexuais, gays, lésbicas, bissexuais, pansexuais e assexuais. Se a pessoa revela a você a sua orientação sexual, use os termos que ela usar.


8- Trate as pessoas transgênero da mesma maneira. Enquanto ela pode gostar da atenção extra que você a dá, sem dúvida o ato de exagerar não será tão apreciado. Depois de estar bem informado, cuide para não se exceder. Pessoas transexuais têm essencialmente a mesma personalidade que tinham antes de sair do armário. Por isso, trate-as como você trataria qualquer outra pessoa.
  • Esteja disposto a ouvir. Muitas pessoas trans vivem em comunidades pequenas, onde o compartilhamento da sua experiência fica limitado aos seus semelhantes. Muitas vezes, para elas, ser capaz de explicar a sua experiência e instruir as pessoas sobre a transexualidade é construtivo tanto para elas quanto para você.
  • Seja direto. Se estiver achando alguma coisa difícil, avise. Para elas, uma reação honesta e direta é bem mais fácil de lidar do que um “corte”.
  • Saia com a pessoa transgênero. Faça disso algo normal – acostume-se com ela no jeito como ela se apresenta, e mais cedo ou mais tarde você vai perceber que não é uma pessoa estranha, mas sim uma pessoa como outra qualquer. No fim, você pode acabar ganhando um(a) grande amigo(a).
9- Quem começa a expressar um gênero diferente daquele determinado no nascimento está, em geral, passando por um momento que alterará sua vida para sempre. Paciência, compreensão e disposição para discutir as questões trazidas por estas mudanças a ajudarão na passagem por este difícil e emocional período de sua vida. É melhor fazer perguntas abertas, que permitam à pessoa compartilhar experiências na medida do possível. Por exemplo: “Como vão as coisas”; “Você parece cansado. Quer conversar a respeito?”; “Você parece bastante feliz hoje. Aconteceu algo bom?”; “Como posso ajudar neste período de mudanças?”; “Sou todo ouvidos caso você queira conversar a respeito de algo”.

10 -  Evite perguntar a respeito dos órgãos genitais de pessoas transexuais e sobre como elas têm relações sexuais não é apropriado, da mesma maneira que não o é perguntar a respeito da vida sexual aos cissexuais (pessoas cujo corpo naturalmente corresponde à sua preferência de gênero).

11- Evite o uso de gírias transfóbicas, como “traveco”, “veado” ou “sapatão”. Estes termos são opressivos, objetificadores e desumanizantes.

12- Não realize comparações com pessoas não transexuais, direcionando-se a elas como um garoto ou garota “reais” ou “normais”. O que faz de um homem um homem “de verdade” ou de uma mulher uma mulher “de verdade” é a forma com a qual se identificam a si mesmos, e não como outra pessoa percebe ou classifica seus corpos. Um homem transexual não é menos homem do que um homem cissexual, e uma mulher transexual não é menos mulher do que uma mulher cissexual.

13- Nunca diga a uma pessoa transexual que as pessoas não as compreenderão ou amarão por causa de sua identidade transexual. Isso é incrivelmente doloroso, e ainda mais, não é verdade. Muitas pessoas transexuais são compreendidas, aceitas e amadas.

14- Mesmo que você tenha objeções à identidade transexual da pessoa, você deve sempre respeitá-la e jamais envergonhá-la propositalmente em público. Causar vergonha ou humilhação à pessoa transexual jamais trará o bem a ninguém, e fazê-lo pode ser algo perigoso a ela.

15 - Tome muito cuidado quando se referir à identidade transexual de alguém como uma “escolha”. A disforia de gênero, por sua própria definição, não é de forma alguma uma escolha. Algumas pessoas transexuais descrevem a sua identidade como uma escolha, e algumas não. Para alguns, a “escolha” foi alterar seus corpos para adequar-se à mente. Encontre maneiras de respeitar a identidade de uma pessoa que não se baseiem no fato de ela optar ou não por ela.

Enfim, falando apenas por mim mesmo, eu estou aberto a responder qualquer tipo de perguntas/duvidas que tenham sobre mim. Prefiro que me perguntem, que a gente se entenda, do que ser ignorante e perder uma amizade por falta de informações, ok?

Por hoje é só galera.

Abraços.

Pedro.

















Desabafo da semana


Hoje vou falar sobre o que a maioria dos homens trans, inclusive eu, temos a tristeza de escutar:


"Já que você quer ser homem se comporta como homem" 
- Jovem, eu não "quero" ser um homem, eu sou. E sinceramente, quando o homem trans vem de uma família religiosa, você não tem muita escolha. A minha escolha foi a de montar uma personagem e de encenar tão perfeitamente onde todos acreditassem, porque ninguém na aceita que você é diferente de todo o resto, incluindo, as gerações que se foram. Então imagina só se você, por exemplo, viveu 30 anos como homem cis e um dia sem explicação alguma acorda em um corpo de uma mulher. Não vai conseguir se comportar como uma mulher da noite pro dia. Você vai se adaptar as coisas novas. O que estou tentando dizer jovem, é que agora, eu estou começando a ser eu de verdade. Sem filtros, sem máscaras, sem personagem, sem nada. Bom, não posso dizer que estou sendo eu 100% porque em casa eu ainda estou interpretando uma personagem só para ter paz e sossego, mas fora de casa, as pessoas estão começando a ver pela primeira vez o meu eu original. Depois de 29 anos em uma personagem que eu lutava diariamente para interpretar mesmo me machucando muito, mesmo sendo contra tudo o que eu queria... Bem, a gente faz o que tem q ser feito até onde conseguimos aguentar. Então não diga isso, não é legal, ok? Alias, não é só porque sou homem que preciso ser uma cópia de todos vocês. Na verdade, quero mesmo, é ser um homem melhor do que muitos por ai que não são dignos de serem homens.

"Mas você tem vagina então você é mulher"
Cara, na boa. NÃO É A GENITÁLIA QUE DEFINE QUEM VOCÊ É. Você tem que aprender a ver as pessoas por dentro. O que esta dentro do coração dela, o que esta dentro da mente dela, como é a alma dela. Eu tenho peitos (por enquanto) e vagina sim e nem por isso sou menos homem que os demais. Ultimamente eu tenho deixado minha vida um livro aberto para todos conhecerem e aprender junto comigo. Se você ainda não entendeu o que eu quero dizer, vá atrás de informações, não seja ignorante, não vale apena. E se quiser, podem até perguntar para mim que eu respondo com toda a sinceridade do mundo. Mas corta essa cara. Genitália não é nada. O que vale é o que esta por dentro. Meu coração, minha alma.

"Você parece um homem de verdade"
Galera, não. Ok? Não seja ignorante. Todo homem trans é um homem de verdade.

"Você só vai ser homem quando tiver um pau de verdade"
Você só vai ser um ser humano quando tiver conhecimento e vontade de aprender.

A verdade é que somos julgados o tempo todo sendo que nós só queremos viver como realmente somos. Na minha opinião apenas Deus pode julgar. Nós temos é que aprender a amar uns aos outros como ele nos pediu. Não estamos fazendo nada demais, só queremos viver. Acho que deveriam direcionar toda a raiva e ódio para pessoas que abusam sexualmente de crianças, animais, pessoas que batem em idosos indefesos, filho que mata a mãe, pai que mata o filho, ex-namorado que assassina a ex-namorada porque ela terminou com ele. Vocês deveriam parar um pouco e conhecer nós transexuais de perto para ver que muito pelo contrário que vocês pensam, nós somos do bem e queremos viver com nossos direitos tanto quanto vocês. Pq é tão dificil entender?

domingo, 24 de julho de 2016

Não tem coragem aqui.


Nesses últimos tempos muitas pessoas me falaram "Parabéns pela coragem" e também "Te admiro pela sua coragem" ou até mesmo "Você é um dos que vai mudar a história".

Sabe o que é pior? Eu não sou corajoso assim, não como as pessoas pensam que eu sou.
Na verdade eu não sou nem um pouco corajoso, eu sou covarde por inteiro e isso me deixa realmente muito puto da vida.

É engraçado, toda vez que eu escuto alguém dizendo de toda a força que vê e mim, toda a coragem e blá blá blá eu só lamento. Porque nada disso é verdade. Não estou dizendo que eles estão mentindo, estou dizendo que eles estão vendo coisas onde não tem.

Eu sou covarde o suficiente para achar que nunca vou conseguir fazer a cirurgia.
Eu sou covarde o suficiente para nem sequer procurar um advogado que cobre um preço bacana para ir comigo até o juiz e convencer ele de que eu tenho 100% de certeza que sou transexual e preciso mudar de nome, porque tenho medo do que pode me acontecer se eu mudar toda a documentação e não ter feito a cirurgia.

Eu sonho acordado com o dia em que vou levantar de manhã, me olhar no espelho e gostar do que estou vendo, de pensar como eu estou com preguiça de fazer a barba. Mas eu tenho medo de começar a tomar hormônios sem antes ter feito a cirurgia, de novo, por medo.

Eu não mereço admiração. Eu não mereço ser chamado de corajoso. Pra mim o corajoso não tem medo, ele enfrenta o que for. E se por acaso bater um pouco de medo, ele enfrenta com medo mesmo e eu não sou assim. Se eu fosse, já teria dado inicio a minha transição a muito tempo. Mas eu estou sempre preso no "e se..." da vida. Essa é a verdade e ela esta ai toda linda pra você leitor.

A cirurgia esta um pouco distante de acontecer não só por que ela é caríssima, mas como tenho vários problemas de saúde também tenho medo de morrer na mesa da cirurgia. A coragem leitor, é para quem realmente merece. Não são para nós, perdedores.

Sim, eu sei que eu dei um passo muito importante. Eu fui reconhecido como homem transexual na Empresa onde trabalho, as pessoas estão tentando se adaptar a mudança e sou muito grato por todos os envolvidos. São pessoas, que com certeza, eu nunca esquecerei do que fizeram por mim.

Mas sabe é complicado viver assim. Digo...

- Eu quero passar a maquina 1 na cabeça inteira. Não tenho saco nenhum para ficar tentando arruma-lo de algum jeito decente todos os dias. Mas eu nunca faço acontecer. Porque o medo me impede de ir. E quem deixa o medo vencer é o que? Covarde.

- Eu quero achar um advogado que não cobre muito caro para me ajudar a convencer o juiz de que eu posso sim mudar de nome. Mas eu nem sequer estou procurando um advogado, nem sequer estou procurando informações úteis. Pq? O medo novamente.

- Eu quero tomar hormônios, eu quero ouvir minha voz engrossar enquanto ainda consigo escutar (deficiência auditiva bilateral, sim), quero ver meu corpo mudar, os pelos crescerem, a barba aparecerem. E eu sequer fui atrás de informações e médicos, pq? Medo! Medo de que ao cruzar uma esquina me matem por ser um homem que teoricamente ainda tem seios e isso foge do padrão da sociedade. Medo da reação da família, medo da reação dos amigos, medo de não conseguir outro emprego mais tarde. Medo de magoar Deus.

E é foda pra caralho porque a vida esta passando e eu estou aqui parado por medo.
E é foda pra caralho porque só temos uma vida e não teremos outra chance.
E é foda pra caralho porque você tem que deixar seu sonho de lado porque religiosos estão cegos pregando o ódio contra os LGBT enquanto na verdade Deus pediu que amassemos uns aos outros como a ti mesmo.

E é foda pra caralho porque a gente se auto derrota antes mesmo que o mundo faça isso.
Antes eu apagava os cigarros no meu braço como se a dor física pudesse acabar com a dor da alma. Com algumas terapias eu parei, mas hoje, após o banho, ao invés de me secar com a toalha como uma pessoa normal, eu fui esfregando a toalha com tanta força que só parei quando toda a pele estava bem vermelha e ardendo. Era como se de alguma maneira eu pudesse me livrar de todas essas coisas que tem me deixado louco.

Não diga que vai ficar tudo bem leitor, porque eu não sei se quero que fique.
Eu acredito que cada pessoa tem a dor e a guerra que merece por algum motivo.
E essa é a minha luta, a minha dor, a minha guerra. Então... Eu não sou corajoso, ok?

E sabe... Alguém ontem me convidou para ir em sua casa. "Venha me ver e visitar meu filho".
E a única coisa que me passou pela cabeça foi: "Não, eu não quero que ele me veja assim".

É complicado explicar porque mesmo sabendo qual o caminho que vai me fazer melhorar e dar a volta por cima eu continuo insistindo em voltar atrás.

Então leitor,

Não me chame de corajoso.

Pedro.