quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O capitulo de ontem - A força do querer


Ufa, finalmente consegui parar para escrever sobre o capitulo de ontem da novela como eu havia prometido mais cedo.
Foi uma cena muito forte, me trouxe a tona muitas lembranças de tristes momentos que passei, inclusive, fui fumar la na varanda e de lá da pra ver a TV, terminei de fumar e continuei lá pq eu não estava conseguindo segurar as minhas lagrimas e não queria que minha mãe (ela estava na sala vendo a novela tbm) visse, então fiquei mais um tempo lá até me recompor, depois entrei e deitei no sofá e só sai de lá na hora q a novela acabou.
Fui muito tenso, foi doloroso, foi agoniante, foi comovente, foi uma mistura de todos os sentimentos ao mesmo tempo, mas gostei muito desse capitulo, muito mesmo, de verdade.
Achei que a atriz que esta interpretando a Ivana interpretou a dor de um transexual 100%, eu não conseguiria fazer melhor, claro que ela nunca vai saber da minha opinião né, mas se eu pudesse, acho que ficaria sem palavras para conseguir agradece-la por nos interpretar tão bem.

Quando minha mãe e eu estávamos brigados, lembro vagamente dela ter falado algumas vezes que não sabe onde errou. A verdade é que ela não errou, a culpa não é dela, a culpa não é minha, ninguém tem culpa, porque uma pessoa nasce transexual, não tem como evitar, apenas algumas pessoas como eu e a Ivana demoram um pouco mais de tempo para conseguir entender exatamente o que esta acontecendo com si mesmo.

Me perguntaram o que eu achei.
Pessoal, a novela representou a dor e o desespero dos dois lados.
O lado do trans que não é nada fácil viver em um corpo que não é seu, viver todo o preconceito, viver sabendo que qualquer dia desses vai acabar se deparando com algum transfóbico que pode simplesmente te dar uma surra por ser quem você é ou até mesmo te matar.
Eu por exemplo, nunca sofri agressão física, mas se eu recebesse 1 real para cada agressão verbal que já levei nessa vida, já teria trocado de carro ou comprado um PS4, sério mesmo.
Ser trans dói, é difícil e complicado, sim!

Mas ser pais de trans tbm é difícil.
Principalmente para aqueles como os meus ou aqueles parecidos com da Ivana.
É difícil porque eles não entendem que não é loucura, não é doença.
É difícil pq muitos deles (como os meus) tem uma religião que não importa se somos pessoas boas ou não, por ser trans, já estamos condenados ao inferno.
É difícil pq desde que fomos bebezinhos, eles já fizeram planos de uma vida inteira para nós que infelizmente não encaixaram com os sonhos que temos para nós mesmo.
E mais um monte de motivos.

Hoje de manhã vi no fb uma porrada de de gente falando mal da novela, que deveriam ter feito com que os pais aceitassem, para que os pais que assistem aprendam a aceitar e ver a diferença que faz na vida de um trans quando os pais aceitam.
Gente, não é assim que funciona, seria fácil demais da conta.
Se vocês querem final feliz, na boa, vão assistir algum romance na netflix.
Porque o que mostraram ontem é a realidade de 90% dos trans brasileiros.
E eu estou dentro desses 90% ou vocês acham que eu e minha mãe sempre nos demos bem como damos agora? Claro que não! É como eu falei, teve uma época em que eu saia do trabalho e ia pro bar, só chegava em casa da noite quando ela estava dormindo e acordava pra trabalhar antes dela acordar, a situação era insuportável, eu cheguei a ligar em alguns hotéis para reservar um quarto e ficar por um tempo, não cheguei a ir pq se eu fosse e investisse a minha grana no hotel, eu não poderia ajudar financeiramente aqui em casa como eu ajudo e eu sempre fui assim, eu sempre me coloquei em segundo lugar, mesmo eu não querendo voltar pra casa, mesmo desejando nunca mais estar aqui, eu voltava, eu voltava porque sempre lembro que prometi a mim mesmo que enquanto eu trabalhar, vou ajudar em casa sim, não vou faltar com nada não, costumo cumprir as coisas que prometo.


Foi muito difícil, a novela me machuca pq nas cenas da Ivana minha memória volta para aqueles anos infernais e vou dizer para vocês, não foi fácil não, não foi nada fácil, fiquei por muitos dias jogado no chão sem ter coragem de levantar e continuar lutando, claro que graças a Deus eu tive ajuda de amigos, que infelizmente não tenho mais contato, mas eles estiveram lá quando precisei e hoje nosso relacionamento é bem melhor.

Bom, a gente não fala sobre a minha transição abertamente.
Ela não me chama de Pedro e não fala comigo no masculino.
Na verdade ela não aceita isso, mas respeita.
Ela não fica mais colocando obstáculos no meu caminho.
Ela não chora mais, não grita mais e não se culpa mais.
Eu já falei que quero um dia (quando eu tiver grana) tirar totalmente os seios.
Que quero tomar hormônios.
Que quero mudar meu nome nos documentos.
Ela sabe de tudo isso, os detalhes mais pessoais eu já não falo.
Não falo quando estou gostando de alguém ou quando estou namorando com alguém.
Na verdade, não falo quase nada, o que ela sabe é as coisas que eu falo no blog quando ela vem ler, mas ela lê e tbm não fala nada e sinceramente acho até melhor assim essa nossa comunicação dentro do silêncio, pq sabe eu tive o meu tempo, para descobrir o que sou, entender, aceitar e ela tbm esta tendo o dela, assim como minha avó tbm terá o dela um dia.
Acho que vale reforçar não só para a minha mãe, mas como para todos os pais do mundo:
NÃO FOI CULPA DE VOCÊS!
NÃO FOI CULPA MINHA!
NINGUÉM TEM CULPA!
ISSO NÃO É UMA ESCOLHA, NÃO PODE SER MUDADO.
ISSO NÃO É PIRAÇÃO NOSSA, É A REALIDADE.
NÃO ESTAMOS FAZENDO ISSO PARA FERIR VOCÊS.
NÃO ESTAMOS QUERENDO CHAMAR ATENÇÃO.
ESTAMOS QUERENDO APENAS VIVER COMO REALMENTE SOMOS.

Enfim, parem de criticar a novela, basta não assistir.
Não são todas e todos os trans que tem apoio da família, ok?
A novela mostrou ontem que é difícil para os dois lados.
Não te agradou não assiste, simples assim.

O mal de todo trans é que quando eles chegam no topo, eles se esquecem de tudo de ruim que tiveram que passar até chegar lá.
Se esquecem de obstáculos que quase os fizeram desistir.
Esquecem de onde vieram. Esquecem tudo, principalmente, que tem trans que estão apenas começando a longa e dolorosa caminhada.

Um outro trans publicou que na opinião dele, os trans não devem explodir com os pais como a Ivana explodiu. Bom, a minha opinião é o contrário, eu explodi com a minha mãe, com a família toda e não me arrependo disso não, pq eu sei que se eu tivesse tentado contar em uma conversa simples eu não teria conseguido, eu teria travado ou eles tentariam me convencer de que não sou trans.
Tem família como a minha que só da pra falar o que realmente queremos no grito.
Minha prima de 14 anos revelou que estava grávida e todo mundo no final das contas reagiu bem, mas ser trans parece ser, nossa senhora, um assassinato em série contra crianças, não é possível.
Quando eu vi que a bomba da minha prima não fez estrago nenhum, joguei a minha bomba tbm, claro que a minha fez estrago, mas eu fiz em um momento de raiva que saiu tudo de uma vez, como um tiro no alvo, foi aquilo e pronto e acabou.
Algumas pessoas me surpreenderam ao me apoiar.
Outras me surpreenderam por não apoiar.
Mas eu fiz e não me arrependo disso, na verdade, acho até melhor assim, pq quando dito uma vez, não pode ser apagado. 
O meu único arrependimento é não ter explodido com a minha avó tbm, pq agora eu fico nesse enrolo para contar, fico nessa insegurança, nessa vontade absurda, nessa raiva, nesse medo, nessa mistura de sentimentos que parece que vai me matar.
Eu quero muito que ela saiba e quero logo e pelo que eu me conheço, talvez eu só fale, quando houver outra bomba familiar para eu jogar a minha junta e não acho isso justo.
Eu sonho acordado com o dia que ela saberá e eu serei 100% livre.
Sonho acordado com meus documentos trocados, com meus primeiros pelos de barba nascendo.
Eu tenho ansiedade de viver essa vida, pq já tenho 31 anos e não sei mais quanto tempo eu tenho.
Posso morrer essa noite, posso sair pra trabalhar e morrer no caminho, pode tantas coisas acontecerem e eu quero muito, mas muito mesmo, viver um pouco dessa vida antes de morrer.
E da maneira que as coisas estão andando, não sei se vai dar tempo.
Pq o defensor público eu não consigo.
Vou precisar juntar grana pra ir pelo particular.
O tratamento de hormônios parece que é só fantasia ainda mais depois que eu fui hoje na consulta e me deram o endereço errado.
A cirurgia então, vish, só quando eu ganhar na mega sena rs.
Mas ok.
Graças a Deus, no meu trabalho, eu posso ser quem sou sem limites algum.
Lá eu esqueço que é preciso de uma guerra inteira para realizar simples sonhos de ser quem sou.
Lá eu fico bem, meu humor fica bem, me sinto saudável, me sinto feliz. Essa é a verdade.

Nós só temos uma vida, infelizmente, apenas uma.
E graças a uma sociedade escrota do caralho a gente passa metade da vida tentando conquistar nossos sonhos e muitos de nós, morrem antes de conseguir conquista-los.
Eu lamento muito que eu não sou a menina que minha mãe queria que eu fosse, mas eu tenho certeza, que tenho demostrado a ela, que eu a amo mais do que tudo na vida e faço qualquer coisa par ave-la feliz. Não escolhemos isso, nascemos assim.
Não é culpa de ninguém.

E eu tenho percebido que quanto mais o tempo vai passando e eu não to dando nenhum passo pra frente, eu vou me fechando novamente, eu vou me afastando das pessoas, de pessoas que não tem culpa, mas me afasto, vou construindo muros ao invés de pontes.

Sinceramente, uma pessoa que não é trans, NUNCA vai entender a guerra que vive dentro da gente.
Essa guerra não deveria ser suficiente?
Precisamos ter um grupo politico tornando cada vez mais as coisas impossíveis?
Precisamos ter uma sociedade escrota pra caralho a ponto de achar que são Deus pra decidir quem vive e quem morre? O que é certo ou errado?
Precisamos ter a intolerância do ser humano?
Precisamos ter o preconceito? O racismo?
Porque o negro não se torna negro, ele é negro, assim como o trans, ele não se torna homem, ele é.
As vezes fico muito decepcionado com o mundo em que vivemos e para ser bem sincero, em minhas orações, já até pedi perdão a Deus por termos estragado o planeta que ele nos deu para morar de uma maneira que não tem como consertar. Pedi perdão por termos estragado o que poderia ter sido lindo, leve, encantador, que poderia ter sido espetacular, se não fosse a burrice do humano que insiste na mesma merda todo santo dia, como por exemplo essa ideia nojenta de que acabarem com o nosso pequeno paraíso conhecido como amazônia, se eu pudesse, vomitaria na cabeça de quem teve a maldita ideia.
Se eu pudesse, queria matar todos aqueles que mataram qualquer um da comunidade LGBT, mas eu sei que eu não sou Deus, eu não posso decidir quem vive e quem morre, mas eu posso e acredito que ele fará justiça para cada caso, disso, eu tenho certeza absoluta.

Gente, na moral, a vida já é difícil demais, para que complicar mais ainda?
Não tem cabimento. Não tem mesmo.

Vocês viram como a Ivana sorriu quando cortou o cabelo?
Vocês viram a alegria nos olhos dela no momento em que ela estava se libertando?
Vocês conseguiram entender que ela estava querendo apenas ser quem ela realmente é, que ela não estava fazendo mal a ninguém? Ou vocês só viram o que queriam ver?
Poque é como dizem né, o pior cego é aquele que não quer ver.
Eu me lembro quando era novinho, eu desejava tanto, mas tanto ter o cabelo curtinho, nossa, eu sonhava com isso, eu prendia o cabelo e enfiava tudo dentro do boné e me olhava no espelho e gostava do que eu via.
Hoje, eu tenho o cabelo curto, quer dizer, eu não tenho mais cabelo né kkkk e gosto assim.
Independente de qualquer pessoa no mundo fale que esta horrível e tal, eu simplesmente não me importo mais, é assim que eu gosto, assim que eu quero e assim que vai ficar.

Bom galera, por enquanto é isso que eu tenho pra falar por hoje.
Talvez eu volte mais tarde ou amanhã, ainda temos muito o que falar sobre.
Não se esqueçam, que o Google pode muito bem te ajudar a entender aquilo que você não consegue.
Ou podem simplesmente perguntar para um trans, como eu, que gosta de ensinar as pessoas.

Ah! Só mais uma coisa.
Vocês ouviram a Ivana pedindo desculpa para a mãe dela?

Mães de trans, nós sentimos muito, mas muito mesmo, por as coisas não terem saído como planejado, acreditem, queríamos que tivesse sido mais fácil ou diferente.
Mas não nos culpem, eu não posso mudar o que eu sou, seus filhos não podem mudar o que são, vocês não podem mudar o que eles são.
Lembra daquele ditado que diz que o fim da vida é a única coisa que não podemos mudar?
Pois bem, não podem mudar o que somos também.
Vocês podem escolher ficar e participar da vida do filho de vocês e sempre te-lo por perto.
Ou você pode largar mão e se arrepender muito no futuro.
Afinal, uma palavra, dói muito mais do que um soco na cara ou um tiro no peito.
Palavras sangram.

Enfim, vamos assistir a novela hoje e tentem ver de uma forma diferente as cenas da Ivana.
Tentem ver os dois lados, tentem ser justos dessa vez. Ok?
Com calma, vocês chegam lá.

E eu? Eu vou continuar aqui no meu cantinho, sonhando acordado como sempre rs.
Ah! Mais uma coisa rs.
Quando eu estava a caminho da minha primeira consulta com um endócrino que trabalha com casos de transexuais, me deu um frio na barriga, um medo, mas mesmo assim eu fui em frente, pq eu tinha certeza de que era aquilo mesmo que eu queria para a minha vida, pena que o consultório mudou de lugar e ninguém me avisou rs.

De qualquer forma vamos seguindo a vida com duas companheiras do meu lado.
A ansiedade e a esperança rs.

Com carinho,

PD.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

VAMOS FALAR NOSSO AMBIENTE DE TRABALHO?!


Boa tarde pessoas.

Hoje resolvi falar sobre onde eu trabalho, eu ia colocar a marca da empresa, mas eu não sei se posso.
Então vai essa mesma ai que representa bem a gente, todo mundo trabalhando juntos.
Desde que me assumi trans, eu tenho ouvido histórias, casos reais de todos os tipos e com isso percebi que tive sorte em estar trabalhando aqui na ESPN, graças a Deus estou aqui há 6 anos.

Eu lembro quando cheguei aqui, vestida de mulher, até bolsa eu usava.
Eu acreditava que só assim eu iria conseguir algum emprego.
Eu me lembro da minha primeira entrevista até hoje.
Mas o lance é que por mais que eu tentasse ser mulher (por causa do corpo) eu tinha uns jeitos de falar com a mão, umas palavras que o pessoal passou a desconfiar de que eu seria lésbica.

Um tempão depois, divulguei ao público (nossa falando assim até parece q sou famoso né kkk)
que eu gosto e gosto muito rs de mulher.
Não posso dizer que não fui bem aceito, eu estaria mentindo.
As pessoas souberam me respeitar.

E ai ano passado eu "divulguei ao público" que sou homem transexual.
Com a ajuda do grupo de diversidade da ESPN (ESPN EQUAL) eu consegui que me deixassem usar o nome social aqui na empresa, meu nome esta no visor do telefone que fica em cima da minha mesa, no listão de funcionários, no e-mail e até mesmo no crachá!!
E recentemente ganhei a liberdade de usar o banheiro masculino na empresa!
Quantas conquistas em um ano, não é mesmo?
E depois de ouvir histórias de pessoas dizendo que ainda precisam viver uma personagem no seu ambiente de trabalho para poder continuar no time, percebi que eu precisava agradecer muito pelas minhas conquistas, agradecer por ser permitido ser quem eu realmente sou.
Eu não posso ser eu mesmo na minha casa.
Na minha própria casa eu tenho que manter a personagem, falar no feminino, ouvir as pessoas me chamando pelo nome de registro, etc.

Mas a ESPN, meus amigos, me deu um segundo lar, uma segunda família.
Aqui na ESPN, eu posso ser quem eu sou e eu me sinto em casa!
Eu me sinto bem, em paz, tranquilo e feliz.
Eu me sinto com espirito leve, alma lavada!
Como não ter um post sobre isso?
Tem que ter sim e acho até que demorou, demorou, mas chegou!

O legal, é que além de eu ser o primeiro homem transexual assumido na ESPN Brasil, as pessoas que nunca tiveram contato com um trans estão cada vez mais me sentindo a vontade para fazer perguntas, para aprender, a respeitar e eu adoro ensinar sobre isso.
Eu espero que eu ainda tenha mais alguns anos vestindo a camisa e suando em campo, porque eu me sinto super bem aqui, as vezes, acordo na depre total, venho pra cá e meu humor já muda no momento em que piso na recepção.
Eu sou muito grato as conquistas, as pessoas que me ajudaram, as pessoas que estão vibrando na torcida por mim, daquelas que acreditam que eu vou vencer mesmo quando eu falo que desisti.

Deixo um forte abraço para o grupo do Equal, a Cacau, Roger, Nanda e todos os outros.
Aquele agradecimento sincero para a minha equipe, que soube se adaptar a minha nova identidade, souberam compreender as coisas, me ajudam quando estou mal e me deixaram ensina-los aquilo que eu sei.

A diretoria, a equipe de Bristol onde tudo começou.
A ESPN.

Eu mais cedo estava muito desanimado, porque liguei na defensoria pública para conseguir um defensor publico, olha só, liguei hoje, dia 29/08 e sabe quando terei a primeira etapa? Dia 23/11/17.
E além de ter todo esse tempo pra esperar ainda nem é garantido que vou conseguir um.
Eles não falam abertamente sobre isso.
E ai que se eu falar que moro com a minha família, eu teria que levar o comprovante de salário de todos eles e isso passaria de 3 salários mínimos, ai já sou reprovado.
Se eu falar que moro sozinho, junto ao meu holerite, levo o comprovante de aluguel, o que eles saberiam que eu não conseguiria pagar sozinho, ou seja, sou reprovado.
É literalmente uma bosta a politica que temos no Brasil, ela serve pra favorecer apenas ricos e bandidos, porque não é possível uma coisa dessa.

E porque eu não pago um advogado particular?
Porque não tenho dinheiro para tal e longe de mim pedir ajuda financeira para o meu pai ou avó, isso é uma luta minha, só minha e eu nem contei pra minha avó ainda rs.

Se desisti? Pela defensoria pública, sim!
O plano b é juntar uma grana mesmo que demore meses ou anos e pagar um advogado que me ajude a chegar até o topo!
Mas beleza, sem pressa, sem problemas.
Esperei 31 anos, o que são mais 2 ou 3.

Só aproveitando, falando rapidamente sobre a novela, esta ai uma das diferenças entre Ivana e eu.
Eu não tive essa coragem que ela teve de chegar na família e contar tudo de uma vez.
Na época em que a minha prima de 14 anos anunciou que estava grávida e ninguém a repreendeu, eu fiquei puto pra caralho e explodi, contei a todos, menos a minha avó, o que não mudou nada, porque ainda tenho que viver duas identidades o que é a porra de um saco do caralho, mas ok.

Achei lindo o Nonato chorando quando a Ivana foi pra casa contar pra família.
A cara da Simone, aquele medo pela prima, estampado na cara dela...
Foi muito tenso.
Me senti mal, pq me faz lembrar de muitas coisas que passei que não foram citadas no blog ou nos meus livros, mas ta sendo bom para irmos aprendendo todos juntos.

Enfim...

É isso ai.

Obrigado ESPN.

PD

domingo, 27 de agosto de 2017

Entre tantas coisas da vida.


Olá amiguinhos.
Já ouviram a música do nosso ilustre Nando Reis? Esse cara sabe cantar com o coração.
Hoje vou citar um pedacinho da música dele, que se chama "Dessa Vez", se vc ainda não escutou, bom, agora é uma ótima hora para faze-lo.

"...te ver feliz me faz bem..."

Esse pedacinho dedico a minha mãe, embora ela não consiga entender as coisas.
Ver ela feliz, me faz muito mais bem do que qualquer outra coisa na vida.
Hoje, por exemplo, enchi a porra do saco dela para ir no salão refazer a sobrancelha, pq ela fez aquela que não sai nunca sabe? Que parece tatuagem, arg, não lembro o nome e não quero ir lá perguntar que ela esta ouvindo as músicas bregas dela.
Sempre insisto para ela ir no salão se cuidar ou comprar algum agradinho pra ela, mas ela sempre insiste em ser teimosa a ponto de tirar a minha paciência ou o pouco que costumo ter.
Ela nunca foi de pedir nada que envolve dinheiro e eu me lembro de quando era mais novo, queria começar a trabalhar logo, pq meu sonho era dar o mundo inteiro para ela, agora, eu não posso dar o mundo inteiro pq não sou rico rs e o mundo ficou caro, mas as felicidades mais básicas, pq não?
É tão irritante essa teimosia dela.

Enfim...


Já jogaram Batman Origins?
É o jogo da foto.
Ele sozinho tem que lutar contra um mundo inteiro, homens e porradas vindo de todos os lados.
É assim que ando me sentindo ultimamente, embora ngm esteja fazendo nada, me sinto sendo atingido por todos os lados e sozinho para enfrentar tudo.

Ontem a noite tive de novo uma crise de choro quando deitei pra dormir.
Na verdade, a primeira crise foi pela manhã, quando fui tomar banho, começou quando brinquei de fazer a barba e depois vendo meus peitos no espelho.
Mais tarde tive outra crise, não lembro o motivo, mas tive.
Só lembro da minha mente perguntando a mim mesmo se eu estava bem.
Essa pergunta sempre me persegue.
Havia parado, eu estava livre dessa pergunta batucando na minha mente o tempo todo.
Agora a infeliz voltou.
Sempre quando estou no banheiro sozinho ou quando estou fumando sozinho.
Dirigindo sozinho.
Vamos resumir vai, sempre q estou sozinho ela fica apitando na minha cabeça, como se não acreditasse nas minhas respostas.
Fiquei assistindo um filme ontem até a hora de dormir.
Até a hora que peguei meu colchão, travesseiro e cobertor e me ajeitei na sala estava tudo bem.
Mas quando deitei, veio tudo de uma vez, chorei, chorei muito, chorei como se alguma coisa tivesse me doendo, sabe? Chorei até dormir.
Acho que no fim das contas descarreguei o que eu estava segurando o dia todo.



O lado bom de ter que aprender a disfarçar desde pequeno, é que agora é tão automático, que não preciso mais me esforçar. Mesmo quando a tristeza vem, o sorriso esta lá, mesmo quando a dor vem, o sorriso esta lá. As vezes acabo comentando com amigos ou familiar que não estou legal, mas quando comento, é pq já estou quase ultrapassando o meu próprio limite, ai eu acabo deixando escapar algo, como hoje por exemplo, que estou com uma dor de cabeça insuportável.
Acho que foi a melhor ideia que tive em fazer um blog, assim não fico chorando no ouvido das pessoas, quem quer ler, esta ai, que não quer, não existe qualquer problema, ngm é obrigado a nada.
Então, se vc que esta lendo isso, tem guardado seus sentimentos, acredite, com o tempo vai ficando cada vez mais fácil de guarda-los dentro de vc, mas o preço é um só, um dia ou outro vc acaba explodindo e a explosão é tão forte que acaba acertando até mesmo aqueles que vc não quer atingir.

Algumas pessoas vieram me perguntar o que foi que aconteceu que meu "relacionamento" acabou.
Nunca respondi, não respondi pq não sei responder a isso.
Não sei explicar como foi que aconteceu exatamente, como que as coisas foram sair do limite assim tão de repente. 
Em algum momento as coisas deram errados e o único destino era o fim.
Se vamos manter ao menos amizade? Não.
Ela baixou o nível de uma maneira que eu nunca achei que seria possível.
Sempre conversávamos sobre palavras pesadas que não podem ser ditas para pessoas com estima baixa, ela sempre me fez policiar as coisas que falo para não machuca-la, no fim das contas, algo aconteceu e ela entendeu errado, baixou tanto o nível que chegou a me chamar de lixo.
Eu acho deprimente uma pessoa que chega a este ponto na vida.
Ela me bloqueou no whatssap e no Facebook.
Se estou triste pelo fim? Não.
Se estou triste por ter me bloqueado? Não.
Se estou pra baixo por ter sido chamado de lixo? Nenhum pouco, pq a vida minha gente, da voltas.
Não estou desejando nada de mal não, estou apenas dizendo que a vida nos ensina.
Eu apenas fiquei chateado pq tinha achado q finalmente eu tinha encontrado alguém pra mim e percebi em menos de 1 ano que estava completamente errado.
Mas quer saber? Foi bem melhor assim.
Vou gastar o meu dinheiro comigo e com as pessoas que gostam de mim de verdade.
Vou dedicar o meu tempo para quem realmente merece e ponto final.
A vida continua, temos que olhar para frente, sempre para frente.
As vezes sinto a falta dela, mas ai lembro no que deu e a saudade passa.
Não falei disso com ninguém da família, não me sinto confortável.
Mas no dia que tudo aconteceu, eu soube me manter em pé e ngm notou, isso pq é bem como eu disse, com os anos, tudo vai ficando mais fácil.
Eu me lembro quando minhas namoradas terminavam comigo e eu ficava super mal, como era difícil disfarçar. Eu acho que quem sai perdendo é mais minha família do que eu mesmo, pq eles sempre me conhecerão pela metade, sempre saberão da minha vida pela metade, sempre será tudo pela metade e por mim tudo bem.

Sendo assim volto a afirmar o que eu sempre falei.
Eu não sou guerreiro, corajoso ou destemido.
Eu não sou um vencedor, pelo menos, não ainda.

Hoje eu tive outra crise.
Fui cortar o cabelo, aqui em casa mesmo, eu mesmo peguei a maquininha e taquei a zero na cabeça toda, já fiz isso antes, mil vezes, nunca fui fã de cabelos, muito menos cabelo comprido.
Raspei aqui, ali, acolá e quando vi já tinha raspado tudo como eu queria.
Não sei se é neura minha.
Não sei se é paranoia minha.
Não sei o que é.
Mas só sei que me olhei no espelho e me vi mais feminina ainda.
Mais do que quando eu tinha cabelo.
E isso me doeu, não quero mais aparentar ser feminino, não quer mais aparentar ser o que não sou.
Não quero mais ser tratada como mulher.
Aqui dentro de casa eu relevo, já relevei todos esses anos e é o lugar que eu menos passo o meu tempo, então tudo bem.
Mas sei lá, a cada dia que passa, parece que vai ficando insuportável me manter dentro de mim.
De viver duas vidas. De viver duas identidades.
De não poder olhar para nada que me mostre o meu reflexo pq fico péssimo.
As vezes da vontade de desistir de toda essa luta para apenas ser feliz.
Mas as minhas dores vencem o meu desanimo.



Mas vamos continuar seguindo em frente, se não der pra andar, vamos rastejar.
Uma hora chega a nossa vez. Chega mesmo.
Quarta-feira eu tenho uma consulta com o endócrino que ajuda com hormonização, eu não to colocando nenhuma esperança, para que a queda não seja muito grande caso não de certo.

As papeladas para a mudança na documentação estou coletando tudo, mas já não tenho aquela vontade que tive antes.
E os peitos... Quem sabe um dia o mundo fique mais barato e de para juntar algo.

Enquanto isso, vamos em frente, ok?
Jogar muito vídeo game que me distrai pra caramba e trabalhar o dobro que tbm me ajuda a esquecer.
Ah! E sobre namoradas...
Não estou procurando mais, percebi que primeiro eu tenho que terminar essa guerra comigo mesmo, para depois querer cuidar de alguém.

Enfim, vamos almoçar. Estou com fome.
Quem sabe, se minha dor de cabeça passar, mais tarde vou no posto de gasolina tomar uma cerveja para ver se me da um up pq graças a Deus, amanhã começa uma nova semana.

Um abraço para todos.

PD.








terça-feira, 22 de agosto de 2017

Trans... Vamos falar sobre transexualidade!


Boa noite amiguinhos, espero que estejam todos bem.
Alguns minutos atrás estava vendo um vídeo do Dan entrevistando um rapaz trans chamado Gabriel.
Não consegui postar o vídeo aqui, mas compartilhei no meu Facebook na esperança que todos vejam.
Para quem ainda não me tem no fb segue link abaixo:

O vídeo foi emocionante, o Gabriel explicou de uma maneira que eu mesmo não conseguiria fazer igual e isso é muito legal, pq eu vejo que cada vez mais, as pessoas estão tentando explicar as outras pessoas o que é a transexualidade, o que é ser transexual.

Uma coisa que ele disse e eu concordo completamente sem tirar nem por:
"A ignorância é a mãe do preconceito."
E a verdade é que ele esta certo, pq se não fosse pela tamanha ignorância do ser humano, não existiria preconceito e acredito que nem racismo existiria, pq tudo se resume na ignorância do ser humano, ainda mais hoje, que você pode achar QUALQUER COISA pesquisando na internet, você joga lá por exemplo transexualidade e vê uma porrada de documentários, de depoimentos, pessoas explicando, casos muito bem detalhados, psicólogos explicando, hoje em dia tem resposta para tudo, só não sabe quem não quer, simples assim e é uma pena que ainda existem pessoas que preferem continuar com essa ignorância dentro deles, infelizmente, temos muito o que avançar ainda e uma das principais coisas é que o Brasil deixe de ser o país que mais mata transexuais em todo mundo, não para dar lugar para outro país, eu jamais desejaria isso, mas para que isso acabe, para que não exista mais na história da humanidade os assassinatos de pessoas trans, por apenas tentarem ser quem realmente são.

O Gabriel citou, eu vou citar e tenho a certeza de que mais uma galera enorme vai se identificar com o que vou dizer. Desde criança, eu sabia que algo estava errado, mas eu não conseguia entender, não conseguia compreender o que exatamente estava errado e o que eu podia para parar de sentir isso.
Quando eu era criança, não tínhamos todas essas informações que temos hoje. Não tínhamos internet e transexualidade não era um assunto que você encontrava em algum livro que poderia pegar emprestado na biblioteca, não tínhamos referências, não tínhamos alguém para dizer o que é que estava acontecendo, não tínhamos nada e vale lembrar que até pouco tempo atrás consideravam a transexualidade uma doença e por isso que nomeavam como transexualismo e infelizmente, nos dias de hoje ainda tem gente que acredita que seja doença, mas não é e essa falta de informação é um dos caminhos que leva as pessoas ao preconceito.
Tem muitas pessoas que ainda não sabem sobre o assunto e eu achei realmente incrível estarem falando e ensinando sobre o assunto na novela das 21h. Alguém me disse uma vez que eu posso passar uma informação para alguém que por algum motivo essa pessoa não me leva a sério ou não acredita no que estou dizendo, mas se uma outra pessoa, que tenha uma imagem mais séria falar exatamente a mesma coisa, a pessoa vai acreditar nessa outra pessoa apesar da informação ser a mesma, o que estou querendo dizer é que as vezes não basta ter um trans na família para ensinar ou um amigo de família, as vezes, tudo o que aquele trans pode ensinar aos demais tem que vir de um outro jeito para que as pessoas possam entender e aqui no Brasil, falar sobre isso em uma novela, eu achei uma bola direta no gol, pq o brasileiro adora uma novela, tem gente que sai do serviço correndo pra chegar em casa a tempo, nem toma banho antes e já vai ligando a TV e sintonizando na novela.
As pessoas no dia seguinte comentam sobre isso, por ser novela, as pessoas estão falando sobre isso e precisamos aproveitar este barulho que a novela esta fazendo e falar com as pessoas que são próximas a nós, ajuda-las a entender tudo isso, pq eu sei, juro que sei, que não é nada fácil para eles como também não é para nós.
No meu trabalho, por exemplo, me perguntaram se Ivana será um personagem trans gay e deu para perceber no rosto deles as expressões de quem estavam confusos e eu sempre tentei demonstrar a todos que eu sou um livro aberto, antes eu não conseguia nem pensar sobre isso, hoje, já consigo falar, responder perguntas, explicar, na verdade, me da até prazer ver que eu mesmo posso ensinar as pessoas a minha volta, eu não forço ninguém a saber não, pq eu acredito que todo mundo tem a sua hora certa e fico mais feliz ainda em ver que os meus colegas estão a vontade para me perguntarem as coisas e tomara que continuem perguntando para que eu possa ensina-los e se um dia eu não souber responder alguma pergunta, terei o maior prazer de pesquisar e passar a informação para eles.
Eu prefiro mil vezes que as pessoas perguntem e aprendam, por mais óbvio que a pergunta seja, do que viverem em uma ignorância que cega eles a ponto de ter um preconceito, pq preconceito meu amigo, não tem tamanho não, preconceito é preconceito e ponto final.

Algumas pessoas ainda falam comigo no feminino.
Pessoas como uma amiga minha do tempo da faculdade, Esther, que meio com aquela frase clássica que todo trans ouve "Eu nunca vou conseguir falar com você no masculino." Acho que é questão de tentar, treinar, se esforçar, sabe?
Ou como alguns parentes meus... Bom, na verdade nenhum parente meu fala comigo no masculino, prefiro pensar que talvez por respeito a minha avó, espera ai, minto, a esposa do meu primo, Analu, que considero ela como uma prima de sangue também, ela fala no masculino comigo sim, ela sempre lembra, ela é uma querida!
Os meus amigos, simplesmente esta ficando cada vez menor o numero de pessoas que falam no feminino comigo, da para contar nos dedos já e isso me deixa feliz, pq eu nunca, juro pra vc leitor, eu nunca achei que um dia eu conquistaria tudo isso.
O Gabriel disse no vídeo que cada um tempo o seu tempo, como ele teve o dele.
Isso é algo que concordo com ele também, pq sinceramente eu levei muito tempo para me aceitar, mas muito tempo mesmo, nossa senhora, anos! Pq eu tinha medo da rejeição, medo da rejeição da família, dos amigos, de Deus, eu tinha medo de ficar sozinho, de acabar a vida sozinho sem ninguém.
Você deve estar se perguntando como que eu perdi o medo.
A verdade é que eu não perdi, eu ainda tenho, mas agora teno muito menos do que antes.
Em algum momento as coisas mudaram, pq eu simplesmente não estava mais conseguindo guardar as coisas dentro de mim, é como se tudo dentro de mim tivesse queimando e eu precisava desesperadamente me livrar disso, era horrível, me comia por dentro, me deixava sem ar, me matava aos poucos! Ainda me come, ainda me machuca, ainda me queima, ainda me deixa sem ar, pq eu ainda não sou livre. Todas as vezes que rola uma discussão em casa, uma briga ou uma gritaria eu quero aproveitar o momento e gritar também, expor tudo pra fora, mas só quando minha avó esta envolvida, eu fico esperando que alguém erre ou que ela mesmo cometa algo que deixaria a família toda puta, para eu explodir também e ser tudo uma explosão só, um estrago só, um escândalo só, para depois disso, com o tempo, cada um lidar com as coisas de sua maneira e podermos superar isso, podermos seguir em frente, pq é como a esposa do Garcia na novela A força do querer disse, a vida passa rápido, a vida passa muito rápido mesmo e a gente nem percebe isso, só lembramos disso quando estamos fazendo aniversário ou quando já estamos no último estágio da vida, é como aquela frase de que a gente acorda no fim da vida.
E poxa, eu só tenho uma vida caramba, eu só tenho essa, pq eu tenho que ficar vivendo pela metade sendo que eu não escolhi ser trans?
E vale lembrar que os números mostram que a média de uma vida trans é até os 33 anos.
Imagina se isso se aplicasse a todos os casos do mundo, eu só teria mais dois anos.
Pq as pessoas não podem ser mais compreensivas? 
Ou então apenas cuidar de suas próprias vidas sem se intrometer em como o outro esta vivendo?
Pq?
Pois é.

Uma última coisa que quero citar que ouvi do Gabriel e concordo com ele, foi o caso de uma ex-namorada dele, não entendi muito bem, mas me parece que a namorada o conheceu como lésbica e com o passar do tempo que ele foi se descobrindo transexual e compartilhando essas coisas da vida dele com ela, a garota passou a olhar para ele com nojo e o relacionamento obviamente não deu certo.
Isso já aconteceu comigo também.
Amy. Era o nome dela.
Nós ficamos juntos diversas vezes, tempo pra caramba, muito antes de eu me entender como trans.
Foram 7 anos de idas e vindas e quando contei a ela que eu era trans, nós não estávamos mais juntos, mas a reação dela foi "Se você soubesse como eu odeio homens não se tornaria um." E foi ai que percebi que a amizade dela não ia ser boa para mim, pq primeiro, que ninguém, gente presta atenção no que o tio P vai dizer: NINGUÉM ESCOLHE SER TRANSEXUAL, OK?
SER TRANSEXUAL NÃO É UMA ESCOLHA!
NÃO É ALGO QUE VOCÊ ACORDA NUMA BELA MANHÃ DE DOMINGO E SE DECIDE: DAQUI PRA FRENTE VOU SER TRANSEXUAL, NÃO FUNCIONA ASSIM, SIMPLESMENTE É, SIMPLESMENTE ACONTECE E ACONTECE MUITO ANTES DE O PRÓPRIO TRANS SABER. NÃO É POSSÍVEL QUE A IGNORÂNCIA DO SER HUMANO SEJA TÃO VENENOSA ASSIM.

Enfim, hoje não temos mais contato.
Se sinto a falta dela?
Sinto, sinto sim, pq meus amigos que já eram meus amigos na época sabem tudo o que passamos.
Sabe da história turbulenta que enfrentamos.
Passamos por muita coisa, passei mais coisa com ela do que com qualquer outra namorada.
Mas se esta é a decisão dela, a opinião dela, quem sou eu para querer mudar alguém?
Eu só posso ensinar as pessoas e só ensino quando elas estão disposta a aprender pq simplesmente não tem como ficar dando murro em ponto de faca, não é mesmo?

Concluindo esse pedaço onde falo sobre o vídeo do Gabriel, reforço para que vejam o vídeo no meu Facebook. Vale apena.

Agora, apesar de meu texto estar bem longo e eu preciso dormir pq amanhã levanto cedo para trabalhar, graças a Deus, vamos falar só um pouquinho da novela.

A psicóloga da Ivana mostrou para ela que ela estava se referindo a si mesma no masculino e a Ivana não tinha percebido isso. Bom, comigo não foi bem assim, foi mais sofrido, eu não conseguia me referir no masculino, parecia que tinha algo dentro de mim que impedia pronunciar palavras no masculino quando se tratava de mim mesmo, algo me segurava, isso eu fui conseguindo conquistar aos poucos, antes eu só falava com melhores amigos, depois fui falando com amigos, conhecidos, colegas e aos poucos fui aceitando e liberando, mas confesso para você que foi um trabalho de meses, não foi coisa de um dia para o outro ou de uma semana para outra, foram meses.
E isso é muito difícil, pq eu tenho que me policiar, pq querendo ou não eu ainda vivo duas identidades, em casa infelizmente ainda sou a Priscila, mas fora de casa, por exemplo no trabalho, eu sou o Pedro, o meu eu real.
Só que tenho que policiar para não falar no masculino em casa e no feminino no trabalho, pq foi tão difícil conquistar isso no trabalho, demorou um pouco até que todo mundo se acostumasse com a minha nova identidade que eu não quero por nada a perder colocando palavras femininas no meu eu.
Em casa não posso falar no masculino, não me autorizo, não quero fazer mais barulho do que já fiz.
E hoje por exemplo, eu estava fumando no quintal com a minha mãe, a gente sempre fuma juntos, conversamos sobre o dia a dia, ela estava quase entrando quando eu soltei alto e claro "Pedro Batman recebeu um e-mail" ao ver que a notificação no celular e quando percebi que falei algo com ela ali fiquei me sentindo mal, pq eles não estão prontos ainda para lidar com isso e é como eu disse ali em cima, cada um tem o seu tempo e longe de mim querer pressionar qualquer pessoa.
O ruim é que parece que cada vez mais que o tempo vai passando, vou tendo mais dificuldade em me policiar, em segurar essa bola de fogo dentro de mim por minha avó não saber, por viver pela metade.
E sendo sincero com você que esta lendo essas linhas, eu tenho um medo enorme do que possa acontecer quando eu explodir, as vezes, me pego até pensando se não seria melhor eu morar num hotelzinho de 5º categoria sozinho mesmo para dar paz para o povo de casa.

Arg, minhas costas estão queimando, são esses intrusos (peitos) pesados que um dia eu ei de tirar.
Mas voltando a novela, teve a cena da Ivana e Joyce também.
Quem assistiu viu que cena forte que foi, cheio de emoções.
Eu entendo de verdade a explosão da Ivana, inclusive, como já falei diversas vezes, tenho medo de explodir também, só que pelo que me conheço, naquela hora que ela estava gritando com a mãe dela, se fosse eu, já teria falado ali mesmo que sou trans.

Mas eu não posso dizer que não entendo a Joyce.
Se fosse alguns anos atrás eu não teria entendido e ainda teria dito que a Joyce não passa de uma egoísta querendo que a filha faça só o que ela quer.
Mas é duro para uma mãe. É muito díficil para ela também.
Não posso dizer com todas as palavras pq eu nunca estive grávido rs, mas pelo que eu ouvi por ai, a mãe desde a gestação já sonha uma vida inteira e perfeita para a filha ou o filho, faz planos para a vida toda, principalmente mães de garotas que já planejam o casamento da filha quando ela ainda é apenas uma criança.
É como vc sonhar que vai se formar em direito por exemplo, ser um advogado bem sucedido, irá casar aos 30 anos e ter uma filha e um cachorro, mas por algum motivo que nós não conseguimos entender, esses planos não dão certo e tudo vai por água abaixo e sejamos sinceros, nós ficamos chateados, magoados, alguns até entram em depressão. Então é preciso entender todos os lados, mas é como eu disse ali em cima, se fosse alguns anos atrás eu não estaria dizendo isso, mas fui entendo as coisas ao longo do tempo e acredito que talvez possa ser assim também para os pais.
Talvez eles precisem de tempo e não podemos tirar esse tempo deles.
Não no caso do meu pai, como a gente não se fala, a opinião dele não pesa no balanço da minha vida, simples assim. Gostou, gostou, não gostou ema, ema ema, ema.
Não estou dizendo que não o amo ou não me importo com ele, estou dizendo que se ele não me aceitar quando souber com as palavras saindo da minha boca, o que ele acha ou deixa de achar não vai me fazer parar.
Meu pai é meio que um cara que só pensa nele, tem bom coração, mas pensa muito só nele.

E preciso dizer que no momento em que a Joyce e a Ivana estavam brigando, o que me veio a cabeça é será que vou conseguir olhar nos olhos da minha mãe quando as mudanças começarem aparecer? Quando eu estiver com barba e falando grosso?
Será que vou conseguir conviver com as pessoas aqui de casa?
Será que vou querer manter contato com a família?
Será que vou continuar aparecendo nas festas de família?
Ou vou querer me isolar do mundo?
Na verdade, o que me preocupa mais em tudo isso, realmente é a minha mãe.
Pq a minha mãe, meus amigos, não é só a minha mãe, ela é a minha companheira, minha melhor amiga, minha confidente, ela é a pessoa mais importante em toda a minha vida.
Eu faria qualquer coisa por ela, qualquer coisa mesmo, eu a amo tanto que se ela virasse pra mim e pedisse que eu faça só a cirurgia dos peitos, que não tome hormônios, isso pesaria tanto na balança da minha vida, mas tanto, que eu pelo que me conheço, atenderia o pedido.
Pq sabe gente, quando vc ama alguém, vc simplesmente faz qualquer coisa por ela.
Qualquer coisa no mundo.
Mas todo amor tem um limite e meu limite começa no momento em que eu preciso ser eu e viver como eu realmente sou, mas se for só fazendo a cirurgia e mudando o nome nos documentos, para mim seria suficiente, apenas se ela me pedisse para não fazer, qualquer outra pessoa que me pedisse o mesmo á teria a resposta na hora: Não. Eu não vou deixar de fazer por vc.
Engraçado né?
Eu lembro de um ex-terapeuta meu dizendo que o que tenho pela minha mãe é obsessão.
Bom, eu não concordo com isso, pq se isso não é amor, meus amigos, então não existe mesmo amor.

Bom já falei demais hoje né, chega!
Ah! E respondendo uma pergunta que me fizeram:
Sim, eu tenho medo de morrer sem ter realizado este meu único sonho de vida.

Obrigado a todos.

Abraços.

PD.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Barbas, palavras no masculino...#Aforçadoquerer


Boa noite amiguinhos.
Voltei, eu tinha que voltar, como ficar calado depois do capitulo de hoje?
Para quem assistiu a novela hoje, reconhece a imagem acima, da cena em que a Ivana esta fazendo a barba ou brincando de fazer, como preferirem achar.
Eu tenho apenas duas coisas para dizer sobre isso.

1º Eu já fiz isso. Já brinquei de fazer a barba, centenas de vezes, a diferença é que faço no banheiro, de porta fechada, antes de tomar banho, então, não corro o risco de ter um encontro desagradável com alguém da família como a Ivana teve. E eu faço com sabonete, pq meu irmão e meu pai não tem esse trem ai de espuma ou se tem, não deixam no banheiro, deve ficar guardado no armário deles e como eu odeio que mechem nas minhas coisas, não mecho na deles e nem me atrevo a pedir emprestado, mas notei que com esse trem, o momento parece mais real, talvez satisfaça mais, um dia talvez eu compro.

2º Pq justamente no banheiro da Joyce? Ela disse para a Elis que achou que a Joyce não tinha chegado ainda, justo, porém, me lembrou de uma conversa com a minha ex-terapeuta há um tempo atrás sobre "avisos indiretos" digamos assim.
Por exemplo, no meu caso, eram cartas.
Eu tinha várias cartas de minha ex-namorada, mas várias mesmo e mesmo depois do fim, eu as tinha guardado comigo e um dia minha mãe pegou e ai minha vida virou de ponta cabeça.
Eu disse pra terapeuta que eu havia guardado como lembrança de um momento bom que acabou e não volta mais. Ela disse que momentos bons a gente guarda dentro da gente, que eu havia guardado aquelas cartas, pq eu queria muito que minha mãe pegasse e descobrisse tudo logo, que eu estava dando as respostas de uma forma indireta e sem perceber, mas era isso o tempo todo.
No começo eu achava que ela estava ficando louca, pq eu daria as respostas pra minha mãe de bandeja? Pq eu queria ser livre, queria que me libertassem de uma vez por toda e só hoje, alguns anos depois que consegui entender.
Acredito que no caso da Ivana, para brincar de fazer a barba justamente no banheiro da Joyce, era ela querendo passar as respostas, dar os sinais, sabe? Pelo menos é minha opinião particular.

Talvez ninguém ou poucas pessoas conseguem entender, mas estar na frente do espelho, estar fazendo a barba é um pequeno momento que nos permite sentir o sabor, a felicidade e a liberdade de ser quem somos, principalmente para trans que não chegaram lá ainda, assim como eu.

Eu disse que eram só duas coisas que eu queria falar, mas tenho mais.
Sabem o momento em que o Eugênio e a Ivana estão sentados na cama tentando conversar e ele pede repetidas vezes para ela falar com ele, ela tenta, mas não consegue, salva pelo pedido do Ruy?
Que ela começa a falar algumas palavras no masculino, mas ele corrige ela?
Lembro-me de no inicio da minha história eu tbm fiz isso, não com a família, mas comecei com amigos, tive uma grande dificuldade com isso, pq qdo essa etapa começa é um passo em frente a aceitação e a vida inteira tive dificuldade em aceitação.
Hoje já falo abertamente, porem, recuo em algumas situações, como por exemplo na última festa de aniversário que fui, a festa aconteceu em uma casa para idosos, eu não achei que seria certo falar no masculino ali, pq apesar da festa, era local de trabalho da minha prima e eu não queria causar mais barulhos do que os gritos das crianças correndo no quintal do fundo.
Mas, nos momentos que eu acho que é melhor não, minha mente continua agindo, mesmo em silêncio. Por exemplo, hoje minha mãe e eu estávamos no dentista, na sala de espera, enquanto meu irmão estava dentro da sala tentando dar um jeito na "vida bucal" kkkkkk.
E a recepcionista perguntou algo do tipo o que eu tinha ido fazer lá e antes mesmo que eu pudesse responder alguma coisa, minha mãe disse "Ela já terminou o tratamento."
Não estou dizendo que com a minha mãe ali eu teria respondido no masculino ou se eu esperava que ela respondesse no masculino, pq eu não espero que ela faça nada parecido, na verdade, não espero nada dela, além do respeito que ela vem me dando, pra mim, o respeito já ta de bom tamanho, pq eu sei que não é nada fácil pra ela também.
O que estou tentando contar é que a mente trabalha mesmo assim.
Quando minha mãe disse "Ela já terminou..." na minha mente já começou a consertar a frase automaticamente "Ele já terminou o tratamento..."
E sempre que minha mente "conserta" as frases apenas dentro dela mesma, de certa forma, da um certo alivio, pq eu não espero isso vindo de qualquer pessoa da minha família.
E não, eu não estou reclamando, relaxem, só estou contando as coisas do meu jeito.

E teve a conversa da Elis e Ivana, sobre explodir, libertar-se, algo assim, não lembro.
Só sei dizer que é isso que eu sinto.
Quero muito que minha avó saiba logo pra eu não ter que ficar inventando mentirinhas.
Ter que ficar mantendo meus amigos longe da minha casa pq eles já se acostumaram me chamando de Pedro e não correr o risco da minha avó ouvir.
Não sei explicar direito, mas quero ser livre, LIVREEEEEE.
Quero ser livre, sem tantos pontos e virgulas na minha vida.
Eu antes me sentia acorrentado pelo corpo todo, depois que berrei pro mundo, as correntes caíram, mas meu pé continua preso, um pé só e ele só vai ser libertado quando ela souber.
Não sei explicar o pq ela tem que saber, mas ela precisa saber.
E tem dias que eu quase conto tudo, quase tiro esses elefantes das minhas costas, quase libero minhas asas para voar, pq sabe, chega né, carregar esse segredo nas costas, viver com esses elefantes no ombros, por 30 anos, já deu né, minha pena foi maior do que se eu tivesse matado alguém.
Quero ser livre, quero ser feliz, quero viver.

Enfim...
Vou dormir. Amanhã, ou melhor, daqui algumas horas tenho que ir trabalhar, sim eu voltei.
E preciso regular meu sono e minha fome tudo de novo.

Então outro dia a gente continua essa conversa, ok?
Abraços.

PD.




















domingo, 13 de agosto de 2017

Os por do sol da vida


Boa noite amiguinhos.
Achei que só postaria aqui de novo no meio da semana.
Vamos primeiramente comemorar que ultrapassamos mais de 3 mil visualizações, eu não esperava tudo isso, na verdade, não esperava que alguém viesse olhar, muito menos uma visita vinda do EUA e a outra da Suécia, algo assim.
Vamos em frente \o/

Amo por do sol.
Sempre amei.
Gosto de ficar observando esse momento quando estou triste.
Então vamos falar sobre isso hoje, olhando para esta foto acima.
Eu decidi que essa semana eu vou no fórum do meu bairro atrás de mudar minha documentações.
E quero deixar claro aqui que eu realmente quero isso, de verdade mesmo, esta decidido.
Mas é um pouco estranho, a sensação que da é que estou me despedindo de alguém que eu não quero que vá embora.
Fica parecendo que estou colocando o fim na vida, uma sensação de que esta acabando, sabe?
Eu sei que muita gente vai pensar algo do tipo "Se vc esta triste pq esta deixando sua identidade, então não seja isso que vc realmente quer."
Não é isso gente, não funciona assim. Não é assim.
Eu sei quem eu sou, eu sei qual meu caminho traçado, sei quais meus sonhos, meus objetivos, eu sei o que eu quero do futuro para mim, para a minha vida.
Mas eu estive nessa personagem chamada Priscila faz 30 anos, não é simples como pensam, que simplesmente acabou. É como se você estivesse vivendo durante 30 anos com uma pessoa, vc se acostumou com a presença dela, se acostumou com ela por perto e agora ela esta indo embora e você não pode pedir para ela ficar, porque no fundo, você sabe, que ela realmente precisa ir embora, para que de certa forma você possa viver livremente.
Não sei explicar de um jeito melhor, não sei quais palavras seriam certas para este caso.
Eu sei que estou muito pra baixo essa noite, muito nostálgico.
Não me culpem, 30 anos é praticamente uma vida inteira.
Minha vontade é de tomar um remédio e acordar só amanhã, mas temos visitas queridas e quero ficar com elas, embora estejamos em cômodos diferentes, me sinto com eles, que infelizmente daqui a pouco vão embora e sem falar que dormir agora e acordar só amanhã não vai resolver meus problemas.
Desde que li que a bancada evangélica quer barrar o uso do nome social tenho ficado muito ansioso em relação a isso, mas muito mesmo e tenho pensado nisso all time.
Após a conversa com meu primo ontem, entendi que não tem como dar um passo para trás, mas nós vivemos no Brasil, alguém dúvida de que isso seja possível? Eu não, é o Brasil!



Eu não sei mais quantos anos eu tenho de vida, na verdade, ninguém sabe, mas eu quero começar agora a escrever uma nova história, uma nova vida, novos momentos, novos aprendizados, começar do zero, tudo de novo, aos poucos.
Não importa se tenho 1 ano, 5 anos ou mais 30 anos, mas quero ter vivido essa vida antes de morrer.
Eu sei que vocês devem estar se perguntando se a minha preocupação com a minha família acabou, não, não acabou, mas eu tenho algumas cartas nas mangas.
Por exemplo, não vou mais pagar a conta de luz direto no banco para não mudar meu nome automaticamente como aconteceu da última vez, vou pagar na lotérica e se vier algo no meu nome social, direi que Pedro é um amigo meu que viajou e pediu para as correspondências chegarem aqui em casa para que eu possa guardar para ele. Não vou mudar meu nome na minha conta do Santander, para minha avó continuar usando o cartão de crédito para compras de comida para a casa.

Na verdade, não posso dizer que vou seguir arrisca isso, pq nos últimos dias, que tenho visto ela dando chilique por coisas tão idiotas, jogando o lixo no meio do quintal por causa de um simples comentário, bufando, procurando problemas a toa, talvez eu ligue o foda-se.
Embora meu primo me aconselhou não contar as coisas na hora que eu não aguentar mais e explodir, pelo que me conheço, acho que é isso que vai acabar acontecendo, pq tipo, se ela não colabora para termos paz pelo menos dentro de casa, pq eu deveria colaborar? Entende?
Preciso viver minha vida, afinal, nunca saberemos se sobreviveremos até o final da semana da semana que vem. Isso não significa que eu não ame minha avó e minha mãe, amo, amo muito mesmo, mas chega uma hora que cansa e a gente não tem mais forças para continuar nesse jogo, essa é a grande verdade.
Quero seguir em frente, quero conseguir meus documentos, quero tomar hormônios, quero fazer a cirurgia dos peitos, quero seguir em frente e não quero ser culpado ou julgado por isso.



Quero que as pessoas entendam que o meu caráter não muda.
Que eu vou sempre fazer o possível para ser um cara melhor.
Que eu vou sempre amar muito meus amigos e família e vou sempre ser humilde e educado.
Quero que as pessoas que eu amo estejam ao meu lado do início ao fim.
Quero que as pessoas estejam lá quando eu finalmente chegar.
Não precisam aceitar, mas respeitar.
Pq apesar de todos os meus defeitos, de todas as coisas ruins que já fiz na vida e talvez ainda faça nos anos que virão, apesar de ser esse pedaço de merda em forma de gente, eu acredito que eu mereço ser feliz, nem que seja um pouquinho, nem que eu termine a vida solteira, um velhinho surdo que varre a calçada as 06 da manhã e tem um gato chamado Pierre.
Nem que eu termine lavando os pratos em um restaurante de 5º categoria.
Acho que se tivermos paz, a tal da paz que tanto anseio, podemos enfrentar qualquer coisa na vida.
Foda será se eu não encontrar a paz nem depois dessa jornada que eu tanto quero seguir.
Se eu não encontrar, com certeza, estarei pagando por algum pecado que cometi e então aceitarei esse inferno inteiro, mas não importa, eu realmente quero atravessar tudo isso, quero mostrar para mim mesmo, que as pessoas que me chamam de corajoso, elas estavam certa o tempo todo.
Quero que os aplausos para cada passo que eu dou sejam merecidos.
Quero fazer tudo melhor do que já fiz.
Quero viver.
Quero ter paz.
Quero...
...Enfim...
Ser eu mesmo.

PD.








sábado, 12 de agosto de 2017

Os bastidores do aniversário


Olá amiguinhos.
Boa noite.
Todos bem? Ótimo.
Hoje vamos falar um pouco sobre o aniversário e os bastidores da festa.
Bom, essa foto com o aniversariante não é recente, esqueci de tirar uma com ele hoje, ele tava se divertindo tanto com os amiguinhos, que eu nem lembrei da foto.
A festa estava maravilhosa como sempre, se tem algo que eu posso falar com toda a certeza do mundo, é que meus primos sabem dar uma boa festa, sempre que algum amigo meu vem de outra cidade pra SP eu falo: Vamos ver se vai rolar alguma festa nos primos do Ipiranga, que as festas deles é foda pra caralho. É que agora eu já não posso mais ficar bebendo tanto, meu fígado ta cheio de pavulagem, minha pressão achando que é montanha russa pra ficar nessa brincadeira de desce e sobe e minha cabeça acha q ta numa balada pra ficar nessa palpitação toda, mas eu lembro de um natal ou  ano novo, não sei, lembro que era alguma festa de fim de ano e lembro que estávamos indo para a casa da minha prima pra dormir e já era quase 06h da manhã de tão incrível que a festa foi.
Eu já não consigo mais acompanha-los, mas eles sabem festejar, sabem beber e continuar bebendo no dia seguinte, sabem se divertir, se desligar completamente dos problemas e isso é muito bom, bom pelo monos eu gosto pra caramba, embora eu agora tenho sido o primeiro a ir embora pra casa, eu realmente gosto das festas deles. Lembro de uma vez que alguém tocou a campainha da casa onde estávamos e todo mundo começou a rir pq tava todo mundo muito louco e rimos até a barriga doer, foi ótimo, espero um dia poder voltar a atingir esse limite da loucura rs.

Mas voltando ao assunto do aniversário pq eu dei uma viajada legal né rs.
O Henrique fez aniversário ontem...ontem, né? A festa foi hoje e bombou.
Eu não sou muito de falar pessoalmente e na verdade criança não liga muito pra isso, mas eu desejo toda a felicidade do mundo para esse pequeno rapaz, que Deus o abençoe por todos os dias de sua vida, sempre iluminando seu caminho para que sejam feitas as suas vontades, que não lhe falte saúde, humildade, inteligência e motivos para sorrir e celebrar.

Eu dei a ele um quebra-cabeça do star wars, não sei se ele é fã, mas arrisquei, pq eu só conheço eu mesmo que não gosta de star Wars rs, o resto, todo mundo adora.
Foi com o Henrique que percebi que gosto de quebra cabeça, quando fui comprar o dele, vi uma caixa de OITO MIL PEÇAS! Imagina a trabalheira dos infernos que deve dar, só não comprei pq tava mais caro que um rim no mercado negro rs.
Mas espero que ele tenha gostado, nunca fui bom em comprar presentes para ninguém.

Ah! Eu também não bebi álcool, nem uma gotinha.
Ninguém acreditou.
Mas senhores, quero que vc saibam que é pq eu estava ruim de estômago e dor de cabeça, apesar de eu ter jurado que nunca mais ia beber, beberei, daqui algumas semanas quem sabe rs.
Enfim, teve cachorro quente (maravilhoso, devo ter comido uns 3 ou 4), teve carne louca (hummmm...) e alguns salgadinhos que tbm mandei guela abaixo, agora o bolo, gente do céu, que bolo era aquele? Simplesmente perfeito! Só não comi dois pedaços pq não tinha lugar na minha barriga mais e sim, eu sei que como pra caralho e ainda reclamo que to gordo, mas vou fazer o que se comer é um prazer enorme? rs.

Tá. Já enrolei demais, eu sei disso, não precisam me olhar com essa cara ai não.
Vamos agora falar dos bastidores.
Fui sozinho pra festa, o povo chato de casa não quiseram ir, mas eu fiz questão de ir e marcar presença.
Peguei um ônibus, um metro, outro e mais um e uma carona da prima Analu, as festas deles são tão boas que vale apena atravessar a cidade para tal.

A festa foi na casa da gente. A casa onde minha prima trabalha como terapeuta ocupacional para a terceira idade, cheguei, dei oi para quem já estava lá e me aproximei da mesa onde as senhoras estavam jogando dominó. Perguntei quem estava ganhando e logo recebi o esperado convite para me juntar a elas, puxei uma cadeira e bora jogar. Sim, gosto de dominó também, mas sou mais fã de baralho, apesar de que sou muito ruim em todos os jogos rs.

Primeiro momento foda rolando nos bastidores da festa:

A senhora que estava jogando com a gente, cujo nome não lembro agora, referiu-se a mim no masculino. Quase levantei e beijei e abracei ela, mas como ela não me conhece, acho que seria um tanto quanto estranho para ela e eu não queria assusta-la. A moça que estava jogando com a gente, que trabalha lá junto com a minha prima, "corrigiu" a senhora dizendo que eu era uma garota, eu nem hesitei, simplesmente falei que eu sou trans, igual a Ivana da novela das 21h, ela entendeu e parou de corrigir a senhora, eu havia me apresentado como Priscila para elas, porque como era um local de trabalho da minha prima e a festa era só no fundo da casa, quem sou eu para arriscar de criar uma situação constrangedora lá? Pq eu não sei como que é a cabeça de cada um né, mas elas reagiram muito bem, o que mais me tocou nessa "cena", foi que a senhora parecia que me enxergava pela alma, pq eu estava ali, de peitão marcando na camisa pq não tem jeito né, são grandes demais pra eu conseguir disfarçar com faixa e mesmo eu ali de peitão, ela me viu como um garoto. Ah nem, pessoas como ela merecem todo o amor do mundo.
A moça aproveitou e pediu autorização para perguntar se a confusão mental que a Ivana representa na novela, se é real ou se é exagero de quem escreveu a novela.

Esperem um pouco, meu estômago ta ficando chato de novo, hora de medir a pressão.

...

11/7. As vezes acho que esse aparelho ta quebrado, mas ok, amanhã mediremos com o outro.

Voltando...

O que respondi foi nada mais do que a minha opinião pessoal:
Algumas pessoas nascem sabendo o que são e fica mais fácil de traçar o caminho que vai percorrer para chegar onde quer.
Outras pessoa sabem que são diferente das demais, mas não entendem exatamente o que é essa diferença e vão descobrindo ao decorrer da vida, que é o caso da Ivana, que foi o meu caso e com certeza caso de muitxs outrxs trans.
E ela também perguntou com que idade eu comecei a entender as coisas.
Eu não soube responder, pq parte de mim sempre soube que eu era um garoto, a outra parte, não sabia que existia a palavra trans, que é possível adaptarmos-nos para vivermos como queremos, então chutei que foi lá pelos 20 anos.
E é como todos sabem, eu não tenho qualquer problema em responder perguntas, na verdade, eu tenho o maior prazer de ensinar as pessoas sobre transexualidade, eu prefiro um milhão de vezes que as pessoas perguntem, do que serem ignorante de um assunto que não sabem sobre e mesmo assim ficam opinando e julgando.
Responder as perguntas dela foi tipo uma chacoalhada do tipo "Pedro, vc ainda tem que ensinar as pessoas, pode não precisar ensinar mais as que estão no seu dia a dia, mas sempre haverá uma pessoa querendo aprender." isso é devido ao meu post anterior quando eu anunciei que eu não tenho mais nada para ensinar rs.
Gostei muito de ter jogado dominó com o pessoal da terceira idade, de conhecer essas pessoas e espero de verdade que elas se divirtam muito la na casa da gente, que aprendam bastante coisa e que o sorriso nunca falte e pra minha prima desejo que a sabedoria nunca falte e que ela tenha sempre essa paciência (cá entre nós, é preciso de paciência com pessoas da terceira idade sim, ainda mais em um mundo estressante como o de hoje) e que sempre tenha esse coração grande e de ouro, sempre pronto para dedicar seu tempo, para aquelas que precisam de cuidado e carinho.

Bastidores: Cena 2

A irmã da minha prima, a mecânica dos dentes (pessoas normais chamam de dentista) pediu para tirar uma foto comigo, foi uma foto eu, ela e mais alguns parentes, click aqui, click ali, click acolá e ai ela quis uma foto só eu e ela, lembro-me de como se fosse agora a pouco, pensei "Comigo? Pq ela quer tirar uma foto comigo? Pq eu? Tanta gente foda ai na festa e a foto é comigo?" terminei o pensamento e click, a foto já tinha sido batida, então fui fumar.
Mais tarde, eu estava sentado ao lado dela e ela me mostrou as fotos que tinha batido, as que eu aparecia na foto e sabe, a primeira coisa que eu olhei, juro pra vcs de pés juntos, foi super automático, foram meus peitos e fiquei mal pra caramba pq eles estavam lá, grandes, expostos, como se gritassem para todos que eu ainda tenho o corpo de mulher. Em todas as fotos, eles estavam lá, me entregando sem dó.
Um dia eu sei que isso tudo vai acabar, que vou fazer a cirurgia e eles vão sumir.
Mas até eu juntar toda a grana da cirurgia + passagens + colete pós-cirúrgico + remédios...
Enquanto isso, vou tirando fotos só da cabeça pra cima rs.
Tento não ter pressa e ansiedade, prefiro acreditar que as coisas acontecem no momento certo.
E vou confessar, só não peguei o celular dela e joguei na parede (como se aquilo fosse deletar para sempre as fotos) pq além de que ela não tem culpa alguma que eu tenha meus conflitos comigo mesmo, é um puta de Iphone, seria uma mancada do caralho, então respirei fundo e segui em frente.
Nós conversamos rapidamente e falei que não vejo a hora de ser livre para ir atrás daquilo que eu quero pra mim mesmo e ela perguntou o que eu quero.



Eu quero tomar hormônios masculinos.
Eu quero mudar meu nome e gênero nos meus documentos.
Eu quero tirar os peitos.
Eu quero dar a volta por cima e vencer essa guerra sem fim que existe dentro de mim.
Eu quero ser livre para viver como quem eu realmente sou, sem filtros, sem personagens.
Simples assim.

Bastidores Cena 3:

A terceira e última cena foi com o meu primo que é advogado.
A gente estava fumando no cantinho para não ir fumaças nos convidados da festa e aproveitei o momento para fazer uma pergunta básica:
- Ser, você viu que a bancada evangélica quer barrar o uso do nome social de transexuais?

(espera, momento para fumar, aproveite você e vá ao banheiro)

Voltei, demorei pq passei no banheiro e a tentativa de fazer número dois que estou desde quando acordei fracassou novamente e estou contando isso para vocês pq não sou obrigado a passar vontade sozinho kkkkk.

Enfim, voltando para a cena 3, meu primo disse que não estava sabendo sobre a bancada querendo barrar o nome social, eu aproveitei o momento e lhe contei que isso me preocupa, pq agora que esta fácil de conseguir, eu não fui atrás ainda e se barrarem, vai ser difícil chegar onde quero chegar.
Apesar dele ter falado que eu já estou lá, eu não me sinto lá ainda, preciso concluir as coisas que falei ali em cima. Gostei muito de conversar com ele.
Falamos sobre a novela das 21h, falamos sobre a minha mãe, que eu tentei deixar bem claro pra ele que graças ao bom Deus, hoje minha mãe tem a cabeça mais aberta do que antigamente e ele reforçou que ela não é obrigada a aceitar, mas a respeitar e isso concordo com ele mesmo, pq ngm é obrigado a aceitar nada, mas sabe, simplesmente não posso reclamar, a gente não fala muito sobre o assunto, não pq ela não quer, mas pq eu ainda não consigo, ela esta desmontando o lado dela da barreira que tem entre a gente, mas por mais estranho que seja, eu ainda não consegui desmontar o meu lado e pior que as vezes eu acredito que é para protege-la, ela não precisa saber de tudo, ela não precisa participar, o esforço que ela esta fazendo já é maravilhoso, já basta pra mim e sejamos sinceros, que não é só difícil para os trans, as mães dos trans tbm tem suas dificuldades e não podemos culpa-las.

Ele me explicou que da pra mudar toda a documentação, que somente no RG que fica uma pequena observação em baixo, por questões médicas, por exemplo. Bom, eu sinceramente não me importo nem um pouco com essa observação, mas sei que ficarei emocionado, quando meus documentos estiverem da maneira correta, identificando o eu de verdade.

E então falamos sobre a minha avó.
Falei para ele que ao mesmo tempo que eu quero simplesmente seguir meus sonhos para ser feliz pq TODO MUNDO merece ser feliz, eu não quero dar passo nenhum por causa da minha avó.
Porque se pelo menos minha avó descontasse a raiva e a reprovação dela somente em mim, seria ótimo, pq eu sei lidar com as minhas dores, decepções e tristezas, isso é sobre mim, então se é para ferir alguém que seja somente eu, pq serão consequências das minhas próprias ações, mas não, ela não fala comigo, é sempre o lado mais fraco que arrebenta, é sempre na minha mãe que ela desconta, não estou dizendo que minha mãe é fraca, não é isso, estou dizendo que minha avó joga com palavras pesadas, ela "atira" pra ferir mesmo, ela faz o fim do mundo em um único momento e eu não acho justo, tem q vir a mim, atingir a mim, pq eu saberei rebater de volta na hora certa.
Minha mãe já abriu a mente dela, já compreendeu as coisas e é só isso que quero dela, ela não merece passar o dia todo ouvindo minha avó infernizando ela por algo que fiz.
Eu tenho certeza absoluta que minha avó não aceitará e nem respeitará devido sua religião, já meu primo acha que não tem muito a ver com religião, mas sim com o fato de que minha avó sempre foi uma pessoa difícil, porque a minha tia-avó, tem a mesma religião que ela, exatamente a mesma e essa minha tia soube digerir melhor essa história, bom, nunca falamos abertamente sobre isso, mas ela me respeita e me trata super bem como se nada tivesse mudado.

E falamos sobre dar esse passo.
Mudar as minhas documentações de uma vez por toda.
Eu, pela primeira vez na vida, pedi ajuda ao meu primeiro, pedi ajuda abertamente e com todas as palavras para irmos atrás disso e eu falei sem medo, falei sem hesitar, falei sem sentir o estômago embrulhar, falei sem querer voltar atrás depois, pq eu tenho certeza absoluta que eu realmente quero isso, eu realmente quero ir em frente, eu quero lutar para chegar lá, eu quero um dia poder olhar pra trás e dizer que não foi fácil, mas eu venci, eu quero vencer!

Mas ai na janela do metrô vim pensando...
É justo?
É justo fazer isso com a minha mãe?
Minha avó vai aguentar o tranco?
Pq a opinião do meu pai, como falei pro primo, não pesa na balança da minha vida, então, foda-se se ele aceita ou não aceita, mas os outros...
Eu sei que meu primo-irmão não terei problemas, ele já sabe e entende, assim como a minha mãe.
Meu afilhado e primos que moram no andar de cima tbm não terei problemas.
O marido da minha tia é outro que a opinião dele não pesa na balança da minha vida, mas a opinião/reação da minha tia é importante.
Bom, provavelmente vai demorar algumas semanas, pq meu primo não vai lembrar de jeito algum que pedi ajuda, eu terei que enfiar o orgulho no rabo e pedir ajuda de novo, então, tempos tempo.



Fico pensando, tipo agora, sabe...
Nunca roubei.
Nunca matei.
Nunca fiz mal para qualquer outro ser humano.
Experimentei maconha na faculdade, mas isso não quer dizer nada, afinal, maconha faz mais bem para a saúde do que muitos remédios que tomamos por conta quando surge alguma dorzinha.

Eu trabalho todos os dias, de segunda a sexta, das 09:30 as 18:30.
Nunca faltei por vagabundagem.
A minha regra salarial é primeiro as contas o que sobrar, a diversão.
Nunca cheguei atrasado por vagabundagem, até quando estou numa ressaca maldita, dia seguinte to la, na hora certa do trabalho para fazer todo meu dever.
Nunca neguei dinheiro para alguém.
Sempre que posso tento contribuir com as moradoras de rua que estão deitadas no meio da rua com criança pequena e rezando para que alguém ajude a comprar algo para ao menos a criança comer.
Respeito os idosos, na verdade, faço o possível para respeitar todo mundo, pq o respeito é o direito que todo ser humano tem.
Para resumir, eu nunca fiz nada que eu considero errado.
Pq eu não posso ser feliz?
Pq eu não posso adaptar o sexo do meu corpo ao sexo da minha alma?
Pq eu não posso mudar as documentações?
Pq eu não posso chegar em casa e apresentar determinada garota dizendo que é minha namorada?
Pq eu tenho que ficar com essa barulheira na cabeça?
Essa guerra dentro de mim?

Pq eu tenho que limitar a minha (única) vida por causa de outras pessoas se eu não peço para ninguém limitar suas vidas por mim?

Pq eu não posso ter paz?
Pq eu não posso chegar lá?
Pq eu não posso vencer?




PD.