sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Curto texto sobre J.K e suas falas transfóbicas...

 



Pegando emprestado essa imagem espetacular no site ponte.org (https://ponte.org/artigo-por-que-a-fala-de-j-k-rowling-sobre-menstruacao-e-transfobica/) precisamos falar sobre o que ela disse.

Primeiramente quero deixar claro que eu não sou fã de HP, na verdade, nunca chegue a assistir, nunca me chamou atenção, mas super respeito os fãs de HP e outras coisas que ela já escreveu.

Enfim, eu li por ai que ela disse que não é correto dizer "pessoas que menstruam" porque para ela apenas mulheres menstruam.
Bom, para quem me conhece, sabe obviamente a minha opinião sobre isso, inclusive, por isso que passei dias refletindo sobre isso antes de vir correndo escrever aqui.

Amiguinhos, não sou famoso e muito menos sou conhecido no mundo com ela é, mas vamos tirar uns minutinhos para aprender com o tio Pedro?

MULHERES TRANS NÃO TEM MENSTRUAÇÃO, MAS JAMAIS DEIXAM DE SER MULHER.
(Alias e aquelas mulheres cis que por algum problema hormonal não menstruam, tbm deixa de ser mulher? Não, né? Pois é!)

HOMENS TRANS MENSTRUAM E NÃO DEIXAM DE SER HOMENS POR ISSO!
Inclusive, depois de dois anos, eu tive menstruação no inicio do mês e continuo sendo homem.
Mas como a menstruação me deixou completamente arrasado, como me deixou triste, desolado, perdido, me sentindo sangrando no chão após um tiro, se JK soubesse nem que seja apenas 5% de tudo o que eu senti nesses dias ou quando eu era adolescente que tinha menstruação mensal, se ela soubesse o que eu senti, o que vou sentir, quem sabe daqui dois anos novamente, o que homens trans sentem toda vez que isso acontece, não teria falado tanta bosta assim.
Se ela sentisse o que as mulheres trans sentem por não ter um corpo feminino, não falaria tanta bosta.

Acho que pessoas famosas tem que tomar muito cuidado com o que fala, porque infelizmente sempre existirá babacas que vão levar a sério as coisas que eles falam e usar isso para ofender outras pessoas.

Talvez nunca ninguém contou pra ela que, por exemplo, o Brasil foi considerado o país que mais mata transexuais e travesti em todo o mundo.
Talvez, embora famosa, nunca tenha visto uma reportagem sobre o alto índice de suicídio porque não conseguimos viver em um corpo cujo sexo não é o mesmo de nossas almas.

Talvez ela nunca saiba como dói quando um homem trans é tratado como uma mulher.
Como dói quando uma mulher trans é tratada como homem.
Provavelmente ela nunca saberá como é levantar todos os dias, colocar um sorriso na cara e continuar vivendo seus dias nesse corpo que não é seu. Fingir que tudo bem ser assim.

Muitas pessoas como eu nunca atingirá a aparência masculina.
Muitas pessoas tem problemas de saúde como eu que não poderão tomar hormônios.
Muitas pessoas como eu não tem e nunca terá dinheiro para fazer a cirurgia de retirada de seios, de útero e ovários.

Mas você segue a vida, porque sabe que precisa trabalhar para pagar as contas.
Você não tem o luxo de parar sua vida para consertar o que está errado.
Você não tem o luxo de ficar em casa deprimido, pq a vida não espera vc se recuperar.
Essa é a grande verdade, a grande realidade, que alguém deveria esfregar na cara dela até ela entender.

Finalizo dizendo o seguinte:

Respeitem a identidade trans, juro pra você q isso não vai te machucar.

Não importa o quanto lutamos essa luta parece ser eterna.
Não importa o quanto tentamos deixar o nosso corpo parecido com o que realmente somos, sempre vai doer, lá no fundo da alma, em algum lugar.
Eu no meu caso tenho sido muito paciente com a minha família que ainda não se adaptou com a minha identidade real, muito paciente mesmo, mas por amor.
Um dia jogarei a bosta no ventilador e a única que poderá ter mais tempo será minha mãe, a pessoa que eu mais ano no mundo todo.

E sobre as cirurgias e tratamentos de hormônios, são coisas que já aceitei que não terei, segui com a vida, mas nem por isso as pessoas podem falar bobagens o tempo todo, pq o fato de ter aceitado e seguido em frente, não significa que não dói, que não machuca, que não sangra.

Respeitem pessoas trans.
Não precisam aceitar, alias, quem disse que aceitamos vocês como cis?
Mas é preciso RESPEITAR.

Pedro.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Cartas para ela

 

"Querida Pri, eis-me aqui novamente, lhe escrevendo como se você pudesse ler.

Estou aqui para lhe dizer novamente que eu não sei como você conseguia lidar com tudo isso, lidar com o mundo, com as pessoas, com as coisas que aconteciam na sua vida.

Eu não sei como você aguentava tudo, porque sabe, fazem apenas 4 anos que você me deixou existir e eu não estou sabendo lidar com isso. Ontem foi realmente difícil, ontem foi...Não me lembro quando foi a última vez que tive uma crise tão forte, acredita que até o pensamento de mutilação estava novamente me rodeando? Me infernizando para criar alguma dor física como se isso fizesse o coração parar de doer. Mas calma, eu não fiz nada disso, eu fui forte, quer dizer, fui um pouco, não fiz nada contra mim mesmo, mas chorei até dormir, nem a oração que faço todas as noites eu fiz.

Você deve estar se perguntando pq eu cheguei a esse ponto.

Bom, depois de muito tempo, acredito que uns dois anos, minha menstruação veio. Eu não sei como você lidava com isso antes, toda vez que essa droga vinha, sei que eu não estou sabendo lidar e o pior é que estou descontando minha raiva na pessoa, por ser uma fraude e ngm tem culpa.

Eu tenho total consciência disso, mas é muito mais forte do que eu posso enfrentar. Vai muito além de todas as minhas forças, por mais que eu tente fazer minha mente entender, ela não consegue.

Eu sei que tem muitas coisas piores acontecendo no mundo, não só nessa época de pandemia, mas desde que o mundo é mundo e eu aqui reclamando de barriga cheia, mas eu inventei esse blog justamente para isso, para escrever aqui minhas reclamações ao invés de alugar o ouvido de algum coitado amigo.

Até hoje não entendi como que você viveu aceitando ser deficiente auditivo, mas até ai tudo bem.

Mas também não sei como você aceitou ser homem trans, em um corpo traidor, que menstrua e tem seios grandes, em uma família evangélica que acredita que irei para o inferno só por ser trans, como você conseguiu em um mundo que te odeiam simplesmente porque você é diferente?

Como você conseguiu passar por tudo isso? Sozinha ainda, sem amigos literalmente ao seu lado. Sem um membro familiar no qual você pudesse ser literalmente verdadeiro?

Outro dia me peguei pensando em como eu estava presta a explodir, dizer a todos que eu só responderia quando me tratassem no masculino, claro que menos minha mãe, ela é a minha melhor amiga, companheira, minha vida inteira. Mas depois do que aconteceu neste final de semana, escolhi deixar pra lá, porque no fim das contas, nada passo de uma fraude de homem, mas tudo bem.

Foi difícil, Pri, porque estou de péssimo humor e ninguém aqui em casa entende, não sei nem se tentam entender, como é infernal a menstruação em casos como o meu.

Quando contei pra minha tia, ela deu risada, só não vou culpa-la porque eu ri quando foi a vez dela também, mas a diferença é que ela é realmente mulher e muito bem resolvida com isso, o corpo dela só estava fazendo o que faz com qualquer mulher.

Esse final de semana foi o primeiro em que pensei, pela primeira vez, na cirurgia para retirar ovários e útero. Nunca desejei tanto como desta vez. Mas sempre tem aquelas coisas que nos impede, como a falta de dinheiro para pagar por um cirurgião decente, o medo de morrer na sala de cirurgia por ser fumante, ter pressão alta e estar acima do peso. E atualmente, a pandemia.

Eu acho que essa cirurgia e a cirurgia de retirada total de seio são as duas que me deixariam feliz, que me deixariam mas próximo de me tornar uma pessoa realizada, o resto, a gente corre atrás.

Talvez eu nunca supere o medo da cirurgia. Talvez eu nunca realize esses sonhos, então é preciso procurar um caminho alternativo, um plano B de viver a vida. Acho que agora sim entendi aquele velho ditado em que dizem que a vida é apenas para quem se atreve.

Bom, eu não sei como você fez isso por 30 anos, não sei mesmo, mas sou seu fã.

Não consegui ainda lidar com as coisas, continuo correndo dos meus problemas, mas espero que um dia eu possa ter a força e a coragem que você teve. E quer saber? Se eu soubesse o que eu sei hoje, não sei se teria lutado contra você para poder existir ou tentar existir, pq ultimamente, eu só existo no meu trabalho, com meus colegas de trabalho e alguns amigos por whatsssap, você continua nessa casa, as pessoas daqui continuam chamando pelo seu nome, prefiro pensar que vc foi tão marcante para elas que elas simplesmente não podem te deixar ir. Eu compreendo, pode ficar o tempo que for necessário, não tem problema algum, eu vou tentando seguir do jeito que dá.

Um abraço,

Pedro Oliveira."

terça-feira, 1 de setembro de 2020

NOVE ANOS DE ESPN!

 


Boa tarde amiguinhos!
Quem achou que não teria textão de NOVE ANOS DE ESPN, errou!
Eu sempre gosto de contar a minha história, ela não é daquelas emocionante, envolvente e inspiradora, mas eu gosto muito de contar essa história, com muito orgulho, inclusive.
E teremos uma parte de várias fotos que representam esses anos!

Minha primeira entrevista foi em uma agência que ajuda PCD (Pessoas com deficiência) a conseguir emprego, eu não me lembro de todos os detalhes, mas lembro de ter feito entrevistas que não deram certo e acho que pq eu estava destinado a ir para a ESPN.
A 2º entrevista foi em uma unidade que tínhamos em pinheiros, com uma colega que eu tenho até hoje, a famosa Lívia Gueraldo.
Fomos para uma sala de reunião e não passou muito tempo até que eu fosse totalmente sincero com ela, que eu havia treinado bastante na noite anterior e naquela hora eu estava com um branco total na mente.
"Deixa eu conhecer você". A tranquilidade dela falando isso, jamais esquecerei, porque pela primeira vez depois de tantas entrevistas, alguém soube me deixar calmo o suficiente para não desmanchar em suor de tanto nervoso. Eu sempre serei muito grato a ela, que com certeza, fez toda a diferença no meu processo para entrar para o time.
E por fim, a terceira entrevista, tinha mais pessoas do que eu podia imaginar, minha antiga chefe Patrícia Silva, a Lívia, mais um rapaz do RH e a moça da agência que mencionei acima.
Entrei e cumprimentei todo mundo com a mão.
Naquela época eu ainda não tinha saído do armário como homem trans, então fui o mais feminina possível para essas entrevistas, porque minha mãe, que não entendia na época o que eu era, vivia me falando que se eu não me arrumasse de tal jeito nunca conseguiria emprego e depois de tantas tentativas fracassadas, acabei acreditando nela.
Sportcenter. É o nome da sala em que a história começou.
E o pior que eu me lembro de ter usado tanto humor, que pensei, ngm deve ter me levado a sério.
Mas eu preciso de um desconto, eles perguntaram se eu era estressado em casa!
Sei que muita gente mente em entrevistas, mas como eu poderia mentir sobre isso?
Eu costumava ser o mais estressado da casa! Ah, não teve jeito, contei mesmo!
Não estava esperando por tal pergunta, ainda brinquei com o rapaz do RH que já que ele torcia pro SP, ele tinha perdido um ponto na entrevista, lembro que ele brincou "Vc que é o entrevistado, quem perdeu foi vc por torcer pro Corinthians." kkkkkkk
E no final, quando a Lívia me levou até a recepção para eu ir embora, perguntei se só tinha aquela vaga, ela disse que sim e fui embora pensando "Perdi, talvez por que fiz gracinha demais e precisavam de alguém sério. Eu e a minha mania de fazer gracinha toda hora..."
Ah! Não posso esquecer de falar sobre um detalhe importante: Quem foi comigo na entrevista para companhia e apoio? Sim, minha falecida avó, que me deixou há 2 anos.
Eu não podia ter tido companhia melhor, porque ela sempre me incentivava a ir atrás do que eu quero.

Não lembro se uma ou duas semanas depois recebi a ligação, lembro que eu estava discutindo com a minha mãe sobre empregos, o celular tocou e atendi, uma mulher do RH disse que a vaga era minha, eu quase não consegui acreditar!
Eu? O que fez gracinha na reunião? O que contou que era estressado em casa? Não é possível!
Deus tinha me abençoado de uma forma gigantesca.
De uma maneira imaginável.
A ESPN é o meu primeiro trabalho registrado e eu lembro de como jurei a mim mesmo fazer tudo certinho, para não me chutarem e eu conseguir provar pra minha mãe que eu era capaz sim.
Acho que no fim, eu tinha que provar mais para mim mesmo do que para qualquer outra pessoa.

Comecei numa salinha minuscula, sem janela, sem TV, sem nada, quer dizer, quase nada do tipo.
Tínhamos três mesas e 2 armários e mal cabia a gente lá dentro rs.
Teve o Cris, que foi o mensageiro e o Dario, meu grande e eterno amigo, que fez um tour pela empresa me apresentando todos os lugares e pessoas e ainda me ajudou muito a deixar de ser bicho do mato.
Pq nossa, eu era MUITO bicho do mato, mas MUITO MESMO, vcs não fazem ideia!
Ah! Errei, antes do Cris teve o Michel que logo saiu, depois veio o Cris que saiu também, ai colocaram uma mulher, que até hoje é uma grande amiga minha que eu gosto muito, tenho muita consideração e respeito, a Elisângela.
Pronto! Eu já tinha a minha família, Dario e Elisângela, eu estava pronto para ir em frente.


Logo a família foi crescendo.
Da esquerda pra direita, está a Elisângela, o Dario, que foi meu guia, eu e a Lu!
A Lu me deu a oportunidade de jogar no time feminino de futebol na época.
Tadinha, eu era o pior jogador que ela poderia ter chamado para montar o time.
Eu estava bem gordo como vocês podem ver na foto, ok, ainda estou gordo, mas eu não podia ter dito sim pra ela, não sei bem o que eu tinha na cabeça.
Mas foi uma noite incrível, épica. Foi maravilhosa e eu nunca achei que participaria de algo assim.
Obviamente sou muito grato, que mesmo tendo dado vexame a ela, tive essa oportunidade inesquecivel.
Lembro que eu fui de tênis comum, escorreguei naquele gramado umas 80x e ainda levei meu irmão comigo pq o jogo era tarde da noite e eu não sabia se era jogo mesmo ou se pretendiam me matar kkkk.
Perdemos, claro, mas foi incrível de verdade.


Estou no fundo do lado direito, de bermuda até o joelho.
A Lu do lado esquerdo disputando a bola, de regata amarela.
Depois teve um outro campeonato, não lembro como era o nome, eu participei no último jogo e ainda ganhei medalha hahahahaha.


Ah! E nem preciso falar que a família só foi crescendo né?
Eles não estão mais conosco na ESPN, mas ao meu lado está o Reinaldo, ele trabalhou na segurança e ao lado dele, a Raquel, que foi nossa recepcionista.
Pessoas incríveis e muito amáveis.

Voltando a história, eu tinha tanto medo de ser mandado embora, que toda vez que a minha antiga chefe chegava perto de mim, eu tremia de tanto medo, nunca tinha visto nada igual.
Mas não posso reclamar não, tudo o que eu sei hoje, foi porque ela me ensinou, me colocou em um curso de facilites, não desistiu de mim, me ajudou até onde podia me ajudar.
Devo muito a ela pelo aprendizado, não só profissional, como pessoal também.
Durante esses 9 anos muitas pessoas passaram pela minha vida, a família cresceu bastante, mudou bastante, mas cada pessoa que passou pelo time deixou um puta aprendizado do caralho e um carinho meu q nunca terá fim.


Esse é meu colega e amigo Diego Ribeiro, a amizade de trabalho mais antiga que tenho hoje.
Quando eu cheguei, ele já estava lá acho que fazia um ano, talvez alguns meses, não sei direito, só sei que o cara já sabia mais do que eu sei nesses nove anos.
Ele ficava em outra unidade, apenas alguns anos mais tarde começamos a trabalhar na mesma unidade, mas antes disso acontecer, eu fui parar na unidade dele e ele na minha.
Foi um aprendizado que nunca vou esquecer, porque exigiu muito amadurecimento da minha parte, mas muito mesmo!
Antes dele cair nessa bobeira de casar e ter filhos, ele costumava sair com a gente para os barzinhos da vida que eu costumava chamar de esbornia.
Compartilhamos muitos momentos incríveis, não só de bares como profissional também, ele me ensinou muita coisa.
Hoje em dia a gente briga e faz as pazes 200x, mas que irmãos que não brigam?
Nunca vi ele surtando, coisa q eu já fiz mais de 1 milhão de vezes.
Depois ganhamos uma estagiaria, muito engraçada por sinal.
Ela era linda e sofria de um jeito tão engraçado com as merdas que acontecia na vida dela, que não tinha como não rir.
Com ela aprendi que nem todas as mulheres lindas são metidas e se acham demais.
Ela sabia ser humilde.
Essa é a Camila Vasquez.


A gente zoava muito com ela quando a chefe não estava na sala.
Foi uma época muito gostosa.


Ela me tolerava.


E ainda tinha que aguentar o Diego.


Eram meus irmãozinhos mais novos kkkkk


Esse sou imitando meu eterno amigo Dario kkkkkk
Sim, depois que deixei de ser bicho do mato, nunca mais consegui parar com as gracinhas.

Em 2016 eu cansei de fingir ser quem eu não sou, cansei mesmo e chutei o pau da barraca.
Assumi para o mundo todo que sou homem trans, inclusive, para a família.
Eu nunca tinha recebido tanto apoio como recebi naquele ano.
As pessoas entenderam, algumas tiveram um pouco de dificuldade de trocar meu nome e os tratamentos do feminino pro masculino, mas graças a Deus eu fui bem aceito.
Claro que eu tive um problema ou outro, nenhum lugar é um mar de rosas, mas a grande maioria me aceitou bem, ou como diz minha chefe atual, respeitam a minha identidade pq ngm é obrigado a aceitar.

Falando na minha chefe, Ana Cristina de Azevedo Vidal, nesse dia que chutei o pau da barraca, mandei uma mensagem no whats pra ela, parecia um livro, mas mandei, dizendo na maior inocência, sem processos em mente, que se eu tivesse q renunciar meu lugar na equipe ao me assumir, que não tinha problema, mas eu simplesmente precisava seguir em frente, ser quem eu sou, era a minha história, a minha vida, como não ir em frente?
Aos poucos fui conquistando nome alterado no listão, na agenda do telefone digital, no crachá, logo tive meu e-mail, minha assinatura, as coisas foram mudando conforme a música.
Foi lindo!
5 anos depois fingindo na empresa ser quem eu não era, me assumi sim e ganhei até a liberdade de usar o banheiro masculino.
Foi épico.
Eu lembro que no primeiro dia eu fiquei um tempão me segurando, pq estava com vergonha de ir no banheiro masculino, um amigo muito querido se ofereceu para ir junto, me mostrar que não era um bicho de 7 cabeças e que eu merecia estar lá.
Acabei negando a ajuda, respirei fundo e fui.
Eu sabia que era só o inicio de uma história incrível.
Logo depois fui convidado a participar do grupo Equal, o grupo de diversidade da empresa, estou no grupo até hoje e nunca imaginei sendo um dos principais.
Ah!
Não posso deixar de contar sobre meus 15 minutos de fama.



Eu fui praticamente o primeiro homem trans assumido da ESPN do Brasil.
Não era novidade só para mim, era novidade para toda a empresa.
Até hoje (que eu saiba, ok?) continuo sendo o primeiro e único homem trans trabalhando lá.
Muita coisa mudou desde que me assumi, a empresa ficou de cara nova e espero de verdade, que toda a trajetória que fiz por lá, tenha facilitado um pouco para os próximos trans que virão e que eles consigam fazer história como eu consegui.

E como meu texto está ficando muito longo e vocês já entenderam que eu simplesmente amo aquele lugar e não consigo me ver em outro lugar fazendo outra coisa, em comemoração a esses 9 anos, abaixo algumas fotos sobre vários momentos que tivemos lá.
Só de pensar que sobrevivi a vários momentos de demissão em massa e acho que sobreviverei a essa pandemia, me deixa muito feliz, pq tudo o q eu faço, até o serviço mais simples do mundo, faço com muita dedicação e amor.

Aqui eu estava na unidade de pinheiros ainda.
Eu estaria mentindo se eu falasse que não fui muito bem recebido la.
Eu não conhecia literalmente ninguém, mas eles me receberam de abraços abertos.
Nesse dia eles pararam tudo para me cantar parabéns, com direito a bexigas, bolo e um puta presentão do caralho: meu primeiro sk8 long.
Eles falavam pra eu andar lá só pra eles verem, mas a vergonha era tão grande que eu falava que não ia não pq tinha que manter o lado profissional kkkkk.
Eu nunca tinha ganhado um long, alias, andando em um long, como que minha primeira vez seria no ambiente de trabalho? Nunca!
Mas eu simplesmente amei esse dia e lembrarei dele até o fim dos meus dias.
Obrigado Equipe River.


Aqui eu já tinha voltado ao Sumaré, estava com vergonha de tirar foto então só coloquei o cabeção ali, a sorte é que minha chefe entendeu e se enfiou alo tbm.
Ah claro, temos o intruso do Diego saindo em todas as fotos sem ser chamado kkkkkk
Brincadeiras a parte, outro dia incrível.
Tinha passado apenas 1 ano depois que me assumi rs.


Aqui foi quando ganhei uma amizade incrível, o Jaca.
Ele trabalha na equipe de segurança lá do prédio e é o cara mais gente boa que já vi.
Lógico q se ele visse que postei essa foto, me mataria, mas eu adoro ela!


Aqui estou eu com duas amigas de longa data que graças a Deus ainda tenho até hoje.
Do lado direito, a Rosângela, ela era nossa supervisora na equipe da limpeza e do lado esquerdo, a Elisângela, que foi nossa mensageira.
Amo tanto essas meninas que até hoje a gente se fala pelo whatssap e antes da pandemia a gente se encontrava 1x ao ano para não deixar que o tempo mate toda a história que construímos.


Eu vivo falando que família cresce, muda, atualizada, uns vão, outros vem, né não?
Só lembrando que os que já se foram não deixam de ser importantes, ok?
Da esquerda pra direita, o Jaca, grande amigão, a Gessica que hoje faz parte da nossa equipe não só sendo a mensageira, mas cuidando do departamento de viagens, eu, óbvio, ao meu lado meu melhor amigo dentro daquela empresa, Ed, ele trabalha na programação e é uma das pessoas que tem cargo alto que continua sendo humilde, gente boa e praticamente a única pessoa que se mistura com o zé povinho que somos nós.
Ao lado dele a Bruna, que ficou conhecida como usurpadora, na empresa ela era um perfil, fora dele, outro kkkkkk, ela foi nossa recepcionista e foi incrível como sempre soube ser.
Estou com muita saudades desse grupo, bebendo muito e falando mais ainda.
Ah que saudades...


Lá na empresa, no mês de combate ao câncer de mama, algumas pessoas tiraram fotos para lembrar da importância da prevenção e da luta e eu não deixei passar em branco, lembrando aos homens trans que também precisam se prevenir e se necessário lutar.


Aqui o chefe veio me visitar, para quem não sabe, a Disney é praticamente a mãe da ESPN.
Ele disse que eu estava trabalhando muito bem, que ia receber um cargo novo e salário alto kkkkkk
Brincadeirinha.
Mas foi muito legal esse dia, geralmente eu não participo muito das coisas por conta da minha timidez, mas esse dia, poxa, eu tinha que abraçar o chefe Mickey!


Aqui foi quando colocaram nas TVs internas da empresa sobre quando me assumi.
Meus 5 minutos de fama.
Era estranho passar e me ver na TV.
Mas amei o "barulho" que fiz, foi ótimo e muito bem recebido.


Aqui estou eu, num evento do grupo de diversidade Equal da empresa.
Nem preciso falar quem é a linda e maravilhosa convidada né?
Mas ao meu lado está o Felipe Tomé, Irã Silva, Harry e Roger.
Meus companheiros na luta diária contra a LGBTQI+fobia.


Participei também do evento de Halloween da empresa, eu fui...como chama mesmo aquele careca loucão da Família Addams?
Tio Chico? kkkkkk
Sim, fui ele e tirei algumas fotos com grandes colegas.
Esse na foto abaixo é o Brunão, parceirão.


Eu e os rapazes da Torre B.
Pessoas de cargo importantes, humildes e muito gente boa mesmo.


Eu e as gatinhas hahahahaha.
A Larissa, que trabalha com o Ed na programação, a Gessica e a Carol.
A Carol costumo chamar ela de a mulher do dinheiro.
Porque todas as contas do nosso departamento, ela que é responsável por colocar no sistema para pagamento e ela que compra quase tudo o que a gente precisa.


Esse é o Paulo, não sei o que da Segurança do trabalho.
Um palmeirense muito chato!
Ele me tirou no amigo secreto e me deu uma máquina show de cortar o cabelo.
E é brincadeira, ele é um cara bem legal e ainda está conosco!


Bom, vocês já conhecem essas pessoas incríveis, mas postei pq nela está a Denise, que amorzinho de pessoa gente, ela não esta mais no time, mas dava vontade de colocar ela num potinho onde desse para guardar para sempre.


Esse sou eu na unidade de pinheiros, com meu cabelo horrível e zoado.
Tentando acenar para alguém com a minha mãozinha minuscula.


Aqui estou eu tbm na unidade de pinheiros, enchi tanto a minha sala de caixas que tive que sair por debaixo da mesa rs.


Rosângela e eu fingindo que somos sérios na reunião.


Aqui é pra mostrar que os encontros anuais com elas continuavam firmes e fortes.
Adicionando a Fê, ela cuidava da nossa postura.
Ginastica laboral.
Mulher especial.


Aqui estou com o Paulo, ele era do ar condicionado, ele sabia que eu odiava abraços e por isso veio me dar um bem apertado assim.


Não preciso nem falar que foi hora de fazer gracinha né?



Esse é o Fabro, no aniversário dele com a gente.
Ele foi supervisor da segurança.
Um companheiro muito firmeza que eu fiz questão de abraçar mesmo não gostando muito disso.


Essa é a Dani, ela não vai poder reclamar que a foto que postei dela é ela no bar.
Não tinha outra, ela não apareceu em mais nenhuma das que eu tenho aqui.
Ela foi a recepcionista da unidade de pinheiros, me ajudou bastante.
Gente fina pra caramba.


Quem será que eu estava imitando aqui?


Aqui estou eu com a maravilhosa Carol.
Ela cuidou do departamento de viagens por um tempo.
Gente muito boa sabe? De coração gigante.
Sempre me dava toque quando eu não escutava algo que deveria.
Me ajudou e me ensinou.
Não só companheira, mas amiga.
Sem frescura, sem cu doce.


Diego e eu desmontando a sala para mudarmos para outra...
Ou era troca de piso?
Não lembro.


Teve pedindo de casamento na frente de todo mundo...


Aquelas sexta-feira morta...


Eu levando meu trabalho a sério...


Todo mundo na festa junina.
O Felipe que era nosso estagiário, minha antiga chefe Patrícia, minha atual chefe Ana Vidal, A Carol, Diego, Paulo, o que me abraçou apertado e Arthur.
Ao meu lado, melhor amiga da antiga chefe e responsável pelo departamento de viagens, Luci e do outro lado a Fernanda, que era mensageira.
Equipe antiga, mas legal.


Meu irmão de careca, Mariano...


Esse dia foi muito legal, sabem a senhorinha da foto?
Então, a gente não sabia quem era, quando vimos, já estava bebendo com a gente rs.


Sempre cuidei de motoboy, mas esse cara, é literalmente o cara.
O melhor motoboy que já tive em 9 anos e um grande amigo.
Graças a Deus ainda está conosco.
Williams.


O Pezzato, do comercial, aprendendo fazer gracinhas, a mesa na foto era de um estagiário muito legal.


O Seu Zé da limpeza, bacana e espertinho rs.


Eu e Didi


Meu irmão gêmeo da empresa...


Tive tbm minha primeira oportunidade de vestir um terno, foi na festa de graduação de uma ex-amiga minha que trabalhou conosco.


Essa foto não precisa de legendas, né? Rs.


Ah!
E não menos importante, o casal de Urubu que tinha na casa ao lado da empresa.
Eu vivia falando que era minha família vindo me visitar rs.


Espero que tenham gostado, porque eu não tenho palavras para explicar o quão importante á para mim estar completando nove anos, mesmo sendo trans, mesmo sendo surdo, mesmo sem ter formação na área, cheguei onde cheguei, com muita luta, suor, lágrimas e claro, ajuda.
ESPN está no meu coração.
Sempre estará.
Não desista meu amigo, se eu consegui ser abençoado por Deus com este emprego maravilhoso, vocês também conseguem.

Um abraço,
Pedro.