sábado, 27 de janeiro de 2018

Pessoas como vocês mudam o mundo.



Sabem aquela ponte que eu vivo chamando de minha? A ponte do Sumaré? 
Então... Não lembro se foi na terça ou na quarta, acho que terça, enfim, isso não importa, só importa que me contaram sobre um rapaz que estava sentado na beira da ponte ameaçando pular, ao seu redor um monte de pessoas, que não deveriam ser consideradas pessoas, já que estavam incentivando o cara a pular e acabar com a sua vida, acho que nunca pararam pra pensar que em um outro momento, outra situação, poderia ser algum parente deles ali, ou amigo, namorado, mas beleza né, cada um com o pouco de consciência que ainda tem. 

Aquela ponte foi palco de muita tentativa de suicídio, a minha inclusive, também foi lá, mas graças a Deus eu fui covarde demais para isso e tive ajuda de pessoas incríveis que sempre vou levar na memória e no coração. 

Enfim, graças a Deus também que alguém ajudou esse cara e como não falar sobre isso aqui? Porque tipo, as pessoas rotulam, as pessoas apontam e julgam, as pessoas ofendem, agridem e matam pessoas da comunidade LGBT apenas por serem diferente do padrão da sociedade e foram justamente pessoas dessa comunidade linda que sou grato de fazer parte que ajudaram este cara. 

Uma delas foi uma colega minha, a Cacau, ela trabalha comigo lá na emissora, ela faz não sei o que lá, mas sei que é importante e não estou sendo idiota, é que nem eu sei explicar o que eu faço naquela emissora e olha que já estou lá faz 6 anos e não ainda não sei explicar, acho que no fim das contas a gente faz um pouco de cada coisa para ajudar a manter o canal no ar, enfim, pelo amor, porque eu prolongo tanto as coisas? 

E a outra pessoa, foi à esposa dela, que se chama... Espera ai, preciso ver, eu não a conheci ainda... Samyle! É o nome da esposa da Cacau, que foi até o local oferecer ajuda, serviços de terapia onde ela trabalha e estuda, achei muito legal, mas muito legal mesmo, lembro-me de que o dia foi bem corrido, não tive tempo de procurar a Cacau para parabeniza-la e agradece-la pelo que ela e a esposa fizeram por aquele cara que com certeza estava em um total desespero e dor na alma que não sabia mais o que fazer, as pessoas caçoam, mas se suicidar é preciso de muita coragem, mas muita mesmo, espero que o rapaz tenha procurado ajuda, que esteja fazendo o tratamento, por mais que terapia pareça besteira, perda de tempo e tal, eu sou prova viva de que ajuda sim, ajuda muito, principalmente quando você encontra uma terapeuta que consegue compreender a dor da sua alma.

Enfim, muito obrigado Cacau, muito obrigado Samyle, um abraço forte em vocês duas, que Deus abençoe todos os dias de vocês, com muita proteção e saúde e que vocês possam continuar para sempre sendo as heroínas que vocês foram naquele dia, não sei aquele rapaz, mas eu nunca esquecerei o que vocês fizeram, vocês foram incríveis, porque além de vocês ajudarem, não incentivarem, diferentes de muitas pessoas que passaram com o coração apertado ali por causa dele, vocês pararam lá e fizeram toda a diferença, que bom que “conheço” vocês, que bom que vocês existem e que bom que estiveram lá.

Que ironia, não é?
 Todos os dias a gente morre por sermos diferentes dos outros, mas são essas pessoas diferentes que fazem toda a diferença e são essas pessoas que lutam por um mundo melhor, são elas, que nos salvam de sermos desumanos, como sempre.

São pessoas como vocês que renovam a minha esperança de um mundo melhor, em algum dia, no futuro.

Obrigado.

PD.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Se sinto falta?


Se sinto saudades do tempo que não retorna? Sinto, muito.
Não pelos motivos que os adultos tanto falam que virou clichê, a obrigação eterna de pagar boletos, você paga boletos porque você gasta e tem gastos que infelizmente não podem ser cortados, mas pagar boletos é algo que faz parte na vida de todo o ser humano, não tem como fugir, aceite e siga em frente e, por favor, se esforce para manter as contas em dias.
Sinto falta de quando a mãe comprava piscina de plástico e todo nós ficávamos horas e horas enfiados na piscina, jogando água uns nos outros, fingindo que sabíamos nadar e enchendo de potes a piscina para brincarmos de uma espécie de lanchonete dentro da água, era uma imaginação que não tinha fim, era uma imaginação que não tinha maldade.

Sinto falta de quando todos se juntavam no final do ano para passar o natal juntos, montávamos a arvore, aquelas luzes piscando aleatoriamente, os presentes no pé da arvore e nossa ansiedade a flor da pele sempre esperando para rasgar os papéis e aproveitar os brinquedos. Lembro-me quando eu era pequeno e ainda tinha medo dos fogos da virada do ano, de escutar minha tia berrando com os filhos dela porque nenhum deles obedecia e ela ficava doida.
Sinto falta de tantas coisas, os brinquedos espalhados pela casa, a ansiedade gritando pra fora do corpo querendo quer a vó chegasse logo para ficar com os cachorros para que pudéssemos passear na lapa e quem sabe comprar mais brinquedos, meu irmão brincava de Barbie comigo, naquela época não tinha essa de frescura de que homens não podem brincar com essas coisas que são apenas para meninas, éramos mais livres, percebemos tarde demais.

Brigávamos por causa de brinquedos, enquanto as mães conversavam na cozinha sobre qualquer coisa da vida, corríamos a casa inteira, brigávamos, claro que sim, mas fazíamos a as pazes logo e voltávamos a brincar. Os parentes iam lá em casa, tínhamos um quintal enorme, fazíamos churrasco sempre que dava. Por um tempo frequentamos também o SESC, um clube aqui do bairro, íamos no MC Donald e tomávamos banho de chuva, levantávamos cedinho para correr para a sala e assistir TV, tinha parabéns e presentes no aniversário de todo mundo, tinha minha mãe se irritando comigo e jogando massa de coxinha que ela estava fazendo na minha testa. Tinha brincadeiras de carteado, roba monte, tapão, essas coisas que já não se ouve falar mais e tinha as sessões de filmes que eu sempre tinha com a minha mãe, tinha os cinemas com o meu pai, as viagens com a minha avó. Tinha o mertiolate esperando para arder nas nossas almas em todos os machucados que fazíamos. Tinha a briga para quem ia jogar seu jogo favorito no vídeo game, tinha o jogo da vida, banco imobiliário e passe e repasse, tinha bolinha de gude, pipa e figurinha para bater. Tinha os dias de frio que ninguém queria sair na rua e ficávamos todos juntos em baixo das cobertas.

Eu tinha criatividade, gostava de ficar horas e horas escrevendo em um caderninhos, histórias que não tinham começo e nem fim, quando não era isso, estava compondo músicas, que na minha cabeça um dia fariam um sucesso inesquecível, era pausar varias vezes, voltar e dar play de novo no discman para entender aquela parte da música que passava rápido demais, era se esconder no porão que tínhamos em casa para assustar os outros, era passar as férias juntos, as festas de fim de ano e as férias do meio do ano, era sempre arrumar um motivo para estarmos todos juntos e depois de tudo, era o coração apertado e os olhos cheios de lágrimas, quando minha tia ia embora para casa dela levando meus primos pequenos juntos, a casa ficava tão silenciosa que dava para escutar nossas respirações, salvos, pelos latidos dos cachorros, mas era aquela ansiedade sempre pensando quando eles viriam novamente.

A fase da Bike, dos patins e do skate. A fase da cortina pegando fogo porque deu curto no pisca-pisca por algum motivo que eu não lembro mais, era a flor que a gente arrancava do jardim de alguém e dizer para a mãe que era para ela. 
Era aprontar alguma coisa e falar que foi o irmão só para não apanhar. Era tudo tão simples, tão tranquilo, tão suave, não tinha ainda toda essa maldade que o mundo tem, não tinha ainda toda essa violência e ódio, não tinha, não como tem hoje onde a gente tem medo de ir até na esquina depois das 22h.
Era aquelas piadas bobas do bisavô que escola tem, o que não tem é aula ou a bisavó falando que ficávamos o dia todo no “trec trec”. Éramos todos pintando a casa ou fazendo alguma mudança em algum cômodo da casa que minha mãe sempre inventava porque gostava das coisas diferentes. 
Éramos unidos, muito unidos, como se todos nós fossemos irmãos de verdade, sabíamos ser uma família, sabíamos estar juntos, sabíamos ignorar certas coisas para não deixar que aquilo nos atrapalhasse.

Se sinto falta? Todos os dias da minha vida, só não sou de ficar falando, porque sinceramente, é um tempo que não existe absolutamente nada no mundo que eu possa fazer para traze-lo de volta, não existe nada no mundo, desde que a primeira vida surgiu, algo que possa ser feito para voltar no tempo e tudo o que nos sobrou foram as lembranças, as palavras que se você fechar os olhos e se concentrar você ainda escuta, os latidos, as crianças correndo, gritando e chorando, a tia louca atrás delas falando que eles não iam sair de cansa nunca mais porque não se comportavam, não tem nada que eu possa fazer, só podemos deixar a nossa alma de vez em quando visitar um momento que não existe mais a não ser dentro de nós.



Sinto falta todos os dias, das brincadeiras, risadas, diversão e até mesmo dos choros, porque estávamos encrencados, mas estávamos juntos, estávamos bem, estávamos unidos. 
As crianças voltando da escola para podermos brincar todos juntos, dentro de casa, fora de casa, em todos os lugares, momentos que nunca mais, por mais que você queira, por mais que você implore, feche os olhos e deseje com toda a sua alma, nunca mais irão voltar. Nunca mais serei crianças, nunca mais meus primos serão crianças, não tem mais brinquedos jogados pela casa, somente os ossinhos da Kiara, nossa última cachorra. 

Falando nisso, já tive um pastor alemão, um Cocker e um... Um lindo que não lembro o nome agora da raça, tive um pato, um pintinho e vários e vários gatinhos e gatinhas. Se sinto falta? Todos os dias...

É extremamente normal ficarmos para baixo quando lembramos de tudo o que se foi e não volta mais, é normal chorarmos sempre que lembrarmos, é super normal, então fiquem a vontade. Mas não podemos ficar presos a isso, precisamos fazer hoje um presente incrível, para que no futuro possamos olhar para trás e ver que continuamos vivendo, que fomos seguindo em frente, cada época com o seu tipo de felicidade, cada coisa no seu precioso tempo, cada moda, cada brinquedo, roupa, corte de cabelo, todas as coisas em suas devidas horas, porque a vida é assim mesmo, diferente das minhas histórias, ela tem um começo, meio e fim e depende de nós a intensidade que iremos viver os momentos, aproveitarmos com sabedoria, amar o próximo e aproveitar o máximo possível de todos aqueles que estão em nossa volta, porque não sabemos, infelizmente, quando a missão deles na terra vai acabar, assim como não sabemos a nossa e eles também não sabem a nossa.

Se você compra um campo, cuida bem dele, joga sementes, cuida da terra, dá agua e luz, o campo ficará lindo, ficará parecendo um pequeno paraíso e as vezes, dependendo das sementes lançadas na úmida terra, depois de um tempo elas possam retribuir todo o carinho com frutas ou um espetáculo inesquecível de cores e cheiros, mas se você não cuidar, se você não cumprir com sua promessa, se você não cuidar de verdade, o campo não passará de um local feio, sujo, fedido e abandonado, ele vai deixar de existir e só vai estar ali, como um copo esquecido na beira da janela em uma tarde de por do sol, assim são os momentos, precisamos sempre cultiva-los, sempre cuidando e dando o nosso melhor, assim como a semente não se sustenta e cresce sem a terra e a agua, não conseguiremos seguir em frente sem saúde e amor, pode parecer clichê, chamem como quiserem, mas tudo na vida tem que ser cultivado com carinho, independente de quanto tempo vai durar esses momentos.
Eu ainda continuo chamando minha mãe para comer algo fora ou pegar um cinema, eu ainda continuo tentando de alguma maneira  fazermos desta fase a melhor de todas, embora, eu saiba lá no fundo que nada substitui a infância que tive, mas continuo tentando, chamando para uma caminhada, um carteado ou uma simples volta, para uma sessão de filmes com pipoca e guaraná, as respostas são sempre negativas, mas eu nunca fui homem de desistir fácil, quem sabe, um dia. Mas as vezes podemos nos surpreender, por exemplo ontem, fui no cinema com meu afilhado e fomos assistir um filme lançado no cinema, compramos coca em copo grande e pipoca e de novo estávamos voltando para aquele tempo.

O que estou tentando dizer é que ainda não acabou, embora a vida seja uma só para todos, ainda não acabou e precisamos cada vez mais ser fortes, reunir forças e ir seguindo em frente, sempre tem um jeito de sorrir novamente, sempre tem um jeito de realizar os sonhos e desejos, sempre tem um jeito, um motivo para nos unirmos de novo e eu espero de verdade, do fundo do coração, que os motivos bestas que estão fazendo as pessoas s estão brigando, um dia elas percebam que nada daquilo vale um último, nunca saberemos, momento com aquela pessoa. 

Então me escutem, parem, arrumem o presente de vocês, arrumem o agora de vocês, para que daqui alguns anos possamos estar com a mão na cintura, olhando o por do sol e falando para nós mesmos: Eu vivi, eu vivi de tudo o quanto era jeito e fui feliz, muito feliz e é por isso que vou continuar em pé na batalha, o meu futuro irá me agradecer, eu tenho certeza.
Se sinto falta? Todos os dias.

PD.

sábado, 20 de janeiro de 2018

P X P



Outro dia me peguei pensando se fosse possível eu me encontrar com a pessoa que eu fui no passado, o que eu diria a ela. Eu acho que diria que eu juro que estou tentando e da pra ver isso em cada vez que levanto depois de uma grande queda, eu não tenho a coragem que prometi a mim mesmo que teria, talvez, eu nunca tenha, mas eu continuo tentando.




Eu não tenho vergonha de falar sobre a pessoa que eu fui, da personagem que eu criei e representei o papel muito bem aos longos dos anos. Ela era uma mulher, Priscila foi o nome que deram a ela logo que nasceu e ela seguiu seus anos tentando viver dentro dos padrões imposto pela sociedade por questão de sobrevivência.




Ela sempre foi de poucos amigos, mas esses poucos, ela sempre deu valor.




Deu valor a família, aos colegas, amigos e conhecidos. Ela fez muitas coisas boas na vida, ela foi uma pessoa boa sim e como tentou, ninguém pode negar que ela tentou. Não tenho saudades dela, mas também não tenho vergonha, porque ela existiu para que eu pudesse aprender tudo o que eu sei hoje e o que eu tento ensinar as pessoas a minha volta.




Sabe, eu fico voltando a minha mente ao passado, décadas atrás, fico procurando nas lembranças se houve algum momento em algo foi feito e foi quando as coisas começaram a dar errado, mas a verdade é que isso nunca aconteceu. Uma das lembranças mais frequentes que eu tenho é sobre a dança na festa junina da escola, eu era tão novinho, eu nem estava na 5º série ainda, estava enfiado em um vestido que minha mãe havia comprado para mim e eu lembro que eu olhava para os garotos e me perguntava porque eu não podia me vestir como eles? Porque logo eu tinha que ficar enfiado naquele vestido ridículo, eu não conseguia entender as coisas e isso me desesperava demais da conta.




Eu via os garotos jogando futebol sem camisa, tendo cortes de cabelo legais, andando de skate e podendo mijar no meio da rua e eu não conseguia entender porque eu não podia fazer nada disso, porque eu não conseguia me contentar com as brincadeiras de meninas? Eu me lembro que eu gostava de deitar no gramadinho do colégio e ficar imaginando como seria diferente se eu fosse como os garotos. Quando eu saia com a minha mãe para comprar roupas, eu simplesmente odiava, porque toda a roupa que eu queria para mim, eu sempre ouvia “Isso não Priscila, isso é de homem, venha olhar as coisas desse lado aqui.” Porque meus primos podiam cortar o cabelo arrepiadinho e eu tinha que ficar horas em baixo do secador enquanto minha mãe esticava meus cabelos para ficarem soltos e lisos? Ou antes de ter seios, eu só queria usar a parte de baixo do biquíni e fingia ser sunga...




Já não basta eu ter que ficar ainda representando a personagem em finais de semana e feriados dentro da casa onde moro? Essas lembranças tem que aparecer para me atormentar? Minha mente precisa mesmo ficar procurando por respostas? Voltando para um tempo que não me pertence mais?




Falam que eu sou corajoso, não, eu não sou. Corajosa era a Priscila, que aguentou até onde deu, vivendo da maneira torta porque não podia compreender, não tinha ninguém para conversar, não podia confiar a ninguém, tinha que sofrer sozinha, ela estava sozinha no mundo, sentada no cantinho, no escuro, com o rosto molhando de lágrimas tentando entender porque justo ela que tinha que passar por todo aquele sofrimento. Eu não sou corajoso, eu sequer superei meus obstáculos e quando esta foda demais, eu apelo para os remédios que minha mãe toma, eu não sou forte, forte não se entrega aos remédios assim, ele luta até o último segundo, eu não tenho lutado, como as pessoas podem me chamar de corajoso? Muito pelo contrário, eu não passo de um covarde, de um bosta, de um idiota.




Mas eu tenho sentido que a Priscila esta por aqui, mas que desta vez ela veio dar adeus. Não sei se é pq já me livrei de todas as roupas que não vestem o sexo da minha alma, as fotos e muitas outras coisas ou porque, se Deus quiser, esta chegando o momento em que serei finalmente livre? Estou sentindo ela por aqui, como se tivesse vindo se despedir, como se tivesse dizendo “Agora é com você.”.




Talvez seja porque agora só aqui em casa que eu finjo ser essa pessoa ainda, só falta eu vencer a batalha aqui dentro de casa, porque no momento que essa história falsa acabar, no momento em que a minha avó souber, eu coloco o ponto final na história da Pri.
Eu não a odeio, mas preciso viver, preciso ter paz, sossego, preciso viver de verdade, preciso respirar, preciso deitar minha cabeça no travesseiro a noite sem senti-lo molhado com as minhas lágrimas, preciso ter a paz que tanto anseio. Eu sei que a possibilidade da minha família que mora aqui em casa e no andar de cima de me chamarem de Pedro e respeitarem minha identidade de gênero são quase zero, mas ainda assim sinto ela por aqui, dizendo que esta acabando e agradecendo por eu ter deixado ela viver todos esses anos, mesmo sendo apenas uma personagem. As vezes tenho vontade de perguntar para o pessoal aqui de casa se eles estão prontos para dar adeus, se eles estão prontos para respeitar o meu verdadeiro eu, se eles estão prontos para lidar com a realidade que sempre escondi, mas tenho medo, porque como as chances da resposta ser negativa são grandes, eu não sei se posso me levantar deste tombo. Mas todas as vezes que me chamaram de Priscila hoje, eu senti algo dentro de mim dizendo que esta acabando, que eles estão aproveitando o quanto podem, que as coisas estão chegando ao fim.




Eu não tenho vergonha, Priscila precisou existir para que eu pudesse saber o que sei hoje, ela precisou preparar o campo para que eu pudesse batalhar bem em todas as guerras, ela precisou ser forte e segurar todas as porradas da vida, para que eu pudesse continuar respirando fundo toda vez que me recuso a levantar de um tombo. Ela tinha um coração muito bom, fez faculdade de enfermagem porque acreditava que sua missão na terra era cuidar dos doentes e feridos, eu sei que eu interrompi essa história antes da hora, mas tudo o que aconteceu até aqui, me ajudou e me ajudará daqui pra frente.




Eu sinto que esta chegando ao fim, espero que sim. Eu sempre vou me lembrar dela com muito carinho, mas as lembranças dos momentos que ela passou, que ela viveu estão se apagando da minha memória, as coisas estão ficando para trás, talvez esteja abrindo caminho para as novas coisas que virão a seguir, eu espero, no mínimo, que o coração de ouro que ela teve, eu possa manter comigo até o fim dos meus dias e que eu possa ser um homem melhor, uma pessoa melhor, um sonhador melhor, que eu possa continuar levantando até chegar o dia da minha glória, sim, eu sinto que esta chegando ao fim e ela esta aqui para se despedir, acho que a minha família também sente isso, acho que talvez, mesmo que não estejam percebendo, estão se despedindo também.
Vamos ver o que o futuro guardou para nós.
Um abraço,
PD.


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Quem diria...

Boa noite amiguinhos.
Estamos cansados que o dia foi puxado, então seremos breve e o texto será pequeno, mas eu tinha que vir contar hoje, foi um momento mais rápido da história, mas que ele precisa ser registrado.
Eu na cozinha pegando alguma coisa pra comer, tinha acabado de chegar do trabalho, meio estressado ainda pq hj o dia foi do cão né, ai surge minha mãe e diz:
"Agora que você não tem mais traços de mulher, deve ter sido vergonhoso e estranho você vomitando lá em baixo de madrugada hein"
Sim, eu vomitei, na despedida do Ivan nós exageramos na dose e quando cheguei aqui não deu tempo de entrar e vomitar no banheiro q nem uma pessoa "decente", vomitei na rua mesmo kkkkk.
Mas vamos ao que interessa?
Eu fiquei muito feliz ouvindo ela dizer que não tenho mais traços de mulher e ainda por cima nem brigamos, foi épico.
Primeiro pq eu não estava esperando isso né, nunca imaginei ela falando assim com tanta naturalidade depois de tudo o que passamos e olha que não foi nada fácil viu.
Não é ruim ser mulher, não to me desfazendo de tudo pq e ruim, não é, muito pelo contrário, o mundo só funciona pq elas existem, mas não me identifico como mulher, sou um homem trans que um dia quem sabe eu começo minha transição rs.
Mamis e eu tivemos muitos problemas no decorrer da minha juventude, tanto, que se algum dia alguém me contasse, eu simplesmente não acreditaria que um dia conseguiríamos viver na paz sob o mesmo teto, que ela me entenderia ou que pelo menos tentaria.
Significou muito pra mim e espero seguir conquistando as coisas que quero pra mim.
É isso, muito obrigado, você salvou meu dia <3

E quanto a galera que estava no bar ontem, me chamando de corajoso diversas vezes, falando que sou uma boa pessoa e tal é meio que engraçado pq eu não consigo me ver sendo corajoso, se eu fosse, já teria contado pra minha avó e começado a transição, se eu realmente fosse, teria conquistado muito mais coisas.
E enquanto eles estão lá falando da minha coragem, das minhas conquistas, em como eles já me veem como homem de verdade, eu me sinto assim:


Tipo, como se não entendesse o que eles estão falando, sabe?
Pq eu não me vejo como corajoso.
Não me vejo alguém que conquistou coisas, pelo menos não o suficiente.
Não me vejo um homem ainda, eu me sinto um, mas falando em aparências, acho que eu estou muito longe ainda. Uma vez comentei com uma colega que tinha entrado um cabelinho loiro no plastico do meu crachá, que eu não sei de onde ele surgiu, ai ela disse que deve ser um desses que tenho no rosto, na região que seria a barba, sabe?
Gente, eu não tenho nada aqui, meu rosto é mais liso que bunda de neném!!
Mas eu fico feliz que pelo menos os outros conseguem enxergar com facilidade aquilo que eu não consigo de jeito nenhum, quem sabe um dia, não é mesmo?

E amigos, se eu sou alguma coisa boa, é pq vcs me ajudam no dia a dia construir esse bom cara.
Obrigado por isso, pelo apoio de todos vcs.

Obrigado por estar começando a me enxergar através da alma mãe.
Eu te amo.

Amo os parças tbm.

Abraços.

PD.

Psiu: Avisei que o texto de hoje seria bem curto rs.
To com sono, porra!!

Fui.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Perdemos um soldado!


Bom dia amiguinhos.
Finalmente a notícia foi liberada para dividir com vocês.
Perdemos um soldado, um bom soldado.
Calma!
Ninguém morreu.
O soldado agora vai batalhar em outro time o qual não vou divulgar por não ter autorização.
Mas acreditem em mim, ele esta indo para um bom lugar.

Perdemos um soldado.

Você já teve aquele amigo que não eh preciso de muitas palavras para vcs se entenderem?

Aquele parca que não precisa dizer "Estou aqui" pq vc simplesmente sabe que ele estará lá pra vc?

Aquela pessoa que trabalha na mesma empresa do que vc, mas vc sabe no fundo do coração que ele eh muito mais q um simples colega de trabalho?

Aquela pessoa que vc não conversa muito, mas sabe que faria uma falta fodida no seu dia?

Pois eh. Muito mais do que minhas palavras possam dizer, esse cara eh especial pra mim e hoje a noite me despeço dele, deste grande camarada que conquistou seu lugar em outro time e vai ser foda lá pq o cara eh super profissional. 

Há um tempo atrás, eu ainda usava o banheiro feminino e em um belo dia ele me perguntou o pq disso e disse que sou homem (trans) deveria usar o masculino.
No dia seguinte eu tinha um bate papo com o RH, já estava marcado faz um tempo e nesse bate papo acabei comentando que me fizeram essa pergunta e eu não soube responder direito e falei que dali um tempo eu gostaria de usar o banheiro de acordo do meu gênero.
E o cara que batia papo comigo perguntou pq dali um tempo se podíamos fazer isso naquele momento sem problema algum e eu havia perguntado se a empresa estaria pronta para isso, visto que causaria muito barulho, pois não houve antes na história da empresa, quer dizer, na filial do Brasil, uma pessoa trans usando o banheiro do gênero a qual se identifica.
Enfim, conquistei o uso do banheiro e isso foi graças a esse soldado, pq foi ele que me deu coragem suficiente para levar esse assunto na pauta da reunião.
Ele me ajudou a conquistar mais uma.
Ele me deu a chance de ser o primeiro trans homem a usar o banheiro masculino.
Mas o que ele fez por mim não para por ai não.
Eu tinha conseguido o uso do banheiro, ebaaa!!
Mas eu não tinha pensado no depois, tipo...Eu estaria entrando no banheiro masculino pela primeira vez para usar, as pessoas iriam me olhar torto e se tivesse algum transfóbico e me arrebentasse no banheiro? O Brasil esta cheio deles, sei que parece paranoia, mas acho que só quem vive na pele de um trans consegue compreender o medo que temos até de ir na esquina sozinho a noite, imagina frequentar um banheiro.
E ai? E ai contei para ele que eu havia conquistado o uso do banheiro masculino graças a ele.
E realmente foi graças a ele mesmo, pq eu só pensava sobre isso, mas ele veio e me deu coragem.
Então ele disse que se eu tivesse medo ou algum problema que eu poderia chama-lo e ele iria comigo e eu achei isso muito, mas muito foda mesmo, esperei isso de um monte de caras q não falaram nada e ele chega de novo me dando forças para mais um passo na minha conquista.
Lembro-me de que no primeiro dia fiquei um tempão segurando a urina, não queria ir, precisava, mas não queria, sabia que eu podia chamar ele, mas a sensação é que eu iria atrapalha-lo no trabalho dele.
Quando foi no final da tarde mais ou menos que tinha pouca gente aqui no andar, fui no banheiro, entrei na cabine, mijei, lavei a mão e sai, aliviado de que ninguém havia me visto ali, no dia seguinte algumas pessoas me pegaram lá e depois que a gente saia do banheiro eu chamava as pessoas no lync (bate papo da empresa), pedia desculpa e explicava a situação e sempre ia dividindo a minha experiência com esse meu soldado, até que um dia ele me fez pensar, porque pedir desculpas? Não estou matando nem roubando, porque pedir desculpas? Só estou usando o banheiro como qualquer outro cara da empresa, então parei com isso e hoje, usar o banheiro é a coisa mais normal que eu faço no dia a dia.
Tá, eu só uso o banheiro do andar, os outros ainda não, mas pra evitar falatório sabe?
Evitar olhares, eu sei que não é sempre que vou poder fugir, mas me sinto confortável neste banheiro e sei que algum dia a coragem vai bater e vou começar frequentar outros.

E é isso ai, ele fez e faz parte da minha história.
E não tem palavras que eu possa usar aqui e agora para transmitir a minha gratidão pro tudo o que ele fez por mim, por toda a ajuda e as vezes q ele me levantou quando fui abatido e ferido gravemente.

Vou sentir muita falta, não falta dele estar aqui pra me ajudar a conquistar o que quero pra minha vida, eu não sou tão egoísta quanto parece, mas falta da presença dele, do sorriso logo cedo mesmo sendo uma segunda-feira de manhã, de cumprimenta-lo toda vez q o vejo pelo corredor, mesmo que eu já tenha feito isso 20x no mesmo dia, pq não tem como cansar quando se trata dele.

Mas apesar dele nos dar sua ausência e falar que vai aparecer nos happy hoour que a gente inventa, mas nunca aparece kkkkkk
Eu só desejo a ele as coisas mais bonitas que ainda temos no mundo.
A sabedoria, que ele já tem.
Paciência, honestidade, paciência, porra, ele já tem tudo isso.
Mas eu quero meu amigo, do fundo do coração, que seu caminho seja iluminado, repleto de vitórias.
Que vc conqusite tudo aquilo que vc deseja para sua vida pq merece isso e muito mais.
Mas muito mais mesmo.
Obrigado por ter feito parte da minha história.
Obrigado pela sua sincera amizade.
Obrigado por tudo.

Sempre estarei aqui para você.
Sabe disso, não?!

Vai que é tua.

E você ai que leu até aqui e esta curioso para saber quem é o soldado que to choramingando que perdi desde a primeira linha lá em cima, vou revelar.
Ivan! meu amigo, Ivan.
Parceiro de todas as horas.


Vai que é sua campeão! Vai que é tua!
Estaremos todos aqui, torcendo por você.

Um forte e demorado abraço.

PD.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Parabéns Eli!!


Hoje, uma grande amiga, uma irmã completa mais um ano graças a Deus. Eu não sei dizer quando exatamente nos conhecemos, mas alguns anos atrás ela chegou para trabalhar na Empresa onde eu já trabalhava e quando vi já éramos amigos e parceiros de trabalhos, parceiros mesmo, colegas de trabalho era pouco demais para o que havíamos nos tornado, andando para todos os cantos da empresa, um ajudando o outro, compartilhando segredos, felicidades e lágrimas e ela que me ajudou a me enturmar com a galera, me ajudou a conhecer pessoas, fez o possível para que eu não me sentisse sozinho. Ela me conheceu bem antes de eu me assumir e me lembro do quanto sofri para tentar contar pra ela que eu estava me assumindo, não sabia como falar, tinha medo de perder uma amizade que vale mais do que ouro e um dia eu estava indo almoçar e escrevi uma mensagem me assumindo para outra pessoas e achei que tinha enviado para essa pessoa, tava muito sol, não dava para enxergar o celular direito e quando cheguei no restaurante vi que havia enviado para ela, meu coração saiu pela boca e deu uma volta no quarteirão, eu tinha ficado muito nervoso, não era para ser assim, como que eu fui errar de janela em um assunto tão delicado?
No fim das contas, foi melhor assim, pq eu já tinha contado mesmo rs e ela me surpreendeu, pq quando achei q iria fugir, ai q ela ficou mesmo!

E ela respeita até hoje a minha identidade de gênero, nada mudou.
1 ou 2x por ano a gente ainda se encontra, com mais outras duas amigas, para matar a saudades, pelos velhos tempos e para sempre saber uma da vida da outra.
Sempre fizemos muitas piadas, brincávamos muito, fazíamos festa de aniversário na sala da telefonia onde ninguém ia, eu vi essa mulher virar mãe e que ótima mãe nossa senhora, a filha dela não quer desgrudar um minuto e sinceramente, nunca tive dúvidas de que a Eli seria o tipo de mãe que todos nós iriamos admirar.

Muitas vezes ela me levantou quando eu cai.
E foi uma das poucas amizades que continuou forte depois que ela saiu da empresa.
E quando ela saiu foi triste, muito triste, eu havia perdido a minha companheira de trabalho, mas só a companheira, pode parecer clichê, chame de como você quiser, mas eu sentia que a amizade ainda não tinha acabado, que a história ainda não tinha acabado.
Sempre tive muito respeito pela Eli e ela por mim.
Nós dois somos a prova viva de que um homem e uma mulher podem ter amizade sem benefício sim senhores.

Eu desejo a ela que o casamento dela seja eterno.
Que a filha dela seja pelo menos 90% da mulher maravilhosa que ela é, assim como o filho que um dia ou outro já vai estar crescendo na barriga da Eli.
Eu desejo que o amor que ela carrega no coração seja infinito, pq não é pouco não.
Que a humildade, a sinceridade e a honestidade sejam coisas que não lhe faltem.
E acima de tudo, que sua fé em nosso Deus nunca se ausente de seu coração.
Tudo o que eu posso dizer é: Ah! Ainda bem fui sortudo, ainda bem q ela passou pela minha vida e ficou, ainda bem que esta esta por aqui, pq sempre terá um cantinho só seu no meu coração e eu sempre me lembrarei de você com muito carinho, muito amor e respeito. Você me ensinou muito mais do que várias pessoas juntas, você é uma das pessoas que me faz querer ser um cara melhor todos os dias.
Sinto sua falta ao meu lado zoando pelos corredores, mas tenho a certeza que foi sua melhor decisão, afinal, montar uma família baseada em um amor verdadeiro é algo tão raro hoje em dia que ainda bem que vc escolheu sair, esse plano de vida é muito melhor para você.

E Você minha amiga, saiba que sempre estarei ao seu lado.
Não importa o que aconteça, eu estarei aqui.
Para você, para seus filhos e marido.
Você sempre poderá contar comigo, porque eu te amo.
Eu te amo muito e quero o seu bem.
Que seu sorriso continue iluminando caminhos nas estradas da vida.

Um forte abraço Eli.
Seja sempre assim.
Incrível.
Admirável.
Inesquecível.

Um abraço bem forte.

PD.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Post 130 - Desabafo!!




Boa noite.

Hoje aconteceram alguns fatos que me deixaram muito chateado.
Tudo começou quando minha avó achou as minhas cervejas na geladeira e perguntou o que era aquilo. O que mais poderia ser? Suco de abacaxi em latinha da Skol? E sim, eu disse que eram minhas, pelo amor de Deus, eram só duas latinhas, DUAS, não da nem pra ficar bêbado com duas latinhas, comprei pra relaxar, porque aqui em casa ta tenso, é briga toda hora, discussão, acusações, raivas, decepções, etc.

A intenção era só relaxar e no fim acabei que nem bebendo, pq optei em tomar remédio para conseguir dormir cedo e acordar cedo amanhã e esse remédio não pode ser misturado com álcool, então, elas continuam na geladeira como sempre estiveram desde que as comprei e são apenas cervejas, não são armas para eu sair atirando por ai ou drogas pesadas, são apenas cervejas.

Então fiquei com muita raiva, pq de tantos acontecimentos eu tenho ficado calado, eu tenho respirado fundo e guardado as minhas opiniões para mim mesmo, eu tenho ficado na minha, ignorando fatos perturbadores, eu tenho ficado em silêncio tentando encontrar a minha paz que almejo ela já anos!

Então mandei uma mensagem para a minha mãe, no grupo que temos com a irmã dela e uns amigos nossos, dizendo que estou de saco cheio, estou no meu limite, pq ngm vê o puta esforço que faço para não dar mais munição para se matarem entre eles, pra gente ter um mínimo que seja de paz, para vivermos numa boa, vivendo um dia de cada vez, mas vivendo juntos, como uma família, nenhuma família é perfeita, mas eu amo cada um deles e é muito importante ao menos para mim quando todos estão juntos, numa boa, vivendo juntos, pq nós nunca saberemos o dia de amanhã, nós nunca saberemos que irá encerrar sua missão aqui na terra primeiro ou quando isso acontecerá, então temos o dever de vivermos da melhor maneira possível, juntos, numa boa, como uma família, não precisamos bajular ninguém, não precisamos ser falsos, ninguém precisa amar a todos ou fingir que suporta a pessoa, mas respeitar é o mínimo, convivência em paz e sabedoria é o mínimo, saber aproveitar o tempo é o mínimo, estar aliviado pq chegou em casa depois de um dia pesado de trabalho, estar feliz pq esta em casa com a família é o mínimo e nós temos a obrigação de seguir pelo mínimo, como humanos, como família, como pessoas, não somos robôs e não podemos nos permitir ser, a raiva e o ódio não vieram para ganhar, assim como nenhum problema veio para ficar, a vida segue e sempre depois de uma tempestade do caralho haverá um sol esperando por nós, só precisamos atravessar essa tempestade, podemos fazer isso sozinho, mas a alegria será muito maior se atravessarmos juntos e termos com quem comemorar isso.

Então minha mãe teve a cara de pau de falar que eu me escondo na saia dos outros e isso realmente me deixou muito magoado, pq isso não é verdade, pq eu sou o único que ainda me importo em tentar, nem que seja um pouco, manter a paz entre nós e vivermos numa boa, como pessoas normais.
Eu não sou melhor que ninguém, eu não sou nenhum cara foda não, eu não sou o dono da razão, mas eu tenho me esforçado.

Eu poderia muito bem pegar um empréstimo no banco e pagar um advogado qualquer para ir atrás da papelada que tenho que enfrentar para poder ter meu nome social nos meus documentos, não precisaria de favores de ninguém, eu pegaria o empréstimo e depois pagaria de volta ao banco, com juros, mas pelo menos estaria fazendo alguma coisa por mim ao invés de ficar me anulando por causa de uma família que só consegue enxergar as coisas como realmente querem.

Eu poderia pegar um empréstimo no banco e encontrar um cirurgião e paga-lo para arrancar esses peitos que não são meus para fora de mim e lidar com a recuperação sozinho, pagar, com juros ao banco, mas eu estaria fazendo alguma coisa por mim.

Mas me respondam, uma família que briga por qualquer merda esta pronta para lidar com isso?
Uma família que não sabe passar um final de semana juntos sem brigar estão prontos para lidar com algo bem maior assim? Se despedir de uma pessoa que nunca existiu? Esquecer a graduação da faculdade porque só pertence a personagem que criei? Deixar eu tirar do meu guarda roupa, algumas roupas que não fazem parte de quem eu sou de verdade e doar? Estão prontos para me ver sem a máscara? Estão prontos para me chamarem pelo nome social sem sofrer com isso?
Estão prontos para seguir em frente sem sentir a dor da saudade de uma personagem que cansou de representar no palco da vida? De trabalhar a mente para trocar o A pelo O?
Uma família que briga por qualquer coisa, discute, abaixa o nível e tem histórico de brigas físicas estão pronto para lidar com o desconhecido? Querem me conhecer de verdade? Me querem por perto? Estão prontos para uma fase totalmente diferente? Um recomeço? Aguentariam?
Estão prontos para lidar com a felicidade? A liberdade? Estão prontos para conviverem com uma pessoa feliz e realizada? Conseguem lidar com a felicidade de alguém? A alegria? Ou só conhecem a raiva, o ódio e as brigas sem necessidades?

Estão todos trancados nessa jaula, dia e noite, não saindo para nada, enlouquecendo, sendo infelizes e ainda querem arrastar todos os outros com vocês.
Eu desafio vocês a pensarem de outro jeito, desafio vocês a sonharem de novo, a ter esperança.
Desafio vocês a fazerem metas para a vida de vocês, a terem sonhos para realizarem, desafio vocês a colocarem em um papel o que precisaria mudar na sua vida para que vocês fossem felizes.
Desafio vocês a saírem da mesmice, a saírem da zona do conforto, a saírem desse dia a dia repetido e sendo arrastado ao longos dos anos.

Eu desafio vocês a fazerem algo diferente na vida, vocês escolhem, mas façam.
Eu desafio vocês a enfrentarem o medo, mesmo que isso possa lhe custar muito caro.
Eu desafio vocês abrirem a janela e apreciarem o sol, o canto dos pássaros, o cheiro de que a vida pode ser muito bonita sim. Eu desafio vocês a chagarem onde nunca chegaram antes.
A ultrapassar os seus próprios limites, levantem a bunda do sofá e façam que esse dia seja diferente, seja melhor, desafio que vocês sejam muito maior do que a própria desculpa de vocês, eu desafio vocês a pararem apenas quando tiverem acabado de realizarem tudo aquilo que você sempre quiseram, mesmo que vocês sejam julgados por suas atitudes, mesmo que outros olhem torto para vocês ou apontem o dedo e dão risadas, mesmo que outras pessoas coloquem um monte de pedra no caminho de vocês, mesmo que caia na sua pista os obstáculos mais fodas que podem existir, que enfrente a guerra inteira e SE ainda estiverem de pé, depois de tudo isso, então podemos conversar, pq eu meus amigos, eu ando em um campo minado todos os dias da minha vida e ainda assim consigo pensar nos outros para que eles não pisem na mina, em um mundo tão fodido, eu tenho deixado a minha felicidade de lado para ao menos dentro da minha casa ter um pouco de paz, mas ninguém entende, é muito mais fácil apontar pra mim e meu julgar dizendo que me escondo na saia dos outros, ngm passou pelo que eu passei e estou passando, sou o primeiro e único trans nessa família! Tudo o que eu preciso saber, eu tenho que procurar as respostas sozinho, tenho que lutar sozinho, enfrentar sozinho, aprender sozinho, pq ninguém antes de mim passou por isso e eu tento continuar em pé todos os dias com um maldito sorriso na cara para manter a paz e a harmonia dentro de casa, o único lugar que podemos ter paz, é o último lugar que se pode ter paz, é irônico no final das contas, não é?

Não estou dizendo que sou melhor ou que o meu problema é muito maior do que dos outros.
Estou dizendo que pelo que eu enfrento nessa guerra diária, ninguém pode sequer me julgar ou falar uma merda tão grande como essa, pq quem me conhece de verdade sabe o que é verdadeiro nessa história, então pensem antes de saírem falando as coisas por ai, a transexualidade é um mundo muito complexo que poucas pessoas conseguem realizar a transição 100% e viver bem, parece até que s[ó se chega lá os escolhidos, os outros apenas podem assistir, esta é a verdade que ngm entende.

De qualquer maneira, vou dormir agora e me enterrar no trabalho durante a semana, é o único jeito que eu conheço por enquanto para conseguir esquecer as coisas.
Fiquem tranquilos amiguinhos, eu estou bem, decepcionado, mas bem.

Um abraço e boa semana para todos vocês.

Que Deus nos abençoe e proteja todos os dias.

Abraços.

PD.

sábado, 13 de janeiro de 2018

Vai ser sempre assim? Post 129


Boa noite amiguinhos.
Como vocês estão? Ta virando clichê já perguntar isso né?
Ontem tive uma noite realmente incrível, foi espetacular e eu não mudaria nada.
Rodeado de amigos, cerveja gelada e tequila depois de explicar 5x para o cara do bar que eram 7 copinhos de tequila com 1 dose cada, mas ok.
Me diverti muito, foi com um grupo novo desta vez, mas me diverti e não me deu ansiedade ou ataque de pânico para ir embora logo, o velho grupo continua bem, só não estão mais na ativa tanto quanto antes, o grupo novo tbm é foda, até demais e ontem foi épico, fechamos o bar!!

Mas houve alguns momentos em que desliguei, ali estava eu sentado na cadeira quieto, não estava mais conversando ou dando risada ou batendo no Ed como fiz quase a noite toda, eu estava desligado, pensando em como ali eu era a única pessoa diferente, a única pessoa que não se encaixa na sua própria embalagem, em como eu não gosto de mim quando eu fico bêbado.
Algumas pessoas desse grupo perceberam que eu estava desligado, o Coruja, não sei como, me pegou pela cadeira e me levou mais próximo para a líder do grupo, sim, ela é a líder pq não da pra ser normal ou ficar desligado por muito tempo perto dela, não é Sra. Zampinni?

Me ligaram. Eu estava conversando de novo, rindo, bebendo, eu estava ali de novo.
Depois de um tempo desliguei de novo.
Desta vez eu estava virado sentido a ponte, sim, a famosa ponte que costumava ser minha e da Galdi antes dela ir embora e me deixar feito um idiota esperando q voltasse algum dia.


E ali estava eu pensando: Aquela ponte, palcos de muitos momentos de risadas, de segredos compartilhados, de lágrimas entre brigas, também foi palco de um momento de desespero meu, desespero, com medo, com cansaço e depressão misturada, aquela ponte foi palco tbm de quando eu estava encarando ela pensando em pular e acabar com toda a dor que eu sentia.
Graças a Deus não pulei, porque hoje estou tendo a oportunidade de conhecer pessoas incríveis e de viver mais tempo com a família que eu tanto amo.
É difícil ver os dias passando e não me ver evoluindo ou chegando onde quero chegar.
É difícil viver os dias acreditando que nada vai mudar, que as coisas que quero para a minha vida são conquistas que vão muito além de onde eu consigo ir.
Eu sei que existem pessoas com milhões de problemas muito mais graves do que os meus, por isso tento tratar cada um com toda a educação, respeito e amor possível, pq infelizmente não posso resolver os problemas de todos, mal consigo lidar com os meus.
Mas me alivia saber que as pessoas não estão percebendo os motivos que me faz as vezes desligar.
Me alivia saber que algumas pessoas acham que estou tranquilo, em paz e sereno.
Acho bonito ver que algumas pessoas ainda acreditam que eu posso alcançar os meus sonhos.
Que eu ainda posso vive-los.
Mas a gente vai seguindo né, no aprendizado da vida, acho que a gente tem que tentar viver com a maior simplicidade possível.
Mas as vezes é complicado, não lembro que dia que foi dessa semana, acho que quarta ou quinta, que cai na besteira de ouvir Brave man em uma noite que eu estava sentimental, quando o clip acabou, sai lá fora pra fumar e chorei as lágrimas que insistem em não cair, são sempre as mais pesadas.
O clip é maravilhoso, ele se despede da personagem que era a vida toda jogando as fotos no mar.
Tem como ser mais foda do que isso? Não né!
Eu quase já tenho mais fotos de quando fingia ser uma mulher pelo bem da família.
Eu já não tenho mais roupas femininas aqui, graças a Deus.
Eu não sei se vou ter paz quando eu me despedir da personagem, pq a sensação que dá é q sempre estarei me sentindo mal por não ter sido a filha que minha mãe pariu, para o resto, eu não ligo.
Eu não sei se eu vou um dia me despedir e conseguir ficar numa boa.
Eu não sei se a minha família um dia vai conseguir se despedir, pq mesmo quando a minha avó não esta por perto, eles continuam me enxergando como a personagem que eu criei, me chamando pelo nome que recebi, eu não sei se as pessoas aqui conseguiriam se adaptar com a mudança.
As vezes olho para trás e penso "Nossa, como consegui passar por isso?".
Espero que seja assim, que eu vá enfrentando as coisas e um dia eu possa me surpreender que passei por mais um obstáculo na minha vida.
E o mais bonitinho é o meu afiliado, nas mensagens que ele me manda via whatssap, ele sempre esta me tratando no gênero certo, falando pelo nome certo, para quem eu tive mais dificuldade de contar, foi a pessoa que mais me compreendeu, quem diria, cara, obrigado por isso.

O que me deixa calmo é saber que isso dói só em mim.
Que essa guerra é só minha.
Que precisar viver duas identidades diferentes pra poder manter a paz é só eu q tenho q fazer.
E acima de tudo, que consigo viver dessa maneira, escondendo da minha avó, para que não cause mais dores nessa casa do que já foi causado.

Preciso deixar um abraço em especial também para meus amigos e colegas de trabalho que me respeitam toda vez que coloco o pé na empresa e tiro a mascara, que respeitam meu gênero e minha identidade apesar do meu corpo me contradizer o tempo todo.
Não é pq eu não vou conseguir transitar que eu não sou feliz, esses pequenos momentos que o pessoal me faz passar sem máscara são simplesmente os melhores.
Sempre penso na minha antiga terapeuta dizendo que quando eu me assumisse eu perderia pessoas, na verdade, não perdi ngm, me livrei de pessoas falsas.
E é um tanto quanto interessante pq ao mesmo tempo que estou aprendendo sobre tudo isso estou ensinando também.
Espero que um dia eu possa ensinar vocês também que talvez a paz que almejamos chega para todo mundo.
Temos aquilo que merecemos, não é?
Se existisse mesmo uma vida passada, talvez eu tenha sido o cara mais filho da puta da terra e agora to aprendendo do pior jeito, não sei.

Enfim...

PD.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Post 128


Boa noite amiguinhos.
Como vocês estão essa noite? Espero de verdade que estejam todos bem.
Ontem a noite foi difícil pra mim, enquanto todos dormiam gostoso, para renovar suas forças para o dia seguinte, estava eu sentado lá fora fumando e chorando as lágrimas que não caiam, também tive um ataque de ansiedade daquelas que parece ser dor física sabe? Pois é...

Não, eu não apelei para o revotril, de alguma maneira senti que precisava sentir aquela dor.
Que precisava passar por aquele momento.
Demorei uma eternidade para dormir mesmo sabendo que eu precisava acordar cedo no dia seguinte.
E quando acordei hoje, estava me sentindo sufocado, muito sufocado mesmo.
Tomei café rapidamente, o banho mais rápido da história, peguei minhas coisas e vazei, por mais incrível que pareça quando cheguei la fora eu já estava conseguindo respirar novamente, não estava 100%, mas estava um pouco melhor.
Liguei o carro e segui para o trabalho, coloquei música alta para espantar os pensamentos, não gosto de escutar música alta pq me da sempre a sensação de que estou ouvindo menos do que antes, mas dessa vez foi preciso, de alguma maneira eu precisava espantar os pensamentos, mas não se preocupem, mesmo quando eu estou ruim, eu dirijo direito, no limite da velocidade, pq as outras pessoas não tem culpa de nada e não merecem nenhum acidente causado por mim.
Quando finalmente estacionei próximo ao trabalho e desliguei o carro, custou alguns minutos para que eu conseguisse sair do carro, pq eu sabia, que eu tinha q fingir que estava bem para evitar perguntas, pq mesmo se eu explicasse, acho que ninguém realmente me entenderia, fiquei alguns minutos no carro, não o suficiente, pq tem um guardinha do bairro que fica sempre ali perto de onde estaciono e a gente sempre conversa e eu não queria q ele me visse pra baixo daquele jeito, pq ele seria outra pessoa que eu teria que explicar e ele não entenderia.

A minha sorte é que meu trabalho é uma terapia perfeita pra mim, ainda mais agora que o time esta pequeno, estamos com o dobro do trabalho, mal tenho tempo para ir ao banheiro ou fumar ou seja, não tenho tempo para ficar pensando nas coisas, principalmente, nas coisas que não posso mudar.
Trabalhei o dia todo, os pensamentos não me atormentavam mais, eles só me visitavam quando eu estava sozinho, como nas horas que eu ia ao banheiro, quando fiquei cuidando do departamento enquanto meus colegas almoçavam, quando eu fumava sozinho e assim por diante.
Mas meus amigos, não se preocupe, quando falo dos meus pensamentos não é nada sobre me ferir ou suicídio, podem ficar totalmente tranquilos.
São pensamentos de até quando vou aguentar, até quando a vida vai ser assim tão complicada ou até quando eu lutarei essa guerra dentro de mim.
Eu fiquei bem ruim depois que um amigo meu postou no Facebook que vai ter mutirão de retificação de nomes para transexuais lá na consolação, apenas para 50 pessoas, os 50 primeiros a se inscreverem, não foi por saber que eu não estarei entre os 50 primeiros, mas por não conseguir entender se vale apena passar por cima de tudo para realizar este desejo.
Faz um tempo já que minha família não briga mais daquele jeito que parece cena de novela da globo, não sei se quero arriscar a ser o culpado se isso voltar, mas tbm não sei até onde posso aguentar levar duas vidas diferentes, porque isso me complica muito, eu tenho que ajustar meu cérebro para que ele represente bem a personagem quando estou dentro de casa e depois ajusto de novo para ser quem realmente sou quando estou no trabalho, hoje por exemplo, chamei uma amiga no gênero masculino umas 4x e quando percebia pedia desculpa e corrigia, da uma sensação de que qualquer hora o meu cérebro vai dar um bug q ngm vai conseguir arrumar.
Eu não tenho culpa disso, sabe? Eu não pedi para nascer em um corpo que não me identifico e é foda pq eu ainda não consigo me colocar em primeiro lugar na minha vida, continuo sempre pensando nos outros primeiro e depois em mim, talvez eu seja assim para sempre, talvez por isso que eu nunca serei 100% realizado, mas o gostinho de eu ser quem sou lá no trabalho, já é alguma coisa.
Um trans sempre sabe, alguns só demoram para entender as coisas e eu sabia desde quando era moleque, que vivia na rua e só entrava na hora de jantar, jogando bola, andando de skate, entre outras coisas na calçada na frente de casa.

E minha mãe superou o fato de que ela não tem uma filha e sim um filho e isso foi tão importante e especial para mim que todos os dias eu penso em como posso agradece-la, eu já devo ter dito isso antes, mas queria poder dar o mundo pra ela, pq só nós 2 sabemos tudo o que passamos e superamos para estarmos aqui hoje e graças ao bom Deus estamos bem novamente.
Mas acho injusto, queria que ela tivesse tido outra criança, para quem sabe desta vez, elas saírem do útero como um bebê normal e ela poder fazer todas as coisas que garotas fazem que ela não pôde fazer comigo.
Eu a amo muito e desejo tanto que ela seja feliz, o tamanho do sentimento é tão grande que não posso colocar em palavras, eu a amo mais do que qualquer um nesse mundo e queria q as coisas tivessem sido melhor pra ela, de forma mais justas, com oportunidades e muitos momentos de sorrisos.

Até quando terei que viver duas identidades?
Até quando vou deixar a transfobia empatar o jogo?
Até quando vou me alto proibir de viver intensamente?
São tantas perguntas que tenho, porem, preciso dormir, o sono chegou e amanhã levanto cedo.

Então simplesmente se cuidem, ok?
Talvez amanhã eu volte aqui.

Obs.: Fiquei orgulho que não fui chorar no ombro de ninguém, afinal, essa luta é só minha e as consequências também.

Enfim...Boa noite.

PD.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Carta de ontem.


"Eu quase contei. 
Eu estava em frente a sua avó e quase contei tudo pra ela. 
Me ajuda a conseguir entender pq vc sempre tem que viver nas sombras, na escuridão, sozinho. 
Vc ficou um tempão fingindo gostar de homens para tornar real a personagem mulher que vc inventou pq não podia dizer para ngm a verdade. 
Vc teve relações sexuais com homens, coisas q vc odiava com toda a sua alma, vc se sujeitou a isso por eles!!

E quando o castelo de areia foi desmanchando junto com a chuva e descobriram que vc gosta de mulher, foi o maior inferno, vc desejou morrer, mas ainda assim vc continuou de pé jogando pelas regras deles!!

E agora vc está sofrendo sozinho, pq esta no seu limite após viver 31 anos ainda na mesma maldita personagem, vc esta se ferindo, ferindo a sua alma, vc tem seus sangues em suas mãos, vc não esta mais aguentando, a vida tem te colocado de joelhos, me ajude a entender pq diabos vc não revela quem vc eh de verdade e lhe da a chance de ser feliz, livre, a chance de pela primeira vez na vida viver longe da escuridão, longe de toda essa maldição!! 

Pq vc faz isso com vc mesmo? Até quando vc vai fazer isso com vc mesmo? Quando vai ser feliz? Arrependido em uma cama de hospital a beira da morte daqui 40 anos por estar perdendo aquilo que vc nunca soube o q era de verdade? Viver..."

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Brave man - A melhor versão


Boa noite amiguinhos.
Todos estão bem? Espero que sim, sempre desejo isso.
Assistam o clip acima, eu sei que já postei ele aqui antes, mas essa versão mostra a foto de alguns homens trans antes e depois no decorrer do clip, ficou muito foda, muito mesmo!
Me pergunto se algum dia poderei também mostrar por ai o meu antes e depois.
Me pergunto se algum dia eu chegarei onde eles chegaram.
Sim, eu sei que é muita ansiedade para uma pessoa só, mas é que já vou fazer 32 anos, não tenho mais a disposição, saúde e tempo que os jovens tem.

Vamos falar sobre o clip?
Ele começa o clip em uma cafeteria tomando uma bebida e então se levanta e começa tirar a roupa e sai por ai pela cidade, talvez, para o autor tenha um outro significado, mas de primeiro momento, para mim, parece que ele quer que todos vejam quem ele realmente é, eu entendo, pq eu quero exatamente a mesma coisa, mas como no clip, ninguém entende.

E a primeira coisa que ele diz é "Vejam essas cicatrizes dos anos passados"
A primeira coisa que vem a minha mente são as cicatrizes em baixo da minha tatuagem de skate que tampa todas as cicatrizes que ficaram quando eu me mutilava, quando eu não suportava ser o que sou.
Ou as coceiras nas pernas.
Acho que quase ninguém lembra que minhas pernas viviam feridas, chegavam a sangrar.
Lembro da minha terapeuta dizendo que era psicológico, como se fosse uma tentativa de rasgar esse corpo que não é meu na esperança de sair de dentro meu verdadeiro corpo, talvez tenha sido psicológico, pq pelo q eu percebi, desde que me assumi de verdade (menos pra minha avó) as feridas diminuíram muito, tipo 99%, é de cair o cu da bunda, mas ficaram as manchas, pq quando criavam casquinhas, eu coçava ainda mais, e quando via o sangue na minha mão, eu gostava disso. Espero que algum dia no futuro, as minhas cicatrizes sejam da mastectomia (retirada das mamas).

"Elas não me machucam, apenas me lembram que eu posso chorar." - É exatamente isso que as minhas cicatrizes da mutilação são pra mim.


Ainda bem que eu tbm não tenho né?
Se não, eu estaria infeliz, vivendo uma vida de mentira, sendo uma pessoa de mentira.
Ainda bem que eu não tenho medo!
Porque hoje eu posso viver metade do meu sonho.
E ser trans no país que mais mata trans NO MUNDO não é nada fácil não.
Ainda bem que eu não tenho medo.


Eu já senti todas as dores, não da medo mais não.
Mas nessa cena do clip, para quem prestou atenção, viu que o rapaz respirou fundo e nossa senhora eu venho fazendo tanto isso ultimamente, mas tanto, que ainda bem que ajuda pq na maioria das vezes, dentro da minha mente, eu já estou de joelho.
Podem ver durante o clip, no passeio ao shopping por exemplo a tiração de sarro da galera, ou o sarro dos caras quando jogam refrigerante no rapaz, isso são coisas que acontecem na realidade também, infelizmente.

Quando ele joga as fotos no mar, acho que ele mesmo esta finalmente dando adeus ao personagem que ele representou por anos e anos por ser a única maneira de sobreviver em um mundo como esse.
Me pego pensando quando eu vou me despedir, quando eu vou parar de vestir essa personagem e quando eu parar, será que minha mente me libertará? Será que estarei finalmente em paz?
Eu vejo esse clip, vejo as fotos, vejo as pessoas que chegaram lá e fico feliz por elas, muito, mas muito feliz mesmo, eu não conheço todos das fotos, alguns deles e espero de verdade que eles estejam felizes e que se eu nunca chegar lá, que se eu nunca tiver paz, olhar para eles e ver que eles venceram, é suficiente pra mim.

Pq eu anseio todos os dias pela paz.
Antes eu não tinha, mas agora, eu sinto uma ansiedade que chega a dar dor física e então eu paro e respiro, pq é preciso continuar, dentro ou fora dessa personagem, é preciso continuar.
Um dia, quem sabe, a paz chega e essa guerra dentro de mim acaba.

PD.