sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Se sinto falta?


Se sinto saudades do tempo que não retorna? Sinto, muito.
Não pelos motivos que os adultos tanto falam que virou clichê, a obrigação eterna de pagar boletos, você paga boletos porque você gasta e tem gastos que infelizmente não podem ser cortados, mas pagar boletos é algo que faz parte na vida de todo o ser humano, não tem como fugir, aceite e siga em frente e, por favor, se esforce para manter as contas em dias.
Sinto falta de quando a mãe comprava piscina de plástico e todo nós ficávamos horas e horas enfiados na piscina, jogando água uns nos outros, fingindo que sabíamos nadar e enchendo de potes a piscina para brincarmos de uma espécie de lanchonete dentro da água, era uma imaginação que não tinha fim, era uma imaginação que não tinha maldade.

Sinto falta de quando todos se juntavam no final do ano para passar o natal juntos, montávamos a arvore, aquelas luzes piscando aleatoriamente, os presentes no pé da arvore e nossa ansiedade a flor da pele sempre esperando para rasgar os papéis e aproveitar os brinquedos. Lembro-me quando eu era pequeno e ainda tinha medo dos fogos da virada do ano, de escutar minha tia berrando com os filhos dela porque nenhum deles obedecia e ela ficava doida.
Sinto falta de tantas coisas, os brinquedos espalhados pela casa, a ansiedade gritando pra fora do corpo querendo quer a vó chegasse logo para ficar com os cachorros para que pudéssemos passear na lapa e quem sabe comprar mais brinquedos, meu irmão brincava de Barbie comigo, naquela época não tinha essa de frescura de que homens não podem brincar com essas coisas que são apenas para meninas, éramos mais livres, percebemos tarde demais.

Brigávamos por causa de brinquedos, enquanto as mães conversavam na cozinha sobre qualquer coisa da vida, corríamos a casa inteira, brigávamos, claro que sim, mas fazíamos a as pazes logo e voltávamos a brincar. Os parentes iam lá em casa, tínhamos um quintal enorme, fazíamos churrasco sempre que dava. Por um tempo frequentamos também o SESC, um clube aqui do bairro, íamos no MC Donald e tomávamos banho de chuva, levantávamos cedinho para correr para a sala e assistir TV, tinha parabéns e presentes no aniversário de todo mundo, tinha minha mãe se irritando comigo e jogando massa de coxinha que ela estava fazendo na minha testa. Tinha brincadeiras de carteado, roba monte, tapão, essas coisas que já não se ouve falar mais e tinha as sessões de filmes que eu sempre tinha com a minha mãe, tinha os cinemas com o meu pai, as viagens com a minha avó. Tinha o mertiolate esperando para arder nas nossas almas em todos os machucados que fazíamos. Tinha a briga para quem ia jogar seu jogo favorito no vídeo game, tinha o jogo da vida, banco imobiliário e passe e repasse, tinha bolinha de gude, pipa e figurinha para bater. Tinha os dias de frio que ninguém queria sair na rua e ficávamos todos juntos em baixo das cobertas.

Eu tinha criatividade, gostava de ficar horas e horas escrevendo em um caderninhos, histórias que não tinham começo e nem fim, quando não era isso, estava compondo músicas, que na minha cabeça um dia fariam um sucesso inesquecível, era pausar varias vezes, voltar e dar play de novo no discman para entender aquela parte da música que passava rápido demais, era se esconder no porão que tínhamos em casa para assustar os outros, era passar as férias juntos, as festas de fim de ano e as férias do meio do ano, era sempre arrumar um motivo para estarmos todos juntos e depois de tudo, era o coração apertado e os olhos cheios de lágrimas, quando minha tia ia embora para casa dela levando meus primos pequenos juntos, a casa ficava tão silenciosa que dava para escutar nossas respirações, salvos, pelos latidos dos cachorros, mas era aquela ansiedade sempre pensando quando eles viriam novamente.

A fase da Bike, dos patins e do skate. A fase da cortina pegando fogo porque deu curto no pisca-pisca por algum motivo que eu não lembro mais, era a flor que a gente arrancava do jardim de alguém e dizer para a mãe que era para ela. 
Era aprontar alguma coisa e falar que foi o irmão só para não apanhar. Era tudo tão simples, tão tranquilo, tão suave, não tinha ainda toda essa maldade que o mundo tem, não tinha ainda toda essa violência e ódio, não tinha, não como tem hoje onde a gente tem medo de ir até na esquina depois das 22h.
Era aquelas piadas bobas do bisavô que escola tem, o que não tem é aula ou a bisavó falando que ficávamos o dia todo no “trec trec”. Éramos todos pintando a casa ou fazendo alguma mudança em algum cômodo da casa que minha mãe sempre inventava porque gostava das coisas diferentes. 
Éramos unidos, muito unidos, como se todos nós fossemos irmãos de verdade, sabíamos ser uma família, sabíamos estar juntos, sabíamos ignorar certas coisas para não deixar que aquilo nos atrapalhasse.

Se sinto falta? Todos os dias da minha vida, só não sou de ficar falando, porque sinceramente, é um tempo que não existe absolutamente nada no mundo que eu possa fazer para traze-lo de volta, não existe nada no mundo, desde que a primeira vida surgiu, algo que possa ser feito para voltar no tempo e tudo o que nos sobrou foram as lembranças, as palavras que se você fechar os olhos e se concentrar você ainda escuta, os latidos, as crianças correndo, gritando e chorando, a tia louca atrás delas falando que eles não iam sair de cansa nunca mais porque não se comportavam, não tem nada que eu possa fazer, só podemos deixar a nossa alma de vez em quando visitar um momento que não existe mais a não ser dentro de nós.



Sinto falta todos os dias, das brincadeiras, risadas, diversão e até mesmo dos choros, porque estávamos encrencados, mas estávamos juntos, estávamos bem, estávamos unidos. 
As crianças voltando da escola para podermos brincar todos juntos, dentro de casa, fora de casa, em todos os lugares, momentos que nunca mais, por mais que você queira, por mais que você implore, feche os olhos e deseje com toda a sua alma, nunca mais irão voltar. Nunca mais serei crianças, nunca mais meus primos serão crianças, não tem mais brinquedos jogados pela casa, somente os ossinhos da Kiara, nossa última cachorra. 

Falando nisso, já tive um pastor alemão, um Cocker e um... Um lindo que não lembro o nome agora da raça, tive um pato, um pintinho e vários e vários gatinhos e gatinhas. Se sinto falta? Todos os dias...

É extremamente normal ficarmos para baixo quando lembramos de tudo o que se foi e não volta mais, é normal chorarmos sempre que lembrarmos, é super normal, então fiquem a vontade. Mas não podemos ficar presos a isso, precisamos fazer hoje um presente incrível, para que no futuro possamos olhar para trás e ver que continuamos vivendo, que fomos seguindo em frente, cada época com o seu tipo de felicidade, cada coisa no seu precioso tempo, cada moda, cada brinquedo, roupa, corte de cabelo, todas as coisas em suas devidas horas, porque a vida é assim mesmo, diferente das minhas histórias, ela tem um começo, meio e fim e depende de nós a intensidade que iremos viver os momentos, aproveitarmos com sabedoria, amar o próximo e aproveitar o máximo possível de todos aqueles que estão em nossa volta, porque não sabemos, infelizmente, quando a missão deles na terra vai acabar, assim como não sabemos a nossa e eles também não sabem a nossa.

Se você compra um campo, cuida bem dele, joga sementes, cuida da terra, dá agua e luz, o campo ficará lindo, ficará parecendo um pequeno paraíso e as vezes, dependendo das sementes lançadas na úmida terra, depois de um tempo elas possam retribuir todo o carinho com frutas ou um espetáculo inesquecível de cores e cheiros, mas se você não cuidar, se você não cumprir com sua promessa, se você não cuidar de verdade, o campo não passará de um local feio, sujo, fedido e abandonado, ele vai deixar de existir e só vai estar ali, como um copo esquecido na beira da janela em uma tarde de por do sol, assim são os momentos, precisamos sempre cultiva-los, sempre cuidando e dando o nosso melhor, assim como a semente não se sustenta e cresce sem a terra e a agua, não conseguiremos seguir em frente sem saúde e amor, pode parecer clichê, chamem como quiserem, mas tudo na vida tem que ser cultivado com carinho, independente de quanto tempo vai durar esses momentos.
Eu ainda continuo chamando minha mãe para comer algo fora ou pegar um cinema, eu ainda continuo tentando de alguma maneira  fazermos desta fase a melhor de todas, embora, eu saiba lá no fundo que nada substitui a infância que tive, mas continuo tentando, chamando para uma caminhada, um carteado ou uma simples volta, para uma sessão de filmes com pipoca e guaraná, as respostas são sempre negativas, mas eu nunca fui homem de desistir fácil, quem sabe, um dia. Mas as vezes podemos nos surpreender, por exemplo ontem, fui no cinema com meu afilhado e fomos assistir um filme lançado no cinema, compramos coca em copo grande e pipoca e de novo estávamos voltando para aquele tempo.

O que estou tentando dizer é que ainda não acabou, embora a vida seja uma só para todos, ainda não acabou e precisamos cada vez mais ser fortes, reunir forças e ir seguindo em frente, sempre tem um jeito de sorrir novamente, sempre tem um jeito de realizar os sonhos e desejos, sempre tem um jeito, um motivo para nos unirmos de novo e eu espero de verdade, do fundo do coração, que os motivos bestas que estão fazendo as pessoas s estão brigando, um dia elas percebam que nada daquilo vale um último, nunca saberemos, momento com aquela pessoa. 

Então me escutem, parem, arrumem o presente de vocês, arrumem o agora de vocês, para que daqui alguns anos possamos estar com a mão na cintura, olhando o por do sol e falando para nós mesmos: Eu vivi, eu vivi de tudo o quanto era jeito e fui feliz, muito feliz e é por isso que vou continuar em pé na batalha, o meu futuro irá me agradecer, eu tenho certeza.
Se sinto falta? Todos os dias.

PD.

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