segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Barbas, palavras no masculino...#Aforçadoquerer


Boa noite amiguinhos.
Voltei, eu tinha que voltar, como ficar calado depois do capitulo de hoje?
Para quem assistiu a novela hoje, reconhece a imagem acima, da cena em que a Ivana esta fazendo a barba ou brincando de fazer, como preferirem achar.
Eu tenho apenas duas coisas para dizer sobre isso.

1º Eu já fiz isso. Já brinquei de fazer a barba, centenas de vezes, a diferença é que faço no banheiro, de porta fechada, antes de tomar banho, então, não corro o risco de ter um encontro desagradável com alguém da família como a Ivana teve. E eu faço com sabonete, pq meu irmão e meu pai não tem esse trem ai de espuma ou se tem, não deixam no banheiro, deve ficar guardado no armário deles e como eu odeio que mechem nas minhas coisas, não mecho na deles e nem me atrevo a pedir emprestado, mas notei que com esse trem, o momento parece mais real, talvez satisfaça mais, um dia talvez eu compro.

2º Pq justamente no banheiro da Joyce? Ela disse para a Elis que achou que a Joyce não tinha chegado ainda, justo, porém, me lembrou de uma conversa com a minha ex-terapeuta há um tempo atrás sobre "avisos indiretos" digamos assim.
Por exemplo, no meu caso, eram cartas.
Eu tinha várias cartas de minha ex-namorada, mas várias mesmo e mesmo depois do fim, eu as tinha guardado comigo e um dia minha mãe pegou e ai minha vida virou de ponta cabeça.
Eu disse pra terapeuta que eu havia guardado como lembrança de um momento bom que acabou e não volta mais. Ela disse que momentos bons a gente guarda dentro da gente, que eu havia guardado aquelas cartas, pq eu queria muito que minha mãe pegasse e descobrisse tudo logo, que eu estava dando as respostas de uma forma indireta e sem perceber, mas era isso o tempo todo.
No começo eu achava que ela estava ficando louca, pq eu daria as respostas pra minha mãe de bandeja? Pq eu queria ser livre, queria que me libertassem de uma vez por toda e só hoje, alguns anos depois que consegui entender.
Acredito que no caso da Ivana, para brincar de fazer a barba justamente no banheiro da Joyce, era ela querendo passar as respostas, dar os sinais, sabe? Pelo menos é minha opinião particular.

Talvez ninguém ou poucas pessoas conseguem entender, mas estar na frente do espelho, estar fazendo a barba é um pequeno momento que nos permite sentir o sabor, a felicidade e a liberdade de ser quem somos, principalmente para trans que não chegaram lá ainda, assim como eu.

Eu disse que eram só duas coisas que eu queria falar, mas tenho mais.
Sabem o momento em que o Eugênio e a Ivana estão sentados na cama tentando conversar e ele pede repetidas vezes para ela falar com ele, ela tenta, mas não consegue, salva pelo pedido do Ruy?
Que ela começa a falar algumas palavras no masculino, mas ele corrige ela?
Lembro-me de no inicio da minha história eu tbm fiz isso, não com a família, mas comecei com amigos, tive uma grande dificuldade com isso, pq qdo essa etapa começa é um passo em frente a aceitação e a vida inteira tive dificuldade em aceitação.
Hoje já falo abertamente, porem, recuo em algumas situações, como por exemplo na última festa de aniversário que fui, a festa aconteceu em uma casa para idosos, eu não achei que seria certo falar no masculino ali, pq apesar da festa, era local de trabalho da minha prima e eu não queria causar mais barulhos do que os gritos das crianças correndo no quintal do fundo.
Mas, nos momentos que eu acho que é melhor não, minha mente continua agindo, mesmo em silêncio. Por exemplo, hoje minha mãe e eu estávamos no dentista, na sala de espera, enquanto meu irmão estava dentro da sala tentando dar um jeito na "vida bucal" kkkkkk.
E a recepcionista perguntou algo do tipo o que eu tinha ido fazer lá e antes mesmo que eu pudesse responder alguma coisa, minha mãe disse "Ela já terminou o tratamento."
Não estou dizendo que com a minha mãe ali eu teria respondido no masculino ou se eu esperava que ela respondesse no masculino, pq eu não espero que ela faça nada parecido, na verdade, não espero nada dela, além do respeito que ela vem me dando, pra mim, o respeito já ta de bom tamanho, pq eu sei que não é nada fácil pra ela também.
O que estou tentando contar é que a mente trabalha mesmo assim.
Quando minha mãe disse "Ela já terminou..." na minha mente já começou a consertar a frase automaticamente "Ele já terminou o tratamento..."
E sempre que minha mente "conserta" as frases apenas dentro dela mesma, de certa forma, da um certo alivio, pq eu não espero isso vindo de qualquer pessoa da minha família.
E não, eu não estou reclamando, relaxem, só estou contando as coisas do meu jeito.

E teve a conversa da Elis e Ivana, sobre explodir, libertar-se, algo assim, não lembro.
Só sei dizer que é isso que eu sinto.
Quero muito que minha avó saiba logo pra eu não ter que ficar inventando mentirinhas.
Ter que ficar mantendo meus amigos longe da minha casa pq eles já se acostumaram me chamando de Pedro e não correr o risco da minha avó ouvir.
Não sei explicar direito, mas quero ser livre, LIVREEEEEE.
Quero ser livre, sem tantos pontos e virgulas na minha vida.
Eu antes me sentia acorrentado pelo corpo todo, depois que berrei pro mundo, as correntes caíram, mas meu pé continua preso, um pé só e ele só vai ser libertado quando ela souber.
Não sei explicar o pq ela tem que saber, mas ela precisa saber.
E tem dias que eu quase conto tudo, quase tiro esses elefantes das minhas costas, quase libero minhas asas para voar, pq sabe, chega né, carregar esse segredo nas costas, viver com esses elefantes no ombros, por 30 anos, já deu né, minha pena foi maior do que se eu tivesse matado alguém.
Quero ser livre, quero ser feliz, quero viver.

Enfim...
Vou dormir. Amanhã, ou melhor, daqui algumas horas tenho que ir trabalhar, sim eu voltei.
E preciso regular meu sono e minha fome tudo de novo.

Então outro dia a gente continua essa conversa, ok?
Abraços.

PD.




















Nenhum comentário:

Postar um comentário