sábado, 1 de fevereiro de 2020

O POST DE 2020 QUE NÃO DEVERIA TER EXISTIDO!


Boa tarde amiguinhos!
Tudo bem com todos? Sabem que espero que sim!
Enfim, eis que o primeiro post que não deveria ter existido, de 2020.
Não deveria existir, porque não é um post feliz, carregado de coisas boas, mas como diz o velho ditado, com os erros, aprendizagem, certo? Errado!
Eu não sei direito que aprendizado que tive nesta semana do cão.

Tudo começou com o fato de que este ano, eu não falei/fiz nada no dia da visibilidade trans.
Eu tenho colocado a vida tão no piloto automático, que acabei esquecendo essa data importante.
Mas em algum lugar foi solto um texto sobre isso, achei legal, porque não passou tão despercebido assim, porém, virou uma situação mais polêmica do que eu poderia imaginar.
A decepção foi muito grande, que ainda estou pensando sobre isso.

Como vocês sabem, eu não divulgo nome, não identifico as pessoas, simplesmente não gosto de fazer isso aqui no blog, não quero dar mais lenha para a fogueira, entende?
Essa pessoa X estava debatendo com algumas outras pessoas XYZ, o que começou com a família tradicional, passou por homossexualidade, transexualidade, mulher e feminicídio.
Eu não vou contar a história inteira, porque tanta merda foi dita ali, que me recuso a repetir tudo, mas antes de resumir pra vocês, quero lembra-los, que essa pessoa, eu exclui das redes sociais o ano passado, quando a mesma postou dizendo que a geração de hoje não sabe nem ESCOLHER se quer ser homem ou mulher, entre outras coisas, que se arrastaram pelo ano passado.

Amigos, uma coisa que me ensinaram e é certo, vou repetir aqui:
Ninguém é obrigado a aceitar nada, mas respeitar sim!
O respeito, meus amigos, vem do berço, vem de dentro de você, é essencial, é obrigatório, é necessário, respeito é tudo nessa vida.

Essa pessoa acha que ser homossexual é uma escolha!!! 
Ser transexual é uma escolha!!!
Galera, as pessoas morrem apenas por gostar de alguém do mesmo sexo ou ambos sexos.
As pessoas morrem apenas por adaptarem o sexo do seu corpo com o sexo da sua alma.
As pessoas morrem por não estarem dentro do padrão da sociedade.
As pessoas morrem por serem diferente aos demais.
A mulher morre por ser mais masculina do que feminina.
O homem morre por ser mais feminino do que masculino.
O homem morre por transvestir para algum show, evento ou causa.
Qualquer coisa que foge do padrão da sociedade, é motivo de chacota.
Verdade seja dita!

Porque alguém escolheria ser homossexual ou trans, em um mundo que temos que lutar diariamente apenas para sermos nós mesmo em paz?
Temos que lutar 3x mais pelo nossos direitos.
Uma vida inteira de preconceitos e transfobia.
Uma vida inteira resumida em lágrimas e sangue.
Devo lembrar que a média de vida da pessoa trans é de 34 anos?
Devo lembrar que 90% das pessoas trans sofrem de depressão?
É loucura demais achar que é uma escolha.
Eu já odeio completamente quem fala "opção sexual", por mais que a palavra "opção" neste contexto seja outro, para qualquer mula que não aprende sobre nada que não faz parte do padrão da sociedade, opção é opcional, é poder escolher, é ter várias opções e você ser livre para escolher.
As vezes me pego pensando, se essas pessoas preconceituosas pensam que em um belo domingo de sol, acordei e resolvi ser transexual porque minha vida estava parada demais então eu precisava de um pouco de desafio.
Ou alguma pessoa homossexual resolveu ser homo em uma bela noite de luar.
Gente, não é opcional.
Uma vida que é limitada pela ignorância humana, não é opcional.
Uma vida que você morre por isso, não é opcional.
Uma vida que você tem que lutar muito além do seu limite, não é opcional.

Opcional é a cor que você quer para o seu cabelo.
Opcional é a roupa que você escolheu para vestir hoje.
Opcional é p curso que você quer estudar na faculdade.
Opcional é o que você vai comer no jantar.
Opcional é o filme que você assistirá quando tiver com vontade.
Opcional é a tatuagem que você vai pagar para ter.
Opcional é o jogo que você escolhe para se divertir.

No final da "conversa", quando eu já estava me sentindo sangrando por dentro, como se ele tivesse conseguido me apunhalar na alma, questionei que embora me "conhecia" faz alguns anos, sabe o que passei, sabe o que as minhas tatuagens escondem, sabe o quanto sofri, sabe que ainda minha família não respeita minha identidade, ainda assim consegue olhar para mim e falar que é um "estilo de vida opcional"?
Logo eu que detesto o sexo masculino por se acharem tão superior a mulher?
Por se acharem os donos do mundo? Da porra toda?
Logo eu que já postei diversas vezes aqui que morro de medo de me tornar um homem como os homens da minha família são?
Logo eu que tomo antidepressivo faz cinco anos?
Foi como se tivesse conseguido tirar todas as minhas armaduras, como se tivesse me deixado sem forças.


Quando achei que ele já tinha falado toda a bosta possível, quando já tinha acabado, ele falou sobre como supostamente, a mulher é um sexo frágil e sobre como não concorda com o feminicídio.
Ai ele já estava atingindo outras pessoas e isso me deixou muito mais bravo do que eu já estava.
Eu não sou o tipo de cara que luta apenas pelos transexuais, ou apenas pelo LGBT, eu luto a favor da mulher, dos negros, dos gordos, eu luto contra qualquer tipo de preconceito.
Precisei sair de cena.
Simplesmente, precisei sair dali.
Anunciei que iria sair para fumar, porque se eu ficasse, não teria dado certo.
Se eu ficasse, eu teria perdido a linha, teria ultrapassado todos os meus limites, porque eu me conheço e sei que quando eu começo, eu não paro tão cedo.
Então precisei ir.
Até porque, diferente dele, eu quero ser uma pessoa melhor, quero sempre aprender, cada vez mais, para ser um cara melhor, não melhor que os outros, mas melhor para os outros.
Quero aprender, quero evoluir e também quero ensinar.
Peguei meu cigarro e sai de cena.
Talvez, os outros envolvidos, devem ter pensado em como eu deveria ter ficado, debatido, lutado.
Mas eu tinha muito mais a perder do que a ganhar.
Já tinham baixado o nível demais, chegava a ser deprimente, não dava para ser arrastado para aquela merda toda.
Quando voltei nenhuma palavra estava sendo dita.
O silêncio havia tomado conta.
Sabe quando você vê uma imagem chocante que o silêncio toma conta?
Ou quando uma cena do filme ou da novela é tão chocante que ela passa totalmente muda até que apos poucos vai voltando o som?
Ou quando a música é barulhenta e do nada ela para antes de voltar novamente?
Pois é.
Acho que as vezes, temos que ser maduros o suficiente para entender que certas situações é necessário ceder, que certas brigas, é melhor jogar a arma no chão e se dar por vencido.
Talvez eu seja criticado por ter saído de cena e deixado ele "vencer", mas a verdade, é que um dia, falarei mais abertamente sobre isso e tenho certeza que vão entender poque cedi.
Cedi e perdi.
Vida que segue.
As vezes é preciso perder uma batalha, pra não perder a dignidade.

Como se não bastasse, na sexta-feira fui fazer um exame que o cardiologista pediu.
Ali no Delboni da lapa.
Meus documentos já estão todos atualizados com meu nome, direito de todo trans.
Nem fizeram questão de atualizar no sistema deles.
Nem fizeram questão de emitirem a guia do exame com meu nome atual.
Nem fizeram questão de me tratarem no masculino.
Eu podia processa-los em ganhar uma grana em cima? Podia.
Eu podia exigir que arrumassem tudo se não eu não sairia de lá? Podia.
Eu podia ter coletado provar e ter feito disso um escândalo? Podia.
Fiz alguma coisa a respeito além de postar no FB e falar sobre isso aqui? Não.
O que aconteceu no inicio da semana, que relatei ai em cima, me deixou tão sem forças, sem defesa, sem esperanças, que simplesmente deixei pra lá.
Apenas peguei os papéis, fiz o exame e fui embora.
Eu sei que tem muita gente que conta com a minha bravura, que contam com a minha força, a minha luta, que contam comigo na linha da frente para conquistar "o mundo".
Mas me senti pequeno, como se qualquer coisa q eu fizesse não teria diferença.
Além de que eu queria ir embora logo porque eu ainda precisava trabalhar.
Quem me conhece sabe que não gosto de faltar, de pegar atestados, de estar ausente.
Quem me conhece sabe que eu levo o trabalho a sério, eu visto a camisa, sou parceiro até o final.

E como se essas duas situações não bastasse, sim, aconteceu mais uma coisa.
No grupo do meu bairro, no FB, alguém postou sobre um homem trans que engravidou e eu curti a postagem e achei legal, porque tem tantos homens com masculinidade frágil, inclusive trans, que chegam a pensar que engravidar é coisa de mulher, em um mundo moderno, não é.
Apenas por curtir e parabenizar, eu fui metralhado o dia inteirinho.
Jogaram as palavras mais afiadas sobre mim, falaram coisas horríveis.
Foi como se tivessem me dado uma surra pra me deixar mijadinho no chão.
Me socaram, me chutaram, rasgaram minha roupa e minha pele, com palavras, mas foi uma surra.
Porque as palavras ferem muito mais do que um soco, elas rasgam a alma e deixam cicatrizes para sempre.
No fim das contas, que bom que não sou famoso no meu bairro, fico imaginando como seria se eles me reconhecessem na rua.
E sabe o que é pior? A maioria das pessoas eram religiosas, usaram a religião para justificar seus ódios, suas faltas de respeito ao próximo, usaram Deus para me "matarem".
Eu ainda denunciei a postagem como assédio para o FB e adivinhem só, negaram o meu pedido porque aquela postagem não ia contra as regras deles.
A minha sorte é que ao denunciar para o administrador do grupo, ele viu que aquela postagem estava indo longe demais e tirou do ar.
Ele compreendeu o que uma equipe inteira do FB não compreendeu.
Chega a ser inacreditável, as coisas da vida.

Foi uma semana intensa.
Tão intensa que se eu não tivesse de carro, teria saído para beber com meu amigo do trabalho.
Eu merecia.
Foi tão intensa, que quando o dia acabou, eu não acreditei.
Foi tão intensa que desejei que esse final de semana passe devagar quase parando, preciso recarregar minhas forças e arrumar o que sobrou da minhas armaduras, para encarar o mundo de novo.
Um mundo movido pelo ódio por tudo o que lhe contradiz.
Um mundo de pessoas que acham que podem falar o que bem quiserem para outras pessoas, sem se importarem se vai ou não ferir.
Um mundo que a clínica Delboni não faz questão de que seus clientes sintam-se bem.
Um mundo onde você é surrado por parabenizar um homem trans por estar grávido.
Que mundo é esse que parece não aprender nunca?
Que mundo é esse que julgam, matam e destroem?
Que mundo é esse que ninguém mais tem amor e respeito?
Até uma criança sabe respeitar mais do que os adultos.

Nem preciso falar para vocês o quanto estou decepcionado, não é mesmo?
Mas também estou mais maduro, antes eu fazia questão de que as pessoas ficassem em minha vida.
Hoje, já sou mais seletivo.
Se não sabe respeitar, se não quer aprender sobre isso, adeus.
Sério, sem olhar para trás.
Já lutamos contra muitas coisas, não preciso ter que me preocupar com "fogo amigo" também.

Finalizo respondendo algumas perguntas que caíram no meu colo.
Se pretendo fazer a cirurgia da retirada total dos seios?
Sim, quando eu tiver dinheiro suficiente e não tiver mais tanto medo de morrer.
Se pretendo parar de fumar?
Sim, talvez um dia, talvez não. Me ajuda com a ansiedade e foda-se se isso me mata, a gente morre de qualquer jeito. Foda-se o cheiro que ele me deixa, não chegue perto.
Se pretendo fazer a terapia de hormônios, a famosa T.
Por enquanto não, além de ter pressão alta, o que faz com que muitos médicos não queiram arriscar, aplicações de hormônios e fumar, é uma combinação perigosa.
Talvez, eu nunca chegue lá.
Talvez, eu nunca alcance o topo da transição, mas estou feliz de ter chegado onde estou hoje.

Amigos,
Não é porque faltaram com respeito com você que você devolve na mesma moeda, ok?
Você não tem que se rebaixar ao nível daqueles que nada compreendem.
Lembre-se que o pior burro é aquele que não quer aprender.
O pior ignorante é aquele que não quer evoluir.
O piro cego é aquele que não quer ver.

Siga sua vida tendo respeito ao próximo.
Siga sua vida ensinando quem quer aprender.
Siga sua vida distribuindo amor e carinho.
Siga sua vida sendo alguém bom.
Não deixe que eles vençam.
Não deixe que eles destruam tudo o que tem de bom em você.
Tudo o que ainda tem de bom no mundo.
Não vamos deixar eles vencerem.
Somos minoria hoje, amanhã, eles que serão.
Confie.
E o mais importante, nunca se esqueça, que Deus é amor.
Ele nos pediu, acima de tudo, que amemos uns aos outros.
Tenha esperança, não perca a fé.
Talvez algum dia, no futuro, tudo isso sejam apenas histórias tristes que nunca mais foram repetidas.
Quem sabe um dia, não é mesmo?
Vamos seguir tentando!

Um grande abraço a todos.

Pedro.

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