segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Sobre lugares que me deixam saudades

 


Se tem um lugar que estou morrendo de saudades, é esse.
Meu local de trabalho, minha segunda casa.
Afastado pela pandemia desde março, saudade que me sufoca e me mata.
É nesse lugar que eu posso fazer o que eu amo.
É nesse lugar que eu posso ser eu mesmo, sem regras, sem mimimi.
O único lugar no mundo em que sinto quem eu sou de verdade.
Onde as pessoas me respeitam como homem trans, me tratam no masculino, uso banheiro masculino, me chamam pelo nome que escolhi ao "nascer de novo", tenho respeito de todos.

É nesse lugar que eu faço o que amo.
Que sou feliz.
Que sou completo.
Que vivo sem limites.
Que sou quem sou.
Que tenho respeito das pessoas pela minha identidade.

É nesse lugar que eu faço o que amo.
Que sou quem eu amo.
As vezes a saudade aperta que chega a dar falta de ar.
Porque é lá que eu faço o que amo e sou quem eu sou.
Logo vai completar 7 meses desde que não estive mais lá, com colegas que gosto muito, com amigos que amo, com pessoas incríveis e aprendizados infinitos.
Porque lá que eu faço o que amo e sou o que sou.
Sentindo muitas saudades, eu era tão feliz e não sabia.

E o mais louco é contar sobre meu pensamento de que se o mundo acabar onde quero estar.
"Se eu não estiver em casa com a minha família que eu amo mais do que tudo na minha vida, que eu esteja trabalhando, fazendo o que gosto, rodeado de pessoas que eu amo."

Eu vivo dois mundos completamente diferentes.
Um deles vocês já sabem, é no meu trabalho, onde sou feliz, faço o que amo e sou o que sou.
O outro é aqui em casa, onde todo mundo me trata como mulher, fala comigo no feminino e mesmo sabendo que eu sou homem trans, parecem que não fazem esforços para se adaptar ao meu novo eu.
Apesar disso, também sou muito feliz aqui em casa, amo meu lar e minha família.
Mas eu não vejo a hora de voltar a trabalhar, poder ser quem eu sou sem regras.
Lembrar que eu sou.
É que tem dias, que vivendo nessa vida de mentirinha, parece que me esqueço.
Que deixo de existir.
Ou que nunca teria existido, não sei.
Tem dias que é bem difícil.
Outros já nem tanto.

Não vejo a hora de voltar a trabalhar e ser feliz.
Passar as noites e os finais de semana com a família.
Não vejo a hora da vida voltar ao normal.
Sim, eu falo normal, porque não boto fé nesse novo normal, não aqui no Brasil.

Não vejo a hora de tudo voltar ao normal.
O trabalho, a vida, o barzinho no fim do dia com os colegas.
Sair sem medo de ser infectado e morrer.
Eu não vejo a hora, sabe do que?
De existir de novo.
Sim, estou ansioso, mas aguentando firme.

Sabe da onde mais sinto saudades?
Da praça!

É bem ai que eu ficava com grandes colegas na hora do almoço.
A gente conversava sobre tudo, falávamos sobre todo mundo.
Fumava, brincava, reclamava do tempo.
E as vezes soltava aquele "Ai meu Deus já deu uma hora temos que entrar, corre."
Sinto saudades até das meninas resmungando dos bichinhos que caiam nelas.
Das vezes que a gente sonhava em fazer uma horta ai.
Era tão gostoso, a gente almoçava rapidinho e corria pra praça.
Nunca foi um grupo grande, mas sempre foi um grupo unido e humilde.
Ixii nessa praça já aconteceram tantas trocas de segredos.
Namoros que começaram e terminaram.
Tantos vai e vem.
Ah! Que saudades desses lugares.
Espero, que por algum milagre, ainda possamos voltar este ano.

Espero que esse ano eu ainda possa existir novamente.
E aproveitar cada segundo disso.
Reclamar menos, agradecer mais.

Fazer o que eu amo e ser quem eu sou.

Pedro.

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