terça-feira, 15 de novembro de 2016

Passarinho Transexual


As vezes me sinto um passarinho sozinho.
As vezes me sinto um passarinho preso na gaiola.
E eu não sei o que é pior.

Day faleceu. Não o conheci, mas sei que ele era um homem transexual, estava a passear com uma garota quando os caras apareceram e mataram ele com 9 tiros. Já perdi a conta de quantos transexuais morreram esse ano, lamento saber de que a "caça" continua em alta atrás de nós. Para quem não me conhece, sim, eu sou um homem transexual também.

Em pleno ano de 2016 ainda as nossas opções são:
Ou você permanece dentro da gaiola que te colocaram e se contenta com a vida que tem mesmo se sentindo sozinho e infeliz ou você sai da gaiola e como os pássaros, você será caçado, você será morto, não tem jeito. Apenas não entendo porque as coisas tem que ser assim, porque nós só queremos viver como realmente somos.
Bom, pelo menos é isso o que eu quero, é isso que eu acredito que meus amigos querem, alias, não é isso que todo o ser humano quer? Só porque fugimos do padrão da sociedade somos destinados a morte? Já não basta o preconceito? Não basta a depressão? Não basta nem a luta diária que temos conosco mesmo?
Não basta a vida ser difícil três vezes mais para nós? Até para arrumar emprego ou fazer um simples exame médico tem que ser humilhante para nós!

PAREM DE NOS MATAR!!

É engraçado, eu sempre soube que era homem transexual, mesmo antes de saber que isso existia, mesmo antes de saber como funcionava, mesmo antes de descobrir a palavra transexual.
Desde criança eu sabia.
Desde criança sempre me senti sozinho, mesmo no meio de milhares de pessoa.
Desde criança tive medo, medo de viver, de expor.
De morrer.

Mas calma, leitor, um dia, você simplesmente se acostuma e ser sozinho já não é tão ruim quanto soa.
Fazer dos sonhos um "SE tivesse acontecido..." não é tão triste quanto parece. Apenas seguindo os dias...

E aproveitando enquanto o assassino não puxa o papel com seu nome. "É esse que vamos matar hoje".
Morrer sem respeito a identidade de gênero.

As chances são de 99,9% de que eu não alcançarei todos os sonhos que sonhei pra mim, que eu não realizarei tudo o que planejei, não alcançarei aqueles objetivos tão esperados.
Que eu não iniciarei e muito menos concluirei a transição, mas ainda assim eu tento encontrar de alguma maneira, o lado bom da vida.
Ainda assim, eu fico muito, mas muito feliz mesmo, pelas pessoas que conseguiram chegar lá e ainda estão vivas.
O jeito é aproveitar as cartas que você tem na mão.

E nunca esquecer que a vida é mais breve do que imaginamos.

Deus nos proteja.

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