quinta-feira, 28 de junho de 2018

Não ganhamos desta vez





Boa noite amiguinhos.
Como vocês estão? Espero que cada um que esteja lendo isso esteja bem de verdade.
Hoje foi um dia difícil, finalmente consegui juntar a coragem e o tempo para ir no cartório atrás da retificação dos documentos, ou seja, colocar meu nome social em todos os documentos.

Levante ansioso demais, nervoso, fumei dois cigarros de uma vez, minhas mãos estavam suando e o coração batendo forte, os pensamentos estavam começando a chegar um a um, lembrei de uma conversa gostosa que tive com a minha mãe, sobre por um tempinho, tomar algumas gotas de calmante para enfrentar as situações que não consigo sozinho, tomei 4 gotas, tomei banho, vi um pouco de TV, tomei café e fui pro carro.

Eu estava muito mais calmo, era como se eu tivesse indo fazer alguma coisa do dia a dia, simples.
Deixei o carro 4 quadras pra baixo, o único estacionamento que lembrei que tinha por ali que aceitava cartão, quando desci do carro, ascendi um cigarro e fui caminhando até o cartório.

Lembrei quando eu morava na tito e tínhamos uma dupla de gatinhas pretinhas, eu era novinho, sei lá, acho que uns 10 anos e como eu adorava brincar com elas, de futebolzinho, eu tirava a camisa (meus peitos não tinham crescido ainda) e meu Deus do céu, como eu era feliz, eu não tinha que lidar com nada disso ainda, eu me sentia livre, pode parecer bobeira para vocês, mas aquela sensação gostosa de estar sem camisa, de poder correr pela sala sem os peitos pulando pra lá e pra cá, era incrível demais, eu me sentia bem comigo mesmo.

Me lembrei também de uma vez que eu estava na calçada andando de skate com meu vizinho Zé Roberto, era de noite já, eu estava com um moletão folgado, não dava para ver direito meus peitos, eu estava de capuz e a luz da rua estava fraca, meu pai voltando do trabalho, logo em seguida entrei também, já estávamos cansados, ouvi meu pai dizendo para minha mãe que havia me confundido com um garoto, como minha mãe não lembra de quase nada de coisas que aconteceram anos atrás, ela não vai lembrar disso, mas eu tenho certeza absoluta que aconteceu, eu me lembro como eu fiquei feliz, o ruim é que eu não podia demonstrar isso para ninguém, pois ninguém iria conseguir entender e eu não saberia explicar, então, é um momento, um breve momento que gosto de guardar dentro de mim, como eu estava feliz naquela noite.

Mas como nem tudo é perfeito, veio os pensamentos ruins também, a maioria são aqueles que já citei nos post por aqui, mas continuei andando, eu tenho certeza absoluta que eu quero isso, mas ninguém entende que é preciso de muita coragem, afinal, vivemos em país que mais mata transexuais no mundo e isso já foi provado!

E lá estava eu, o primeiro da fila, quase me borrando nas calças, mas continuei firme, forte, espantando os pensamentos ruins, pensando em como eu serei feliz...
O problema é que não deu certo, eles me pediram outras documentações, por um lado, sinto que isso é enrolação já que é um procedimento completamente novo e não é todo mundo que aceita isso, mas por outro lado resolvi dar a cara a bater, assim que eu conseguir algumas horinhas fora do trabalho de novo, irei atrás disso, pegarei tudo o que pediram, voltarei naquele cartório e quero ver que desculpa vão dar.

Eu sai daquele cartório tão triste, tão chateado, me sentindo tão derrotado, como se esse país transfóbico tivesse vencido, me dado uma surra e jogado ladeira abaixo, voltei para o carro e parti para o trabalho.

Sei lá, os que sabiam que eu tinha ido tentar, nada falaram.
Esperava que alguém me desse palavras de força, incentivo ou um abraço.
Esperava que alguém me ajudasse a me levantar novamente.

Ninguém.

Então fiz o que sempre faço, meti a cara no trabalho e só saia da mesa pra fumar.
Fiquei quieto, na minha, até terminei de fazer algumas coisas que eu estava enrolando.
Eu esperava que qualquer coisa fosse dita, uma mão estendida.

Ninguém.

7 pessoas sabiam e ninguém disse nada.
Mas não vou ficar me remoendo por isso, bola pra frente.
E mesmo não tendo ninguém ali para me levantar, eu sempre continuarei por perto para levantar os que precisam, isso não muda, mas pelo menos eu já sei que quando algo acontecer novamente, já não esperar que algo seja dito.

Enfim, amiguinhos, fiquem tranquilos.
A guerra ainda não acabou.

Abraços,

Pedro.

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