sábado, 4 de agosto de 2018

Adeus


Boa noite amiguinhos.
Acho que como todos vocês já sabem, hoje, infelizmente, a minha avó morreu.
É muito difícil aceitar isso e também é difícil falar sobre isso, mas eu quero.
Quando não existia o tal do waze ou ainda não tínhamos carro, eu costumava chamar a minha avó de GPS Humano, não havia um único lugar que eu perguntava como eu fazia para chegar lá que ela não sabia responder, era meu GPS humano rs.

As vezes eu chegava em casa e falava: Rutão, cara de bundão!
E ela respondia: Priscilão (sim, ela usava meu nome de batismo) cara de cuzão kkkkkk
Eu tenho milhões de memórias com ela, talvez eu fale sobre elas mais pra frente, quando não doer tanto assim, quem sabe.

Eu fui tão covarde que não fui visita-la no hospital, ela morreu e eu nem me despedi.
Mas, apesar dela não ter realmente ouvido, eu tive um momento sozinho com ela no velório e era tudo o que me restava, então, agarrei a oportunidade sem pensar duas vezes.
Mas antes quero dizer que a música Gomenasai tocou na minha cabela o tempo inteirinho, tentei bloquear ela diversas vezes, mas não dava, até que desisti.


Para quem não conhece a música, pode procurar no google digitando apenas gomenasai, apenas uma ex-dupla da Rússia que cantou, a música inteira fala sobre um pedido de desculpas, sério, a música inteirinha e era exatamente isso que eu precisava.
Os outros voltaram pra casa pra tomar banho e trocar de roupa e eu fiquei lá no velório com ela, claro que fiquei, como eu poderia deixa-la sozinha nesse momento? Nesse último momento?
Então depois que a mulher varreu o chão, acho que ela percebeu que eu queria ficar sozinho com a minha avó e fechou a porta para ninguém incomodar. 

E então? Eu pedi desculpas e a música tocando na cabeça enquanto eu falava com ela.
Pedi desculpas por todas as malcriações.
Pedi desculpas por todas as coisas erradas que fiz.
Pelos momentos que lhe faltei com respeito.
Pedi desculpas por tudo.
Por ter chegado tarde demais.
Por não ter visto os sinais.
Por não ter insistido em ir no médico com ela.
Mas havia um pedido de desculpa especial que eu não podia deixar de lado e acho que Deus sabia que eu precisava muito disso, por isso que ele me deu aquele tempo sozinho com ela.

Pedi desculpas por não ter sido a neta que ela queria que eu fosse.
A mulher que ela queria q eu fosse.
Por não ter conseguido me segurar um pouco mais antes de sair do armário de vez.
Só faltava ela e eu precisava desse momento, precisava muito.
Mesmo ela não me ouvindo mais, eu precisava falar, porque é como a minha prima disse, eu nunca teria tido coragem de falar enquanto ela estava viva, porque no fundo, eu saberia que ela não entenderia, que ela não aceitaria e me apoiaria, eu não podia dar a ela essa tristeza, ela foi minha segunda mãe, eu não poderia de maneira alguma fazer isso, mas eu realmente precisava pedir desculpas, porque ela investiu tanto em mim, tinha tanta esperança e não deu certo.
Talvez ninguém entenda, mas eu pedi desculpas pela pessoa que eu me tornei.
A verdade é que nem o papa falando que a culpa não foi minha, eu vou conseguir acreditar, talvez, depois das fases de luto, eu me livre dessa culpa, mas até lá, eu não consigo.
Para vocês terem uma ideia, toda vez que entro no quarto dela para pegar roupa porque meu guarda roupa esta lá, entro de cabeça baixa e saio o mais breve possível, não consigo olhar para a cama dela ou para as roupas dela, é como enfiar o dedo em uma ferida aberta.
E o tempo todo ficava repetindo na minha cabeça aquele pedaço da música "Desculpe-me por tudo. Desculpe-me, eu te decepcionei."

E o que eu chorei nesse velório, meu Deus, a morte dela me despedaçou inteiro.
E eu não tive medo de ficar ali sozinho, fechado naquela sala com ela, não tive fobia, pelo contrário, fiquei fazendo carinho na testa e no cabelo enquanto pedia desculpa por tudo, peguei em suas mãos também, eu quis arrancar ela do caixão e abraçar bem forte e não soltar mais.
E quando foi chegando a hora de lacrar o caixão, tudo o que eu pensava era: Vamos vó, ainda da tempo, levanta dai, faça algum sinal que eu te ajudo, vamos. E ficava repetindo isso na minha cabeça, repeti no caminho até o cemitério, até no último minuto quando enterraram ela eu ainda falei, vamos vó, ainda da tempo, qualquer sinal, vamos! VAMOS VÓ, POR FAVOR, AINDA DA TEMPO!
E pensei também: Será que ela faleceu mesmo? Não esta em algum sono profundo? Será que posso chacoalhar ela? Não é melhor estender esse velório por mais algumas horas? Ela pode acordar, eu sei que pode... Ela não acordou.
E eu não sei como vai ser daqui pra frente, não estou preocupado com grana e tal, é a saudade que vai apertar, ainda mais na minha mãe que vivia dentro de casa com ela o tempo todo e agora vai ficar sozinha.

Vai doer por um tempo, eu sei.
Mas sei que um dia vamos superar e dar a volta por cima.

É que quem vai ficar atormentando minha mãe porque são 22h e eu ainda não cheguei?
Ou ficar com a TV no último volume falando que é pq a gente fala demais.
Que vai ser meu equilíbrio entre o bem e o mal?
Nunca achei que esse dia chegaria, muito menos que fosse tão rápido assim, mas infelizmente aconteceu e não tem nada q eu possa fazer para mudar isso infelizmente.
Precisamos seguir, doendo ou não precisamos seguir.

Aproveito e deixo aqui meu agradecimento do fundo do coração  por todas as mensagens que recebi, desejando força e fé, foi todos igualmente importante para mim.

Vou encerrar por aqui porque estou despedaçado.
Mas...
Desculpe-me por tudo, vó.
Absolutamente por tudo.
Eu sempre vou amar você.

Pedro.

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