15/05 - Dia do orgulho de ser trans/travesti

Boa tarde amiguinhos.

Todos bem?

Eu espero que sim, de verdade mesmo, pq a situação está horrível.

Enfim, para quem não sabe, hoje, 15 de maio, comemora-se o dia do orgulho trans.

Vocês devem estar se perguntando pq estou falando sobre isso se eu nunca demonstrei ter orgulho.

Primeiro, pq eu tenho orgulho de todos os meus amigos transexuais e travesti. Sério.

Segundo, não é exatamente que eu não tenha orgulho, eu apenas ainda não consegui me aceitar.

Amigos, juro pra vcs, é extremamente difícil, muito mais do que vcs podem imaginar, se aceitar como trans quando vc vem de uma família que passou sua vida inteira falando que toda a comunidade LGBTQI+ independente de qual letra que vc se identifique, só o fato de vc ser, é como o cartão com entrada direta para o inferno.

É ter que ouvir mais de 20 anos que tudo vai dar errado na sua vida, que vc não vai conquistar nada, que sua vida vai ser horrível e esses montes de bostas, sabem?

Depois de quase 30 anos ouvindo essas porcarias, acreditem quando eu digo, por mais que vc tente seguir em frente, cada coisa q vc vai fazer, aquela voz vem na sua cabeça e não cala a boca nunca!

Para cada coisa, para cada passo, não importa, a voz não te deixa.

Por mais que vc tente ser uma pessoa boa, ajudar os outros, amar o próximo, ajudar os mais necessitados, doar sangue, ajudar em tudo o que vc pode, td o q está ao seu alcance, não importa se vc tenha um coração de ouro ou o quanto as pessoas digam que vc é luz, aquela voz não te deixa.

E pra piorar, quando alguma coisa da errado em minha vida, por mais que eu saiba que existe milhões de chances das coisas darem errado ao longo da vida, aquela voz vem e atormenta dizendo que me avisou, que é melhor parar aqui, que não vou muito longe, que vou  morrer cedo, que vou pro inferno, não alcançarei nada, é infernal demais.

São raros os momentos que essa voz não está comigo me atormentando.

Eu não tenho tido sossego, não tenho tido paz, nem tranquilidade.

Minha alma grita por paz.

Existe uma guerra sem fim dentro de mim.

É barulhento demais.

E sabe o que é pior?

Que vc se conforma com isso com o tempo.

É triste, mas é a realidade.

Tipo, ok, estou condenado, mas vou continuar agradecendo a Deus pelas bençãos e proteções. 

Tipo, ok, minha vida financeira é não está do jeito que eu queria que estivesse aos 34 anos, mas vou continuar trabalhando e pagando as contas.

Tipo, minha família hoje em dia não faz mais esses julgamentos, não fala mais essas coisas.
Mas sabe quando é tarde demais?
Meus amigos vivem me falando que sou luz e elogiando, mas sabe quando não da pra acreditar, não pq eu os acho mentirosos, mas pq são palavras que não entram na cabeça? Pois é.
É o que é.
Só sigo em frente, da melhor maneira possível.
Sim, eu consegui trocar meus documentos para meu nome atual.
Não, eu não tomo hormônios, é difícil achar um médico que aceite me acompanhar sendo que eu sou hipertenso, gordo e fumante rs.
E não, eu não fiz a cirurgia da retirada de peitos, acho que não vou fazer tão cedo, pq me digam, como pagar uma cirurgia de quase 20 mil reais e manter as contas em dia? Não dá né rs.
Mas não tem problema, ter conquistado os documentos é muito mais do que eu podia imaginar que alcançaria algum dia.
Sempre q penso sobre aceitar e seguir em frente, lembro-me do meu psiquiatra atual, que disse que se eu aceito as coisas, que devo procurar outro profissional.
Viva sua vida durante 34 anos em um corpo que não te pertence e depois me diga q se vc não acaba se conformando e aceitando, seu idiota!

Desde que me assumi, sempre achei que a minha vida finalmente seria de um mundo só.
Estava errado, não estou reclamando, mas o fato é que minha família ainda não está pronta.
Eles sabem, entendem, mas ainda não conseguem me chamar de Pedro.
De novo: não estou reclamando, jamais, pq como eu disse lá no começo, vendo dizendo esse tempo todo e vou morrer falando isso: Sem pressa, se vcs ñ conseguirem não tem problema.

Eu nunca fui de levar namoradas em casa, na verdade, nunca fui de falar quando estava namorando.
Talvez, não tenho certeza, mas da mesma maneira q vcs não conseguem me chamar de Pedro, não consigo falar sobre a minha vida pessoal com ninguém da família.
É estranho, fica parecendo que só consigo deixar vcs participarem de metade da minha vida.
Sempre gostei quando meus primos começavam a namorar e apresentavam a namorada pra família e a gente ficava enchendo de perguntas e julgando, não q isso seja bonito, mas infelizmente, é de família rs.
Não me vejo fazendo isso, não nessa vida, quem sabe em outra,
Mas tenho aprendido muita coisa nessa vida.
Tenho tentado ser a melhor pessoa possível.
Talvez não seja suficiente, mas vou continuar tentando.

Enfim, peço aos meus amigos transexuais e travesti que continuem firmes e fortes.
Um dia, a humanidade a de entender, que apenas queremos adaptar o sexo do nosso corpo ao sexo da nossa alma e acima de tudo, que isso não é uma escolha.

Muito obrigado.

Pedro Oliveira.