terça-feira, 30 de março de 2021

Sendo trans

 


É complicado ser trans em um país como o Brasil, um país que é um oceano de preconceito.

É complicado ser trans no isolamento da pandemia, quando vc se sente preso.

Lógico que eu lamento muito, do fundo do meu coração e da minha alma, por todas as vidas que perdemos e ainda vamos perder, por todas as pessoas que estão morrendo de fome e perdendo suas casas, mas colocando só um pouquinho esse assunto na pausa, que falarei em outro post, vamos falar de ser trans no isolamento, eu tenho sorte, muita sorte, que eu não tenho uma família que fica me reeprendendo ou tendo preconceito, mas ficar isolado em casa é complicado, porque aqui NINGUÉM me trata como homem, não usam palavras no masculino e nem me chamam de Pedro.

Eu sinceramente não costumava me importar, pq todos os dias eu ia trabalhar, lá eu podia ser eu mesmo, até usar o banheiro masculino, eu podia.

Embora esse isolamento seja para o nosso bem e a nossa sobrevivência, é complicado, pq a mente fica perdida, pesada, confusa, a mente fica com um barulho intolerante, a alma parece que esta presa em uma gaiola, louca para sair de lá, as vezes parece que me falta o ar.

Ai quando sou abençoado, como essa semana, que trabalhei mais 2 dias, consigo respirar, minha alma encontra sossego e paz, mesmo com o prédio quase vazio, ainda consigo me sentir quem eu sou lá e isso é ótimo.

Claro que quero passar esse momento dificil grudado na minha mãe, afinal, eu não sei o que me espera, quanto tempo tenho, mas ao mesmo tempo, quero estar trabalhando também, pra poder respirar, pra poder ser quem eu sou, pra recarregar a energia e claro, pra trabalhar como sempre amei traalhar.

Ah! Quando eu ia pra casa da minha ex namorada também era ótimo, eu tbm podia ser eu lá.

Não podia ficar fumando, mesmo falando que fumar ajuda na minha ansiedade, mas pelo menos ela me tratava como homem, me chamava de Pedro, isso era muito bom, não tenho mais como fugir pra lá, a pandemia tem diminuido muito meus dias na empresa e tudo isso tem dobrado a minha ansiedade.

Eu tenho comido bem mais, consequentemente, tenho engordado mais.

Eu não quero nem imaginar se meu colesterol já beijou as estrelas ou abraçou a lua rs.

Mas eu tenho comido mais e fumado mais. Logo eu que tinha prometido parar.

Eu tenho tentado manter minha mente ocupada, limpando a casa, fazendo coisas que eu achava que não tinha tempo antes, as vezes da certo, mas em dias que acordo com indisposição como hoje, não da para fazer nada, além de ficar discutindo com a minha própria mente.

Também voltei a jogar, não tem sido maravilhoso pq estou sem jogos novos, então não bate aquela andrenalina de jogar até zerar,mas tem me ajudado sim.

Então tentei escrever um livro, fracassei logo em seguida.

Vou me arrastando dia após dia, não estou reclamando, estou desabafando.

Embora eu tenha um medo violento de morrer, ainda mais pq a voz da minha avó não sai da minha cabeça, ela falando que só por ser LGBT já tem passagem direto pro inferno, sendo verdade ou não, apesar disso, amo viver, a vida ainda tem muitos lados bons, então espero, de coração, alma e com esperança, que de tempo de eu e minha mãe se vacinar e a gente sobreviver a essa doença mortal.

Espero que minha mente sobreviva a esses tratamentos femininos dentro de casa, até pq sei que eles não fazem de proposito, não se esforçam, mas tbm não é exatamente proposital, não sei explicar, eu entendo, respeito, mas não sei explicar, não mesmo.

Mas vida que segue, um dia, sereremos pássaros livres da gaiola novamente.

Pedro.

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